Há, nos Estados Unidos, uma lei que prevê a adição de 5% de álcool anidro à gasolina, com o objetivo de reduzir a poluição. Somente para atingir esses 5% seriam necessários 28 bilhões de litros de álcool.
Ocorre que eles não têm como produzir esse volume, que é duas vezes a produção do nosso Pró-Álcool, além do que o produto norte-americano é proveniente do milho, cujo custo é muito alto. Com a recente decisão da transposição do Rio São Francisco, o Brasil poderia ser a solução, implantando um Pró-Álcool para os EUA no Nordeste. O mais difícil para desenvolver uma região é ter um produto com garantia de mercado, e isso o álcool já tem. É só produzir.
Circulam nos Estados Unidos mais de 150 milhões de automóveis, principais responsáveis pelo elevado grau de poluição nas grandes cidades, em especial em centros como Los Angeles, Nova Iorque, Chicago, Houston, Filadélfia e Detroit. A questão ambiental tem sido uma grande preocupação dos norte-americanos.
Em 1993, foi editada uma lei nos EUA com o intuito de estimular a produção de álcool anidro para ser misturado à gasolina. Essa lei praticamente não vingou, uma vez que a única alternativa que eles têm para produzir álcool é utilizando o milho, cereal nobre, cujo principal destino é para a fabricação de ração animal. Embora a produção americana de milho ultrapasse 270 milhões de toneladas, esse colossal volume serve apenas para cobrir a demanda interna de ração e as exportações. Em outras palavras, é muito difícil que eles possam vir a ter condições de produzir álcool de milho suficiente para atender a demanda, que é de 28 bilhões de litros de álcool, apenas para adicionar os 5% à gasolina.
Ora, a produção do Pró-Álcool brasileiro é de aproximadamente 15 bilhões de litros, o que significa dizer que para atender à necessidade norte-americana haveria a necessidade de dobrar a produção.
Há apenas um grande entrave, de relativamente fácil solução, para que essa idéia vingue: o imposto de importação de US$ 0,13 por litro de álcool que entra nos EUA. Há necessidade de gestão do governo brasileiro para a total eliminação desse imposto, sob pena de inviabilizar a presente proposta.
Caso esse pedido não seja aceito, então o nosso governo deveria "investir" 1 milhão de dólares em marketing nos quatro grandes canais de televisão norte-americanos: ABC, CBS, NBC e CNN. Nessa propaganda, seria necessário apenas mostrar o seguinte: o Brasil tem a solução para o problema de poluição do automóvel nos EUA. Basta que você, cidadão americano, pressione o seu governo e o seu Congresso.
Considerando-se o Nordeste brasileiro como uma região que necessita especial atenção para ser desenvolvida; adequada para o cultivo da cana, e com maior proximidade com os EUA, o que lhe confere vantagem para exportação; pode-se dizer que esta região seria ideal para implantarmos um programa de cultivo da cana para a produção de álcool anidro especialmente para ser misturado à gasolina nos EUA.
É claro que estamos falando do plantio de cana com irrigação (via transposição do Rio São Francisco, cujo custo é de cerca de 4 bilhões de reais), com alta tecnologia, o que não é segredo para os brasileiros. Para evitarmos o surgimento de "reis da cana", esse projeto não deveria financiar o plantio individual de mais de 50 hectares, o que garantiria o caráter econômico e social do programa, e desenvolveria o NoJudas Tadeu Grassi Mendesrdeste.
É importante lembrar que um programa desse mudaria a mentalidade do nordestino, recuperaria as terras da região e tornaria aquela área brasileira um importante centro de confinamento de gado, pois o bagaço já é conhecido como uma excepcional opção de ração animal.
A produção de álcool para os americanos no Nordeste seria um tentativa de solução para dois problemas: o da questão ambiental norte-americana e o do desenvolvimento nordestino. Desse modo, o nosso Nordeste poderia vir a ser como a Califórnia, que, mesmo no deserto, exporta alguns bilhões de dólares com frutas produzidas à base de irrigação.
O mais difícil já resolvido, que é o fato de o álcool ser um produto com mercado já garantido, é só produzir. Essa idéia precisa chegar ao nordestino-presidente Lula e demais responsáveis pelos destinos deste país. Afinal, ainda vale acreditar em Olavo Bilac quando afirmou: "Criança, não verás nenhum país como este".
jmendes@fae.edu
Judas Tadeu Grassi Mendes é Ph.D. e pós-doutor em Economia e Agribusiness pela Ohio State University, professor universitário e pró-reitor acadêmico da FAE Business School Centro Universitário.