A retirada israelense da Faixa de Gaza, ocupada desde 1967 e povoada por colonos de Israel após 1969, representa um passo importante para a redução do conflito entre judeus e palestinos, contribuindo ainda para pacificar o Oriente Médio afetado por tensões históricas entre nações ocidentais e povos islâmicos. O trabalho começa oficialmente hoje, mas os preparativos ocorrem há semanas culminando um processo de aceitação da nova liderança palestina por parte do governo de Israel, que facilitam a retomada do "caminho para a paz".
Essa aproximação foi tornada possível após o desaparecimento do líder histórico do movimento palestino, Iasser Arafat. Os israelenses se recusavam a dialogar com Arafat por considerá-lo adepto de uma linha baseada na violência das "intifadas" a resistência armada por grupos radicais que apelavam para o terrorismo como via para retomar a autonomia perdida após a partilha de 1948. A operação é tão importante que a secretaria de Estado americana, Condoleezza Rice, foi ao Oriente Médio apoiar a manutenção do calendário de retirada israelense.
É que o governo Bush enxerga na ação do primeiro-ministro Ariel Sharon um gesto fundamental para pacificar uma região-berço de tensões que afetam o mundo inteiro. Além da Faixa de Gaza, as forças de Israel retirarão colonos de partes da Cisjordânia, ocupada após o ciclo de guerras das décadas de 1960 e 70. Ao devolver a jurisdição desses enclaves, o Estado de Israel, doutro lado, reconhece a realidade geopolítica de quanto é complexo proteger pouco mais de 8 mil colonos num território habitado por mais de 1 milhão de palestinos.
Numa avaliação mais ampla, o governo israelense de Sharon tem responsabilidade na remoção das colônias instaladas em território ocupado, porque tais ampliações foram conduzidas sob estímulo do partido direitista liderado pelo primeiro-ministro. As tensões internas em Israel, desencadeadas pelo anúncio da retirada, contudo, foram tão fortes que a coalizão direitista rachou, forçando um novo arranjo político em que o líder trabalhista Simon Peres se juntou ao governo Sharon como vice-primeiro-ministro.
Doutro lado, o novo governo palestino de Abu Mazem foi exortado a se empenhar na contenção de seus radicais, sob pena de ter perder o apoio internacional que lhe cercou a escolha como sucessor de Arafat. Nessa linha, a Autoridade Palestina postou milhares de policiais nas ruas, para conter os movimentos radicais, evitando que os guerrilheiros do Hamas e outros grupos ataquem israelenses em retirada o que colocaria sob risco o entendimento entre os dois povos.
O cenário do Oriente Médio ainda envolve tensões no Iraque e Afeganistão, onde os novos governos instalados após a intervenção ocidental liderada pelos Estados Unidos não reuniram meios de consolidação. Tais problemas se desdobram em muitos níveis, alimentando um enfrentamento entre povos islâmicos e nações ocidentais examinado, entre outros, pelo pensador Samuel Huntington, com sua tese sobre "o choque de civilizações". Para o professor Huntington, o islamismo presente no grande arco geográfico que vai do Norte da África, passando pelo Crescente Fértil, até a franja chinesa, confronta governos tão diversos como os da Rússia, da Tailândia e da Indonésia além dos ocidentais, que mantêm relações com o Oriente muçulmano.
O aspecto imediato dessa situação é a esperada assinatura de uma Constituição para o Iraque, prometida para hoje e a elevação da tensão com o Irã, após o anúncio da retomada das operações nucleares por esse país. No primeiro caso, a Casa Branca torce pela estabilização do governo provisório instalado em Bagdá, que permitiria um progresso desengajamento da força militar ocidental ali empregada cujas baixas causam inquietação na opinião pública dos Estados Unidos. No Irã, o regime fundamentalista dos aiatolás vai num crescendo de isolamento que requer difíceis estratégias de contenção por parte das lideranças ocidentais.
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