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Há uma expressão popular – viver a vida – que pode evidenciar grandes realizações, bem como tropeços na existência de alguém. A reflexão científica desde sempre tem-se preocupado com uma definição precisa do conceito de Vida.

Vida significa, primariamente, como atividade vital, uma ação interna "para dentro, imanente", em oposição à ação externa, "para fora, transeunte", dirigida unicamente a produzir ou modificar outras coisas, que convém igualmente aos seres inanimados. Impossível compreender a origem da vida pelas forças da matéria, mas só pela imediata intervenção de Deus ela se torna realidade. Portanto, a vida é dom de Deus. A vitalidade, isto é, a capacidade de alguém realizar alguma coisa, entra na expressão "viver a vida" ou realizando ações nobres ou levando ao ridículo o dom divino da vida.

Sabemos que a duração da vida é limitada: 70 anos, 80 (Salmo 89), 100. Conforme o Livro da Sabedoria, "Deus criou o homem para a imortalidade e o fez imagem de sua própria eternidade" (Sab 2, 23). Convicção essa que em Gênesis 2 é apresentada em forma figurada, sob a antiga imagem oriental da árvore da vida. O primeiro casal, no jardim do Éden, poderia ter assegurado para si a vida eterna, comendo sempre o fruto da árvore da vida (3, 22). Por causa de seu pecado, porém, o acesso à árvore da vida lhes foi vedado (3, 24) e assim a morte tornou-se inevitável para o homem. Seguindo-se, daí, a diminuição gradativa da duração da vida humana: de Adão até Noé, 900 a 700 anos (Gen. 5); de Sem até Taré, 500 a 200 anos (Gen 11, 10-32); de Abraão até Jacó, 200 a 100 anos (Gen 25, 7.17; 36, 28; 47, 9), diminuição essa que, na concepção da teologia javista, sem dúvida, era uma conseqüência do aumento do pecado. Há, porém, na Bíblia uma visão idealista que vê na velhice uma gloriosa coroa (Prov. 16, 31) e admira a sua experiência (Ecle. 25, 6), sabedoria e compreensão (Jó 12, 13; 15, 9ss; Ecle 24, 4s) e seus vastos conhecimentos (Jó 8, 18ss). Por isso Daniel (7, 9) não exita em apresentar Deus, por causa de sua existência desde toda a eternidade, como um "ancião" e (Prov. 16, 21) ousa chamar a velhice uma bela recompensa, encontrando o seu lugar no quadro de sua felicidade escatológica, no final dos tempos. Diante dessa limitação da vida, busca-se, normalmente, o "viver a vida", isto é, seria o buscar entranhar-se na vida. De onde vem a "filosofia da vida". Por ela entende-se, no viver cotidiano, a concepção ou sabedoria da vida, que serve para estruturá-la praticamente, tudo, porém, dentro da ética e não na destruição estóica dos valores morais.

O Papa João Paulo II, de gloriosa memória, em sua "Carta aos Anciãos", de 1.º de outubro de 1999, faz a pergunta: "O que é a velhice?" E responde: "Às vezes fala-se dela como do outono da vida, assim como fazia Cícero (Cf. Cato maior seu De Senectude, 19, 70), seguindo da natureza." Busquemos, pois, a força para o nosso "viver a Vida" na oração do Salmista: "Ensinai-nos a contar os nossos dias, para que guiemos o nosso coração na sabedoria" (Sal 89, 12). E a Sagrada Escritura conserva uma visão muito positiva do valor da vida, lembrando-nos termos sido criados à "imagem de Deus" (Gn 1, 26). Felizes seremos se soubermos, assim, valorizar nossa vida – dom de Deus –, caminhando para a eternidade, já que o Bom Deus supre a nossa insuficiência humana. Saibamos "viver a vida" à luz dos olhos de Deus.

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