Seis a cada dez crianças até os 5 anos de idade incompletos não tomaram a vacina do sarampo no Paraná. Os dados, muito distantes da meta de 95% de imunização preconizada pelo Ministério da Saúde (MS), não diferem muito dos índices nacionais e geram preocupação.
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Isso porque a baixa cobertura vacinal para sarampo expõe a população a uma das doenças infectocontagiosas mais transmissíveis existentes. “Um infectado pode transmitir para até 20 pessoas. Uuma baixa cobertura para uma doença grave e que pode causar morte acaba levando todos a um risco desnecessário, por se tratar de uma doença imunoprevenível”, diz o infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Júnior, vice diretor-técnico do Hospital Pequeno Príncipe.
No Paraná, das 692 mil crianças estimadas elegíveis para a vacina, somente 260 mil foram, até o momento, imunizadas. Quando se somam os profissionais de saúde que também deveriam ter a vacina, tem-se que apenas 29% da meta foi atingida. No ano passado, a cobertura vacinal do Paraná para o sarampo ficou em 82,45%, abaixo da meta.
Estes números já contabilizam uma semana adicional à campanha de vacinação, devidamente adiada pelo MS por três semanas, após chegar ao fim em 3 de junho. A data final para atingir a meta agora é 24 de junho, com o s promoção de um Dia D de imunização pelo governo estadual neste sábado (11).
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), a queda nas coberturas vacinais, a liberação de viagens dentro do país e no exterior e maior contato entre a população podem propiciar a transmissão do vírus do sarampo. “Pessoas com viagens nacionais ou internacionais programadas devem estar imunizadas contra a doença. Quem poderá conviver com imigrantes, visitantes estrangeiros ou refugiados também deve ter esse cuidado”, informou a secretaria recentemente. A vacina do sarampo tem sido aplicada junto com a que protege contra os subtipos da Influenza A (H1N1 e H3N2) e um subtipo da Influenza B.
Quem pode manifestar quadros mais graves da doença
As crianças mais frágeis são as que podem vir a sofrer em caso de contraírem a doença, visto que, segundo Costa Júnior, “imunossuprimidos, sejam por desnutrição, sejam por usar medicação imunossupressora ou por portarem uma doença grave, ficam mais expostos às manifestações mais graves da doença, como as encefalites causadas pelo vírus”.
Além dessa complicação gravíssima, chamada de panencefalite esclerosante aguda, o sarampo pode causar febre alta, manchas avermelhadas pelo corpo, conjuntivite, muita dor muscular, miocardite transitória, otite média aguda, coriza e bastante tosse.
A transmissão do vírus ocorre por secreções expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar próximo às pessoas sem imunidade contra o sarampo. O contágio também ocorre por aerossóis com partículas virais no ar, em ambientes fechados como escolas, creches e clínicas.
A vacina não impede a transmissão do vírus, segundo o infectologista pediátrico, por este motivo a importância da cobertura vacinal alta, visto que alguém vacinado, mas com o vírus e sem desenvolver a doença, pode transmitir o sarampo para quem não estiver imunizado.
“A vacina do sarampo é feita, prioritariamente, no primeiro ano de vida, com reforço com 1 ano e 3 meses, pelo calendário da Sociedade Brasileira de Pediatria. Pelo calendário do Ministério da Saúde, você faz a primeira dose da tríplice com 1 ano, a segunda dose da tríplice com 1 ano e 3 meses, e o reforço da varicela de 4 a 6 anos. Em adultos, uma só é suficiente”, diz Costa Júnior.
A pessoa que não recebeu a vacina ou não lembra de ter sido vacinada contra a doença deve procurar a imunização, reforça o profissional.
Retorno do sarampo após décadas
O Paraná ficou por mais de 20 anos sem detectar casos de sarampo até que, em 2019, houve um surto da doença, com 1.653 casos. Em 202, outros 428 casos. Em ambos os anos não ocorreram óbitos no estado. Depois disso, o Paraná não registrou novos casos da doença.
O surto de 2019, com capilaridade nacional, fez o Brasil perder a certificação de eliminação do vírus recebida três anos antes. Foram mais de 20 mil casos da doença confirmados naquele ano no território nacional, 8 mil em 2020 e, em 2021, 676 casos. Em 2022, são 578 notificações de casos suspeitos até agora, sendo 19 confirmados, 217 em investigação e 342 descartados.
Os casos confirmados neste ano, no Brasil, se localizam majoritariamente no Amapá, mas também em São Paulo, sem óbitos, segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, publicado em maio. Em 2021, dois óbitos foram registrados no país, de bebês menores de um ano de idade, também no Amapá.
Neste ano, 26 municípios paranaenses já solicitaram exames laboratoriais de IgM reagente para o diagnóstico do sarampo, sendo que em quatro deles houve positividade no teste, somando cinco casos suspeitos. Porém, os resultados ainda devem ser investigados para que se confirme o diagnóstico.
Outras vacinas também estão em baixa no Paraná
Além da baixa imunização contra o sarampo, o governo estadual enfrenta redução na adesão a imunizações de rotina (dez vacinas) e a outras campanhas vigentes (Covid-19 e Influenza). Segundo o secretário estadual de Saúde, César Neves, “historicamente, a população paranaense aderiu às campanhas de vacinação, mas com a chegada da Covid-19 e principalmente as fake news, as coberturas vacinais têm diminuído e isso é extremamente perigoso”, alertou ele, que ressaltou que, sem a imunização, a população fica mais suscetível à contaminação e consequente disseminação das infecções.
As dez vacinas de rotina (BCG, Febre Amarela, Hepatite A, Hepatite B, Meningocócica, Pentavalente, Pneumocóccica, Poliomielite, Rotavírus Humano e Tríplice Viral) também estão com coberturas abaixo do necessário. O imunizante que previne contra a hepatite B, por exemplo, fechou o último ano com apenas 57,18% de adesão, sendo a vacina com procura mais baixa, seguida pela da febre amarela, com 71,38%, e BCG, com 77,23%.
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