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Afundamento BR-277
Rachadura no km 33,5 da BR-277 provoca interdição da via no sentido litoral.| Foto: Divulgação/PRF

O afundamento do asfalto no km 33,5 da BR-277, na noite desta terça-feira (7), reflete um problema histórico e já tecnicamente anunciado. É o que afirma o geólogo Abdel Hach, professor do curso de engenharia civil da UniCuritiba e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR). O fenômeno, já registrado há alguns anos neste mesmo trecho da rodovia, evidencia uma vulnerabilidade na relação entre eventos naturais versus infraestrutura e esbarra na ausência de políticas públicas de planejamento, execução e monitoramento da rodovia, segundo o especialista.

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“A reconstrução do trecho deve demorar meses. Estamos com um problema muito sério para a economia o estado”, resume o geólogo. A conclusão vem depois de tempos conturbados na mesma estrada, que finalmente caminhava para a finalização das obras entre os kms 39 e 42, decorrentes do desmoronamento de barreira ocorrido em outubro do ano passado. E o problema se soma, agora, à temporada de descida da maior parte da safra de soja do interior do Paraná para o Porto de Paranaguá, ao longo das próximas semanas.

A região do km 33 já registrou afundamento semelhante, na pista sentido litoral-Curitiba, na década de 70. É uma região que vive problemáticas geológicas naturais, que englobam a linha que vem da BR-376, encontra a BR-277 e chega à BR-116. “Esse problema (o afundamento) foi deflagrado agora, mas isso não acontece do nada. Há indicativos de monitoramento que vêm há tempo, ou seja, dava para prever que isso iria acontecer. Já tem rachaduras, fissuras, avisamos que ia afundar a rodovia”, alerta o professor.

Tecnicamente, fenômenos como o afundamento do pavimento na BR-277 acontecem porque a rodovia possui uma estrutura que imita a compactação natural do solo. Mas, como qualquer estrutura artificial, não é perfeita. Uma das preocupações para a compactação é como ela vai “lidar” com a infiltração da água. “Ela (a água) tem três movimentos: escoamento, infiltração e percolação da água no solo. Ela vai caminhando, e nunca em linha reta, procurando o caminho mais fácil. Quanto mais concentrada, mais feroz a água fica dentro do solo”, explica Hach.

Neste caminho, a água leva com ela os elementos finos que fazem a liga da compactação da rodovia e, consequentemente, dão sustento a ela. “E com a pressão sobre a rodovia, isso começa a rasgar o asfalto, poque a tensão do peso que tem sobre ele é maior que o esforço que o liga”, complementa. O resultado são rachaduras, que começam a se abrir e dão indicativos de que, com o tempo, o problema vai estourar. “Elas não são feitas de um dia para o outro. Foi avisado que ia acontecer e as consequências vêm agora.”

Para o geólogo, um claro problema de monitoramento e falta de manutenção, que só poderá ser sanado com a reconstrução da rodovia no trecho. “Estamos agora na fase crítica porque a rodovia perdeu sustentação pela erosão interna. Vai ser preciso refazer o leito e o subleito (fundação da estrada)”, estima.

obras de desvio na BR-277
Dnit faz obras para implantar desvio nas proximidades do km 33 da BR-277| Divulgação/PRF

Natureza versus políticas públicas

Neste mês de março a BR-277 completa 54 anos, sofrendo questões que não são novidade. E, dado o histórico da estrada e as características geológicas, somados à importância que tem para a economia do Estado, trata-se de uma rodovia que demanda planejamento, com monitoramento e manutenções periódicos. “É necessário um guarda-chuva de políticas públicas sérias. Quando a natureza avisa que vai acontecer e ninguém dá bola, percebe-se que não temos isso”, resume Hach.

A isso soma-se a espera pela resolução sobre as concessões das rodovias paranaenses. Desde que os contratos com as concessionárias venceram, em novembro de 2021, a rodovia está sob a alçada do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Há 4 meses, quando os deslizamentos de terra entre os kms 39 e 42 aconteceram, o governo federal alegou falta de recursos para dar conta das obras em sua totalidade e firmou um acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) para que o estado assumisse a manutenção de parte do trecho. O imbróglio atrasou o início das obras em pelo menos um mês.

Enquanto isso, o processo para iniciar a licitação das novas concessões aguarda a resolução de questões políticas. Na última semana, o ministro dos Transportes, Renan Filho, cancelou agenda anunciada publicamente pelo governo do Paraná para assinatura da delegação de concessão das rodovias ao governo federal em Curitiba. E nesta segunda-feira (6), integrantes da Frente Parlamentar do Pedágio na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) foram à Casa Civil, em Brasília, pedir alterações no modelo proposto pelo governo do Paraná, sob argumento de conseguir tarifas mais baixas. Tudo isso em um momento em que se discute o futuro das atividades da Frente Parlamentar na casa.

Situação na BR-277

Na tarde desta quarta (8), o Governo Federal, por meio Ministério dos Transportes, anunciou a liberação de R$ 439 milhões para obras de manutenção e recuperação de rodovias federais que cortam o Paraná, a ser executado pelo Dnit. O trecho interditado da BR-277 está incluído no montante.

Após análises realizadas por geólogos e engenheiros do departamento, o local que sofreu afundamento na BR-277 segue totalmente bloqueado, sem previsão de liberação. Com isso, a pista que conecta Curitiba ao litoral do Estado fica com tráfego interrompido. O Dnit está construindo um desvio no local.

Segundo o órgão, as duas faixas da rodovia, à direita, continuarão interditadas até a devida intervenção futura pelo departamento, conforme orientado por laudo geológico. O Dnit pretende liberar o tráfego em meia pista, em ambos os sentidos, a partir das 19h desta quarta.

Enquanto o desvio não estiver operacionalizado, o sentido litoral permanece interditado, na altura da antiga praça de pedágio, no km 60, em São José dos Pinhais. A orientação é que os motoristas reprogramem suas viagens. O acostamento não pode ser utilizado para aguardar a liberação.

As rotas alternativas indicadas são a Estrada da Graciosa, para veículos de passeio, e a BR-376 até o ferryboat em Guaratuba, para veículos pesados com peso máximo de 26 toneladas. Lembrando que Estrada da Graciosa também segue em obras emergenciais em decorrência de deslizamentos. A rodovia conta com operação pare-e-siga em dois pontos, entre o km 7 e km 8, e entre o km 11 e km 12, com somente uma faixa liberada.

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