Representantes do setor produtivo ligados ao agro brasileiro fizeram um apelo na quarta-feira (7) ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Carlos Fávaro, durante visita ao Show Rural em Cascavel (PR), ao alertar que o setor enfrenta uma “condição perversa” com cenário de quebra de safra somada à queda dos preços. Apesar do pedido de socorro, Fávaro descarta a possibilidade de uma ajuda imediata ou prorrogações de dívidas.
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O secretário de Agricultura e Abastecimento do Paraná, que também é presidente do Conselho dos Secretários de Agricultura do País, Norberto Ortigara, lembra que a consolidação dos dados foi apresentada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta quinta-feira (8) e adiantou que em alguns estados, como no Paraná, as perdas estão confirmadas.
No estado, a quebra já é de 3,4 milhões de toneladas dos quais 2,8 milhões de toneladas correspondem apenas à soja. O estado é o segundo maior produtor do cereal no país, com perspectiva atualizada de colher 21 milhões de toneladas, atrás do Mato Grosso que deve colher 35 milhões de toneladas.
“O momento que passamos é delicado, sei que o senhor [ministro da Agricultura] trata com carinho a crise que estamos passando, com uma combinação um pouco perversa de perdas de safras e preços em queda. Esse é um assunto que a gente trata com carinho, técnica e jeito. Sei que a gente vai articular uma saída honrosa”, pediu o secretário estadual ao lembrar da situação do agro ao ministro do governo Lula.
Fávaro, no entanto, respondeu que o momento não é para se falar em crise e afirmou que não há socorro emergencial previsto para os produtores neste momento. “Não podemos tratar este momento como crise, mas de atenção, porque apesar de em algumas localidades termos quebras significativas de produção por conta das intempéries climáticas, outras regiões do Brasil, como o Rio Grande do Sul vai suprir com acréscimo de 10 milhões de toneladas [a produção de soja]. A Argentina terá 20 milhões de toneladas a mais que no ano passado, no balaço total, teremos 15 milhões de toneladas de soja a mais no mercado”, minimiza.
Fávaro reconhece que o custo de produção não chegou a “patamares aceitáveis”, mas disse esperar que isso ocorra o mais breve possível, na próxima safra. Questionado sobre as perdas que ultrapassam 20% em algumas regiões, o ministro disse apenas que “o governo determinou a criação do maior plano safra da história, com linhas de crédito alternativas com juros competitivos”, sem apontar medidas práticas para superação da crise.
“A mensagem aos produtores que tiverem problemas é que tenham a compreensão que o governo federal está atento, fazendo os cálculos e estamos ao lado do produtor para superar esse momento difícil, sem que haja recuperações judiciais, inadimplência e juros de mora. Na hora certa e na medida certa, vamos dar as respostas”, desconversou.
Produtores próximos de pedir securitização com quebra de safra
O presidente do Sindicato Rural Patronal de Cascavel, Paulo Orso, alerta que os produtores entraram em 2024 rodeados pelos desafios que se potencializam, conforme as perdas avançam. Mais da metade das lavouras de soja foram colhidas na região e Orso lembra que a quebra varia de 25% a 30% no oeste do Paraná, onde há um milhão de hectares cultivados com a oleaginosa em pequenas propriedades rurais.
“Esse também é o cenário em outras regiões do estado. A situação é muito difícil, crítica e preocupante porque os preços das commodities não reagem. Esperávamos a saca de soja ao menos em R$ 130, mas não chega. Estamos ao ponto de pedir securitização. É lamentável”, desabafa.
Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Paraná, as perdas no estado ocorrem em decorrência das temperaturas extremamente elevadas nos meses de dezembro e janeiro, somado à falta de chuva no período onde a precipitação é fundamental para o desenvolvimento das lavouras como soja e milho.
Secretário Nacional diz que “não se pode bagunçar o mercado instalando o caos”
Apesar do alerta no campo, o governo federal não sinaliza para uma possível renegociação de dívidas dos produtores rurais. O secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller, disse que o governo está atento, mas descarta quaisquer políticas de socorro ou de renegociações de dívidas. “Cautela. Não vamos sair atirando para todo lado, a colheita ainda está no começo, nós vamos acompanhar. Estive no Rio Grande do Sul, no Paraná, estamos vendo o que precisamos fazer, ver como será a quebra, vamos entrar no momento certo, com cautela”, pondera.
Para Geller, o produtor teve boa rentabilidade nos últimos quatro anos e que, diante dos fatos, “não se pode bagunçar o mercado instalando o caos”. “Isso estimula até reparação judicial, isso cria instabilidade para o setor financeiro e é ruim para o setor. Vamos sinalizar e fazer, se necessário for, mas não vai ser neste momento”, disse o secretário de Política Agrícola, repetindo o tomo cauteloso.
Na avaliação dele, é preciso “deixar o mercado se ajustar” e esperar pois existem limitações orçamentárias para renegociação. "Por exemplo, o investimento com taxa de juro equalizada neste ano é de R$ 29 bilhões, se a gente abrir a linha e renegociar vai dar quase R$ 2 bilhões de equalização e esse montante vai sair do Plano da próxima safra [24/25]. Vai faltar dinheiro lá. Então, vamos com calma, criar critérios e se necessário for, nós vamos fazer, mas não de forma aleatória”, promete.
Até o início do mês de janeiro, o Brasil já havia perdido, com base na projeção nacional da Conab, 11 milhões de toneladas baixando a produção estimada para 306,4 milhões. No início do ciclo, se esperava colher 317,5 milhões de toneladas.
No novo levantamento divulgado nesta quinta-feira (8) a projeção de safra baixou para 299,8 milhões de toneladas, volume 6,3% inferior ao obtido na safra passada, o que representa 20,1 milhões de toneladas de perdas. “Quando comparada com a primeira estimativa desta safra feita pela Conab, a atual projeção apresenta uma diminuição de 17,7 milhões de toneladas”, informa a Conab.
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