O valor das exportações brasileiras cresceu 19,1% em 2022, tendo como motivador o crescimento no superávit da agropecuária. As restrições da oferta agrícola, associada à guerra na Ucrânia e questões climáticas, elevaram os preços do setor, beneficiando as exportações de itens como a carne de frango - que pela primeira vez ultrapassou a soja em grão na balança comercial do Paraná e, no Brasil, bateu recorde histórico em exportações.
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O ligeiro aumento do superávit comercial brasileiro no ano passado - US$ 61,8 bilhões, contra US$ 61,4 bilhões registrados em 2021 – destacou um desempenho positivo da agropecuária, atribuído principalmente aos preços, que cresceram 34%. Em volume, o aumento foi de 2,6%.
O agro brasileiro se destacou em vendas para a China, especialmente nos últimos dois meses do ano passado, com relaxamento dos embargos à carne por conta da Covid-19. E, com isso, o saldo comercial da agropecuária passou de US$ 46,5 bilhões para US$ 65,8 bilhões entre 2021 e 2022 – ao passo em que a indústria extrativa registrou queda no superávit e a de transformação ampliou o déficit que já vinha registrando nos últimos anos. Daí o crescimento no superávit da agropecuária ser o grande motivador da balança comercial no último ano.
Os dados são de relatório do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), no Indicador de Comércio Externo (Icomex).
Carne de frango
O desempenho da agropecuária na balança comercial brasileira refletiu as mudanças que ocorreram durante o último ano na produção do Paraná, terceiro maior exportador do agronegócio brasileiro, segundo a Agrostat - serviço de Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro.
A carne de frango in natura ganhou destaque entre os produtos paranaenses mais vendidos para o exterior, com alta de 31,72% nas exportações (de US$ 2,7 bilhões para US$ 3,6 bilhões). A participação de aves no comércio internacional aumentou de 14,5% para 16,5%, sendo os principais compradores da carne de frango in natura do estado a China (US$ 776 milhões), os Emirados Árabes Unidos (US$ 334 milhões) e o Japão (US$ 274 milhões). O levantamento é do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), a partir de dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia.
O aumento da participação do frango nas exportações, no entanto, segue tendência nacional. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as exportações brasileiras de carne de frango, in natura e processada, chegaram a 4,8 milhões de toneladas em 2022, recorde histórico que superou em 4,6% o total exportado em 2021 (4,6 milhões). A receita em dólares obtida com as exportações alcançou US$ 9,7 bilhões, 27,4% a mais que o resultado de 2021, que foi de US$ 7,6 bilhões. Entre os fatores contribuintes para o aumento estariam não apenas os conflitos no leste europeu e o aumento dos custos na produção da União Europeia, mas, também, o fato de o Brasil ser área livre de influenza aviária, na análise da associação.
Mas, a despeito do aumento da participação de frango no mercado externo, o levantamento do Instituto de Economia da FGV aponta que o item de proteína animal que ganhou mais destaque nas exportações brasileiras e foi o grande destaque do crescimento no superávit da agropecuária em 2022 foi a carne bovina, com aumento de 81%, passando a ocupar o quarto lugar entre todos os produtos exportados pelo Brasil.
À frente da soja
No Paraná, a carne de frango ultrapassou a soja em grão, que costumava liderar a lista, mas no ano passado registrou queda com a perda de safra por conta da estiagem. A queda de participação da commodity no mercado internacional caiu de 24,5% em 2021 para 13,6% em 2022. Em valores, a variação foi de R$ 4,6 bilhões para R$ 2,9 bilhões e os principais compradores foram China (US$ 2,4 bilhões), Coreia do Sul (US$ 104 milhões) e Irã (US$ 99 milhões).
Atrás dos itens frango e soja em grão, lideraram as exportações do Paraná o farelo de soja, açúcar bruto, óleo de soja bruto, papel, cereais e celulose. A soma das exportações totais foi de US$ 22,1 bilhões.
Previsões para as principais commodities
A Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná prevê que a produção de carne de frango deve crescer em 2023. “Nos próximos 12 meses, algumas plantas que estavam paradas vão começar a operar, e também serão feitos ajustes de abates por parte de algumas empresas”, antecipa o secretário Norberto Ortigara.
Há também expectativa de alta na exportação do complexo de soja. “Esperamos produzir acima de 21 milhões de toneladas de soja. A safra está ligeiramente atrasada, houve frio e chuva em setembro e outubro, o que prejudicou os processos de grãos, mas a perspectiva é que teremos uma safra bem boa”, complementa o economista Francisco Castro, do Ipardes.
Cenário nacional
Nacionalmente, o FGV/Ibre prevê que o saldo comercial de 2023 deverá ser menor que o de 2022. As projeções sinalizam para um menor crescimento da economia mundial e de uma taxa de crescimento do Brasil abaixo de 1%. “Exportações menores e importações menores seriam esperadas. Os preços agrícolas não devem acelerar com o fim do efeito das secas e substituição das fontes de grãos da Ucrânia e da Rússia, o que significa que a melhora das exportações irá depender mais do volume exportado”, aponta o relatório do instituto.
No entanto, o crescimento no superávit da agropecuária ano passado sinaliza que o setor deve ir na contramão da tendência. “O resultado para as importações de bens de capital em volume da agropecuária - aumento de 54,2% - revela que o setor espera um melhor resultado para 2023 em termos de valor adicionado, o que é compatível com as projeções de um aumento de safra em 2023 em relação a 2022”, segundo análise do instituto.
A grande incógnita seria o efeito China. Com o relaxamento da política covid zero, é esperada uma retomada para um crescimento econômico ao redor de 5%. No entanto, ainda estão incertos o efeito dessa política e se poderá ser mantida, apura o relatório.
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