Proteger o ninho, a cidade. Este é o significado etimológico da palavra própolis, e também faz parte do discurso de boas-vindas da apicultora Dora Sommer a quem vai até a loja da fábrica de mel e derivados da Apisommer no bairro Pilarzinho, em Curitiba. Pelas propriedades antimicrobianas, a própolis protege a colmeia contra invasores, e esse é o mesmo princípio que auxilia na imunidade dos seres humanos. Por essa razão, a demanda pelo produto aumentou muito nesta época de pandemia.
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No momento não há estudos que mostrem o efeito da própolis sobre o coronavírus ou pacientes acometidos de Covid-19, mas há pesquisas em andamento. Independentemente disso, logo que teve início o isolamento social, em março, a procura pelo produto disparou por parte de pessoas buscando o bem-estar com as opções disponíveis. Classificada como alimento, a própolis costumava ser facilmente encontrada em cerealistas e lojas de produtos naturais, além de farmácias.
A escassez, porém, já não é novidade. Em dois dias, a Casa do Mel, em Ortigueira, vendeu 1,3 mil frascos de própolis, para uma comercialização padrão de 500 frascos ao mês. “Agora já está normalizado, mas no fim de março ficamos sem embalagem, sem rótulo, foi demais”, conta a sócia-administradora Angela Siqueira. Ela e o marido, Jairo Siqueira, acumulam uma clientela fixa há 30 anos na loja própria, mas foi no atacado que a procura explodiu.
Ortigueira é o município com a maior produção de mel do Paraná, cerca de 730 toneladas em 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o equivalente a 11,7% da produção do Paraná (6,2 milhões de toneladas).
A demanda pela própolis é mundial: a Breyer, de União da Vitória, prevê aumento de 30% nas exportações em 2020 na comparação com o ano passado. “Nosso carro-chefe é a exportação de mel. O mundo inteiro compra mel do Brasil, principalmente Estados Unidos e Canadá. Mas tem crescido muito a demanda por própolis granel. Vendemos normalmente para países da Ásia, como Japão, Coreia do Sul, China, Taiwan, mas agora tem crescido o consumo nos Estados Unidos e Europa também”, afirma Daniel Henrique Breyer, diretor da indústria, que destaca que a própolis tem maior valor agregado.
A Breyer produz em apiários próprios apenas 2% da matéria-prima que utiliza, e adquire o restante de cerca de 500 apicultores de todo o Brasil, espalhados pelo Sul, Sudeste e Nordeste. Em cada região há uma florada predominante, o que resulta em variados tipos de mel e derivados. A própolis verde, que tem essa característica pelos campos de alecrim predominantes em Minas Gerais, é a mais famosa. No Paraná, há predominância da marrom. Entretanto, todos os tipos de própolis têm importantes características farmacológicas, aponta Daniel, que é farmacêutico industrial.
“Na época em que apareceu a demanda de própolis verde foi devido a muitas pesquisas realizadas no Japão e por isso se disseminou no Brasil também pesquisas com esse tipo. Outras própolis foram menos pesquisadas, mas atualmente a base de conhecimento delas está sendo ampliada. Temos também a vermelha, com uma oferta restrita, e outras exóticas. Existem determinadas variações nas composições químicas de cada uma delas, no Brasil e no mundo, mas as atividades delas são muito parecidas”, explica ele.
Como é feita a própolis
Dora, da Apisommer, que também é farmacêutica, defende igualmente a própolis marrom, oriunda das formações de Mata Atlântica do Paraná. A empresa beneficia mel recolhido em cerca de mil colmeias, divididas em 30 apiários localizados a uma distância de 60 quilômetros. “São várias propriedades, a gente arrenda, para o lado que pensar, tem um apiário. A abelha percorre três quilômetros de distância da casa dela para colher néctar, por isso não se pode encher de abelha um mesmo local, no máximo 40 colmeias em cada apiário”, explica.
Segundo definição da Empresa Brasileira de Pesquisa em Agropecuária (Embrapa), a própolis é um produto elaborado pelas abelhas a partir de substâncias resinosas coletadas em brotos, flores, folhas e cascas de plantas. A estas substâncias as abelhas adicionam secreções salivares, cera e pólen para a elaboração do produto final. Na colmeia, as abelhas depositam própolis para barrar a entrada de intrusos e para vedar correntes de ar.
Nos apiários, “cascas” de própolis são retiradas e permanecem na geladeira para conservação. Depois são levadas para limpeza e maceração. A Apisommer deixa o produto sendo curtido em álcool de cereais por cerca de 90 dias, depois faz a filtragem e coloca nas embalagens.
Com acumulação do conhecimento e novos processos industriais, as empresas estão diversificando a oferta de derivados de mel. Segundo Dora Sommer, outro produto bom para a imunidade é a geleia real, alimento originalmente destinado às abelhas-rainhas. “É a secreção das abelhas operárias jovens que a rainha come e com isso, em vez de uma vida de 45 dias, como uma abelha comum, chega a viver por três ou quatro anos”, relata. Outra opção, diz, é o pólen, recolhido em uma tela nos apiários, higienizado e desidratado. “O pólen gruda nos pelos da abelha, recolhemos em uma bandeja, desidratamos para não fermentar e é uma opção de alimento saudável também”, assegura. Na Breyer, também há opção de geleia real liofilizada (encapsulada), própolis já dissolvido em água, pronto para consumo, e creme a base de própolis.
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