Ex-governador e ex-senador pelo Paraná, Alvaro Dias (Podemos) lançou nesta quinta-feira (14) o livro de memórias A travessia de Alvaro Dias, ao lado de José Antonio Pedriali, jornalista responsável pela pesquisa, entrevistas e autor do livro. O político governou o estado paranaense por um mandato (entre 1987 e 1991) e ocupou uma cadeira no Senado por quatro mandatos.
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O local escolhido para o lançamento da obra foi a cidade de Londrina, na região norte do Paraná, onde a carreira de Alvaro teve início em 1968, quando foi eleito vereador. Apesar de ter ocupado o cargo de chefe do Executivo no Palácio do Iguaçu, foi no Senado, em Brasília, que Alvaro Dias permaneceu por décadas e se tornou um dos principais nomes com projetos e discursos voltados ao combate à corrupção, intensificados na oposição aos governos de Lula e Dilma durante a série de escândalos petistas, do Mensalão ao Petrolão.
Ao romper o silêncio e conceder a primeira entrevista desde as eleições 2022, quando saiu derrotado das urnas na disputa com o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro (União), Alvaro classificou como “frustrante” o combate à corrupção no período como parlamentar pela dificuldade de aprovação de projetos com medidas mais duras contra os desvios de recursos públicos.
“Transformar o discurso em prática eu tive oportunidade no governo. Mas só foram quatro anos de toda essa trajetória. É frustrante combater e não ver o resultado. No governo é diferente, pois você vê esse resultado. Na ação parlamentar, os projetos enroscam, como o fim do foro privilegiado, projeto de 2013 que foi aprovado em 2017 no Senado, mas está na Câmara desde junho do mesmo ano. Isso é frustrante”, reforçou o ex-senador na entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.
Ele ainda lembrou de outros projetos de lei “engavetados” no Congresso, como a prisão em segunda instância e igualar a corrupção na administração pública como crime hediondo. “São projetos que tramitam, tramitam e não são votados. Isso é frustrante, mas sem dúvida foi a prioridade dos meus mandatos, o combate à corrupção”, completou.
Sobre a oposição ao PT no Senado, Alvaro recorda que já tinha “nível de maturidade” e segurança para atuação parlamentar, experiência fundamental para a atividade pública. No entanto, ele analisa que o “sistema é promíscuo” e que não houve a substituição do modelo, o que frustra as tentativas de rompimento do ciclo de corrupção. “Pelo contrário, vai se consolidando essa política que estabelece uma relação contaminada entre os poderes. Isso vai se consolidando de tal forma que a população ao votar não distingue bem as posições em relação ao sistema vigente. Existem aqueles que se apresentam como combatentes do sistema e que constituem o sistema.”
Na avaliação dele, o período como governador do Paraná foi o mais gratificante, não só pelo combate à corrupção, mas também pelas “realizações que são visíveis”. “As pessoas podem reconhecer porque é perceptível pelo movimento, pela mudança, pela renovação, pois se dá na prática e não apenas no discurso”, comentou.
Silêncio e paz, mas sem aposentadoria definida
Questionado sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, que anulou as provas do acordo de leniência da Odebrecht sobre o pagamento de propinas a petistas, investigado na operação Lava Jato, Alvaro Dias disse que está em um período de silêncio e prefere não comentar os acontecimentos da atualidade. “Hoje é o primeiro dia que dou entrevista desde outubro. Confesso que tenho muita vontade de falar, mas tenho uma vontade maior de ter paz”, respondeu o político, que chamou os últimos meses longe da vida pública de “período sábatico”.
De acordo com o livro, a família do então senador foi contra a nova candidatura ao Senado nas últimas eleições, mas Alvaro disse que foi “arrastado para disputa”, embora a decisão tenha sido difícil. “Não se esgotou a polarização e esse isolamento político torna a atividade mais sofrida. Por isso, também não há uma decisão quanto ao futuro e tenho evitado opinar sobre os acontecimentos”, afirmou.
O ex-governador paranaense disse que “não volta atrás” em decisões, por isso, prefere não definir o futuro político de maneira precipitada. Ele ainda declarou que nunca fez “cena” para negociar ou recuar durante as campanhas eleitorais e assim, considera fundamental o período sabático para reflexão e análise dos rumos políticos do país.
Até do partido (Podemos) Alvaro afirma que tem se mantido distante, apesar do convite da líder nacional da legenda, Renata Abreu, para que o ex-senador assuma a presidência de honra da sigla partidária para estruturação pelos estados da federação. “Desde o ano passado tenho pedido mais um tempo, mais um tempo. Então, não tenho decisão nem sobre retornar à atividade partidária.”
Moro: sem ressentimento, mas suporta ingratidão
Responsável pela filiação de Sergio Moro no Podemos em novembro de 2021, Alvaro Dias é considerado o mentor político do ex-juiz da Lava Jato, que chegou ao partido com status de presidenciável e com apoio do padrinho para a candidatura ao Palácio do Planalto, como terceira via na acirrada disputa entre Bolsonaro e Lula.
Em março do ano seguinte, o livro lembra que Moro “bandeou-se” para o União Brasil como candidato a senador, mas seu novo domicílio eleitoral, São Paulo, foi rejeitado pela Justiça Eleitoral, o que forçou o retorno ao estado do Paraná, colocando Moro e Alvaro na disputa pela mesma cadeira no Senado.
Questionado sobre a atitude do ex-juiz da Lava Jato, que venceu a disputa eleitoral contra o mentor político, Alvaro Dias respondeu que “não há ressentimento”, mas acrescentou que suporta a ingratidão. “Quem tem a coragem de fazer o bem, tem que ter a sabedoria de suportar a ingratidão. Eu não dou relevância ao procedimento das pessoas, tem que respeitar as decisões pessoais. Não guardo ressentimento, não tenho ressentimento, não”, declarou.
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