A preocupação é global. Grande parte da água dos rios em todo o mundo todo está contaminada com remédios usados para combater doenças de pessoas e animais. O problema é que micro-organismos que habitam estes ambientes criam resistência aos medicamentos, o mesmo pode acontecer com quem consome a água. A principal causa dessa contaminação é o uso abusivo dessas substâncias: como boa parte delas não é absorvida pelo corpo ou os remédios são descartados de maneira errada, eles acabam nos efluentes que abastecem as cidades. Pesquisas realizadas no Paraná indicam que nossos rios também são afetados.
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De acordo com o Conselho Federal de Farmácia, o Brasil está entre os dez países que mais consomem medicamentos no mundo. Os brasileiros ocupam a 17ª posição entre os maiores consumidores de antibióticos entre 65 nações pesquisadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde 2010, a venda deste tipo de remédio só é permitida com a apresentação de receita médica.
O uso indiscriminado de remédios é exatamente um dos principais causadores da contaminação de rios. “Possivelmente todos os rios do estado que recebem efluente de estações de tratamento, ou aqueles que recebem diretamente os dejetos, estão contaminados por antibióticos”, afirma Eliane Carvalho de Vasconcelos, pesquisadora e professora do programa de Mestrado e Doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Positivo.
Nos últimos anos, a professora, que também é doutora em Ciências - na área de concentração química analítica – pela Universidade de São Paulo (USP), tem feito pesquisas envolvendo estudantes de graduação, mestrado e doutorado para avaliar a contaminação de fármacos e outras substâncias nos rios do Paraná.
O primeiro trabalho, realizado em 2005, já mostrou a presença de fármacos nas águas do Rio Passaúna, na Região Metropolitana de Curitiba. Ao todo, seis pesquisas realizadas por ela e por colegas apontam a presença de antibióticos e outros medicamentos em rios que cortam o Paraná.
Um dos trabalhos identificou em amostras coletadas em cinco pontos diferentes do Passaúna a presença de substâncias presentes em antibióticos. “Prova disso foi que as bactérias Escherichia coli do local mostraram resistência a, pelo menos, um dos antibióticos testados.”
Entre 2009 e 2017, também foram realizadas pesquisas nos rios Iguaçu, que corta o Paraná de Leste a Oeste, e na Baía de Paranaguá, no Litoral do estado. Em todos foi verificada a presença de antibióticos e outros medicamentos.
Micro-organismos estão se tornando mais resistentes
O mau uso de medicamentos é a grande causa. Cíntia Mara Ribas de Oliveira, professora nos cursos de Biomedicina e Ciências Biológicas, do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental e do Mestrado Profissional em Gestão Ambienta orientou uma pesquisa que mostrou presença de antibiótico nos peixes nos reservatórios do Passaúna e de Piraquara. “Em torno destes reservatórios temos criação de animais, ovelhas e cavalos”, ressalta Eliane. Ela lembra que é comum o uso do antibiótico eritromicina para combater infecção nos cascos e ouvidos.
O grande problema dos medicamentos na água são os micro-organismos se tornarem resistentes. “Encontram-se muitas vezes uma bactéria que é selvagem [natural daquele ambiente] e que já apresenta resistência a antibióticos que deveriam ser usados somente em casos mais extremos”, aponta Eliane.
Nos animais aquáticos, por exemplo, esta situação provoca desequilíbrio na flora intestinal. Doenças causadas por fungos resistentes afetam a pele de peixes e outros animais, causando problema também para o consumo humano.
Para evitar o alarmismo, a professora da UP ressalta que a concentração de medicamentos que chega aos consumidores finais ainda é “minúscula”. Mas lembra que é importante entender o problema e agir para evitar consequências mais sérias. “São encontrados na água que bebemos desde aspirina até pesticidas”, comenta.
Sistemas de tratamento são muito caros
“Na região de Piraquara a Sanepar está fazendo um trabalho excelente”, avalia Eliane. Ela destacou que ao redor de todo reservatório de Piraquara 1 a empresa reservou uma linha de proteção ao longo das margens da represa e iniciou o reflorestamento da área, justamente para impedir a contaminação por animais. Por outro lado, a pesquisadora ressalta que na represa do Passaúna esta solução não pode ser replicada porque está rodeada por propriedades particulares, nas quais, inclusive, há criação de equinos e caprinos.
“A contaminação da água de abastecimento por fármacos e outros compostos não é exclusividade nossa. Isto tem acontecido no mundo inteiro”, ressalta a professora. Os sistemas de tratamento para esse tipo de substância são caros e, muitos deles, ainda estão em fase de desenvolvimento. Ou seja, não existe uma solução definitiva.
Em nota, a Sanepar afirmou que “a água distribuída pela Sanepar atende a todos os critérios de qualidade e potabilidade determinados pela legislação brasileira e pelos órgãos ambientais. Em todo o mundo, ainda são incipientes as pesquisas neste sentido. A Sanepar mantém uma gerência de pesquisa e inovação com estudos e projetos que também abordam esta temática e estão em andamento”.
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