A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) recebeu as justificativas da Rumo Malha Sul para o fim do transporte ferroviário no ramal que liga Londrina (PR) a Ourinhos (SP). De acordo com a agência, não há irregularidades no fato de a empresa não utilizar mais o trecho que liga Paraná a São Paulo para o transporte regular de cargas.
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Para a ANTT, a Rumo Malha Sul explicou os motivos pelos quais o trecho deixará de ser utilizado. A justificativa é a mesma apresentada anteriormente, de que a operação no ramal se tornou inviável pela falta de procura das empresas da região pelo transporte ferroviário. Serão mantidas as atividades de manutenção e conservação da ferrovia e da estrutura, segundo informação da Rumo prestada à ANTT. Por isso, reforçou a agência, “não há suspensão, paralisação, interrupção ou supressão irregular do transporte”.
Volume de cargas na ferrovia vem caindo desde 2019
Para embasar os motivos que levaram ao fim do uso de trens para o transporte de cargas no ramal, um dos mais antigos do norte do Paraná e fundamental para a colonização da região, a Rumo Malha Sul detalhou à ANTT os números referentes ao transporte de cargas na ferrovia nos últimos cinco anos. As cifras, segundo os dados da empresa, vêm caindo.
Em 2019 foram transportadas 456 mil toneladas de carga pelos trilhos entre Londrina e Ourinhos. Em 2020 este total baixou para 376,7 mil toneladas. No ano seguinte, 2021, a redução foi menor, mas persistente. Naquele ano foram 360,2 mil toneladas, contra 297,1 mil toneladas em 2022. Em 2023 a queda no transporte foi mais significativa, despencando para 83,8 mil toneladas movimentadas pelo ramal ferroviário de 217 quilômetros de extensão.
Parte dessa queda na utilização da ferrovia pode ser creditada, aponta a ANTT, ao fato de o trecho ter sido utilizado por uma variedade cada vez menor de mercadorias transportadas. Entre os anos de 2019 e 2022, afirma o órgão federal, passaram pelos trilhos cargas de combustíveis, adubos e fertilizantes. Estes dois últimos, porém, deixaram de circular pela ferrovia no ano seguinte – o transporte foi exclusivamente de combustíveis em 2023.
Contrário ao fim do uso dos trens no ramal, o Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana alega que a empresa estaria aumentando de forma abusiva os custos do frete ferroviário. De acordo com a ANTT, porém, as informações prestadas pela Rumo Malha Sul mostram que entre os anos de 2019 e 2024 a tarifa média praticada foi de R$ 19 por tonelada transportada. “O valor pode variar de acordo com o tipo de carga desde que sejam respeitados os limites máximos homologados”, reforça a agência.
Em dezembro, Rumo Malha Sul chamou o fim do uso da ferrovia de "rumor"
No fim de 2023, a Rumo Malha Sul chegou a desmentir um vídeo que circulou nas redes sociais mostrando uma composição que saía de Ourinhos em direção ao Paraná. O vídeo afirmava que aquele seria o último trem de carga a trafegar pelo trecho. Em nota emitida à época, a Rumo classificou a informação sobre o fim do uso do ramal de “rumores” e afirmou que a ferrovia permaneceria “ativa e operacional”.
A empresa foi questionada pela reportagem sobre o fato de ter tratado o fim do uso da ferrovia como um rumor em dezembro de 2023, e de ter suspendido o tráfego de trens de carga cerca de um mês depois, em janeiro de 2024. Em resposta, a Rumo Malha Sul explicou à Gazeta do Povo que a nota retrata exatamente o que estava acontecendo naquele momento, que eram tratativas comerciais que não foram viabilizadas para renovação dos contratos.
Discussão sobre o fim do uso dos trens de carga chegou ao Legislativo
O fim do transporte ferroviário no norte paranaense também chegou à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Os deputados estaduais Luiz Cláudio Romanelli (PSD) e Tercílio Turini (PSD) encaminharam um requerimento à ANTT, à Rumo Malha Sul e ao Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo mais explicações sobre a paralisação da linha férrea entre Londrina e Ourinhos. Porém, cerca de duas semanas após terem protocolado o documento, os deputados ainda não receberam um retorno oficial da agência, da empresa de logística e nem da corte de contas.
Para Romanelli, a decisão da Rumo Malha Sul de interromper a circulação de cargas pela ferrovia é “um absurdo e um verdadeiro retrocesso”. De acordo com o deputado, o transporte ferroviário é o segundo modal mais barato do mundo, viável financeiramente e um dos menos poluente.
“A paralisação do trem carece de visão estratégica em relação à economia verde, a que mais cresce no mundo. Na Assembleia Legislativa não vamos ficar de braços cruzados. Vamos tomar outras medidas para reverter a decisão. Foi muito triste poder assistir o povo procopense ver em Cornélio pela última vez o trem passar. Isso faz parte do processo civilizatório da nossa região. Nós não vamos aceitar. A Rumo tem um contrato e ela tem que cumprir”, afirmou.
Já Turini disse que será preciso unir lideranças políticas, do setor produtivo e da comunidade para buscar alternativas para reverter a suspensão do trânsito de trens de carga na ferrovia. “É uma medida que vai na contramão de todo esforço para fortalecer o desenvolvimento do norte e do norte pioneiro do estado. Estamos num momento em que os municípios batalham por mais infraestrutura e logística para atração de investimentos, indústrias e novos empreendimentos”, apontou.
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