A colheita do trigo não chegou necessariamente como o estado do Paraná esperava, após a quebra de 17% na produção provocada pelo excesso de chuva, registrado no mês de outubro e neste início de novembro. Mesmo assim, ante os 4,6 milhões de toneladas projetados, o estado entra na reta final da colheita com estimativa de uma produção de 3,86 milhões de toneladas, uma das melhores da história em volume, mas que passa longe de ser destaque em qualidade.
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Mesmo com a redução produtiva, a colheita será superior à registrada em 2022, já considerada histórica com mais de 3,5 milhões de toneladas. A preocupação está em colocar o produto no mercado. “O grande volume de chuvas em algumas regiões (paranaenses), como sul, centro-sul, Campos Gerais e sudoeste, preocupa pelas condições das lavouras de inverno. Culturas em ponto de colheita estão perdendo qualidade. Temos trigo germinado a campo, com a cevada a mesma coisa. É triste isso porque durante o ciclo tivemos bastante umidade e foi mais difícil controlar doenças, com danos ocorrendo nas lavouras ao longo dos últimos meses”, lamentou Ana Paula Kowalski, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep/Senar-PR).
A qualidade inferior do produto tem feito o trigo paranaense travar nos armazéns, que estão com praticamente tudo o que foi colhido estocado, lembrou o superintendente da Federação e Organização das Cooperativas do Paraná (Fecoopar) Nelson Costa. “Também teve a queda no preço do trigo e aí o produtor decidiu não vender. Isso complica as condições dos nossos armazéns que estão lotados”, destacou ele.
Segundo Ana Paula, o trigo do Paraná, estado que é o segundo maior produtor do cereal - atrás do Rio Grande do Sul, vinha de safras consideradas padrão pão em melhorador, ou seja, avaliados entre as melhores categorias de trigo. Desta vez, a maior parte vem sendo classificada como quebra, com um volume acentuado de triguilho, também considerado “grão xoxo” e partido, com tendência para tipo 2 e 3. “Comumente nas outras colheitas registrávamos (o trigo) tipo 1, mas temos um cenário maior de perda de qualidade do que em safras consideradas com condições favoráveis”, lamentou.
Para o que ainda resta colher, menos de 10% das lavouras, pouco poderá se salvar na avaliação técnica. Em regiões do estado em que o cereal ainda não foi colhido há trigo germinado, que não tem valor comercial. “O mercado vinha muito lento, tivemos uma grande produção de soja e milho. O próprio trigo registrou um grande aumento de área no Paraná e no Rio Grande do Sul, somado ao cenário internacional de queda de preço da commodity, então além da qualidade, temos preço baixo, porque a oferta é confortável, tem muito trigo no mercado e, no caso do Paraná, há questões de qualidade que interferem na venda”, ressaltou.
A maior parte da safra colhida no estado não poderá ter a destinação para a produção de pães, mas pode seguir para outros setores de panificação que requeiram um padrão inferior de qualidade ou mesmo para a ração animal.
Lavouras de inverno: Deral registra recuos constantes na produção
De acordo com o último boletim divulgado pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura do Paraná (Seab), há pouco mais de uma semana, a estimativa da safra de trigo sofreu novo corte em outubro, somando agora a expectativa de produção de 3,86 milhões de toneladas em uma área de 1,41 milhão de hectares. “Comparativamente, este volume é 17% inferior ao potencial inicial, de 4,6 milhões de toneladas e aproximadamente 300 mil toneladas inferior ao que apontava a estimativa de setembro”, informou o Deral.
Para o órgão, as doenças foram determinantes para interferir na queda da produtividade. “O excesso de chuvas em outubro colaborou para que não se atingissem produtividades melhores. Além da queda de volume produzido, houve perda de qualidade. Com chuvas recorrentes e poucos dias de sol, foram poucos os produtores que conseguiram colher o trigo com a umidade de campo ideal, fator que resultou em grãos com aplicações mais restritas pela indústria moageira, ou mesmo trigos que serão direcionados para a alimentação animal”, afirmou o agrônomo do Deral Carlos Hugo Godinho.
Ainda de acordo com o Deral, o cenário resultou em pequenos reflexos no preço do trigo pago ao produtor. O cereal, em boa qualidade. estava cotado no dia 25 de outubro a R$ 54, especialmente nas regiões do estado que encerraram a colheita. “Este valor é 10% superior ao praticado há um mês (R$ 49) e mostra uma busca pelos trigos colhidos antes da chuva. Já os trigos para ração competem pelo mesmo mercado que o milho, que não teve alteração de preço no mesmo período”. Na metade do ano passado, no entanto, a saca do cereal chegou a ser cotada a R$ 96.
Além do trigo, as lavouras de cevada, que vinham apresentando boas condições, também foram bastante prejudicadas pelas chuvas. Na semana retrasada, as condições das lavouras foram rebaixadas de 83% boas e 17% médias para 67% boas, 29% médias e 4% ruins, o que deve interferir na qualidade do produto a ser colhido, afirmou o Deral.
“Praticamente metade do colhido foi retirada na penúltima semana, em um momento que não era ideal, devido à umidade dos grãos nas lavouras. As produtividades também foram afetadas, e espera-se uma produção de 355,6 mil toneladas atualmente, 10% menor frente às 397 mil toneladas potenciais”, alertou o Deral.
Apesar de a chuva ter cessado nos últimos dias no Paraná, imagens ainda consideradas preocupantes seguem a circular pelas redes sociais. Em Dois Vizinhos, uma das cidades mais atingidas pelo excesso de chuva dos últimos 45 dias, foram afetadas todas as comunidades no interior, com registro de perdas. Aviários inteiros foram inundados, açudes estouraram e há plantéis inteiros de peixes perdidos. Uma das imagens mais impressionantes se refere à inundação de aviários com frangos nadando na tentativa de se salvar. Havia também um grande número de animais mortos.
Por lá, o vendaval também derrubou lavouras inteiras de milho e trigo. O município decretou situação de emergência, assim como outras 30 cidades paranaenses. Até o fim desta semana, o Deral deve divulgar um novo boletim agrícola para avaliar danos às lavouras do Paraná.
A boa notícia é que não deverá chover em grandes volumes no estado durante esta semana, segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar). Há possibilidade de registros mais volumosos somente no início da próxima semana, mas a expectativa é para que não sejam dias seguidos de precipitação acumulada.
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