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Por que a apicultura paranaense cresce enquanto o mundo luta contra morte de abelhas?
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A tendência global de redução em populações de abelhas tem tido um reflexo menos significativo na apicultura e meliponicultura do Paraná. Embora haja grande preocupação com a intoxicação dos insetos por deriva de agrotóxicos – um dos principais fatores apontados como causa para o declínio de colmeias –, a produção apresenta crescimento no estado.

Segundo dados mais recentes da Produção Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em dez anos, entre 2007 e 2017, a produção de mel saltou 27,9% no Paraná, alcançando 5.928 toneladas no último levantamento. No mesmo período, o Rio Grande do Sul, maior representante do setor no país, viu sua produção cair 14,2%.

O município de Arapoti, na região dos Campos Gerais, é hoje o maior representante do país na produção de mel. Em 2017, foram 639 toneladas do produto vendidas, segundo o Censo Agropecuário do IBGE. Outras cidades paranaenses que se destacam no setor são Wenceslau Braz, Prudentópolis e Ortigueira.

Algumas características da agricultura paranaense ajudam a explicar porque a criação de abelhas no estado é menos afetada, segundo o coordenador do Programa Estadual de Sanidade das Abelhas e do Bicho da Seda, Cassiano Kahlow. “Há grande incidência de intoxicação por deriva de agrotóxicos em regiões de monocultura, como as das plantações de laranja no interior de São Paulo, o que não é o caso das regiões que concentram a apicultura no Paraná”, explica.

“Além disso, a apicultura paranaense não costuma produzir mel de espécies específicas, mas principalmente o chamado mel silvestre”, conta. O mel de Ortigueira, primeiro do país a conquistar o registro de Denominação de Origem, é considerado diferenciado exatamente por ser produzido a partir de uma grande variedade de espécies de flores, que inclui capixingui, eucalipto, assa-peixe, canelas, maria-mole, gurucaia, aroeira, vassourinha, gabiroba e angico.

Apesar disso, há uma preocupação da Adapar com o cenário de subnotificação em relação à mortalidade em massa de abelhas. “Sabemos por meio de relatos de apicultores que há episódios, mas a informação não chega oficialmente para que possamos fazer a fiscalização e a confirmação da causa das mortes”, explica Kahlow. “Há perdas parciais e muitos produtores, por não perderem toda a produção, se adaptam, mudam o local, e não notificam.”

Tendência de desaparecimento das abelhas vem dos início dos anos 2000

O desaparecimento de diversas espécies de abelhas é uma tendência observada desde meados da década de 2000 em todo o mundo e está associado a fatores como o uso incorreto de defensivos agrícolas, as mudanças climáticas e a perda dos habitats dos insetos.

“Normalmente se mistura um pouco, mas a extinção geral de várias espécies de abelhas está ligada principalmente à conversão de ambientes naturais em urbanos”, explica Rodrigo Barbosa Gonçalves, professor de zoologia e integrante do Laboratório de Abelhas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Já em relação ao declínio de colmeias, observado pelos produtores, tem sido encontradas altas doses de pesticidas associados, principalmente friponil e neocotinóides, substâncias derivados da nicotina.

No setor apícola, mortes em massa podem ocorrer causadas basicamente por três fatores: a intoxicação por agrotóxicos; erros de manejo, como a exposição a temperaturas extremas; e a sanidade, ou seja, o acometimento por doenças. A Adapar tem procurado trabalhar junto às comunidades de produtores a importância de se notificar episódios de mortes em massa para confirmar as origens do problema.

O Paraná tem hoje 700 apicultores cadastrados na Adapar, que administram cerca de 300 mil colmeias de abelhas com ferrão. No ramo da meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão), são cerca de 300 produtores e em torno de 4,5 mil colmeias, segundo os dados oficiais.

Além da produção de mel, a abelha tem grande importância econômica por seu papel como polinizadora, tanto em ambiente natural, em áreas preservadas, como em sistemas agrícolas.

Em áreas naturais, a polinização é essencial para a manutenção da diversidade das espécies vegetais. “Essa diversidade é importante porque, no ambiente correto, todos os demais organismos se alimentam das plantas”, diz Gonçalves.

Já no sistema agrícola, há ganhos expressivos diretos na produtividade, particularmente em culturas como de frutas, óleos e café.

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