A decisão unânime do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de negar a cassação do mandato do senador Sergio Moro (União Brasil-PR) abre espaço para que o ex-juiz da Lava Jato ganhe mais proeminência no Legislativo, provocando uma mudança de postura na tímida atuação como parlamentar. Na opinião de analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, o futuro político de Moro depende de um posicionamento ideológico mais claro e da construção de alianças com figuras importantes dos cenários paranaense e nacional.
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Os ministros da Corte Eleitoral julgaram improcedentes duas ações que pediam que Moro perdesse o mandato – uma movida pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e outra de autoria da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV). Na opinião de Luiz Domingos Costa, mestre em Ciência Política e professor da Escola Jurídica da Uninter, a absolvição é resultado, principalmente, de uma mudança na dinâmica entre o Legislativo e o Judiciário. “Houve uma repactuação da relação beligerante que estava ocorrendo entre o Senado e o Supremo Tribunal Federal [STF]”, avalia, se referindo aos ministros da Suprema Corte que fazem parte do TSE.
O próprio presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), teve um encontro com o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, para interceder pelo mandato de Moro e de Jorge Seif (PL-SC), que também é alvo de um pedido de cassação. O caso do catarinense, no entanto, ainda aguarda julgamento na Corte Eleitoral.
Mas, na opinião de Costa, a melhora da relação entre Legislativo e Judiciário não foi a única causa do resultado positivo para o senador paranaense. O comportamento de Moro também contribuiu, demonstrando que o ex-juiz preferiu “fazer política” a ir para o enfrentamento.
"Nos primeiros meses do mandato, o senador até tentou ter um protagonismo, principalmente quando ministros do governo foram convocados ao Parlamento. Depois, ele mudou de estratégia e preferiu ficar mais discreto. Moro foi conversar com lideranças do Senado, com assessores e com os próprios ministros da Suprema Corte. O fato é que ele ficou fazendo política, buscando apoio para a manutenção do próprio mandato”, afirma o professor da Uninter.
Em abril, o senador se encontrou com Gilmar Mendes, um dos ministros do STF mais críticos à operação Lava Jato.
Moro precisa encontrar espaço ideológico
Na opinião de Érico Oyama, consultor de análise política da BMJ Consultores Associados, o mandato ameaçado fazia com que até mesmo outras lideranças não se empenhassem em fazer acordos políticos com Moro. Agora sem amarras, Moro pode ficar mais combativo, criticando mais abertamente decisões do STF que anularam atos da Lava Jato, por exemplo.
De acordo com Oyama, porém, para ganhar capital político é preciso que Moro vá além da pauta anticorrupção – que, embora relevante, perdeu espaço no debate público dos últimos anos. “Não entendo que essa postura mais combativa com o Judiciário vá ajudá-lo a ganhar capital político. O que ele precisa é aprender a jogar o jogo em Brasília, abrir diálogo com outras frentes ideológicas e costurar acordos”, afirma o consultor.
Uma das dificuldades do ex-juiz é a falta de aceitação tanto à esquerda, por ter sido autor da condenação que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à prisão, quanto mais à direita, por seu comportamento errático em relação a Bolsonaro. Após deixar a magistratura, no final de 2018, Moro assumiu o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública no governo do ex-presidente. Depois de 16 meses, porém, ele deixou a pasta acusando Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal.
Em 2022, Moro fez as pazes com o ex-presidente, declarou apoio a Bolsonaro no segundo turno das eleições e chegou a acompanhar o então candidato em um debate na TV. Esses movimentos, no entanto, não foram suficientes para que o ex-juiz fosse totalmente aceito de volta pelos apoiadores de Bolsonaro.
No final de 2023, por exemplo, Moro foi alvo de críticas ao ser fotografado rindo com Flávio Dino, ex-ministro do governo Lula, durante a sabatina para uma vaga no STF. O próprio PL, partido do ex-presidente, não bancou uma aproximação com Moro e, mesmo contrariando Bolsonaro, decidiu recorrer ao TSE depois que o senador foi absolvido no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná.
“Hoje, o Moro é uma figura refratária tanto da esquerda quanto da direita ligada a Bolsonaro. Ele não tem conseguido protagonismo em nenhuma pauta. Como já é conhecido do eleitorado, o desafio dele de conseguir se posicionar nesse espectro ideológico é muito maior”, diz Oyama.
Candidato em 2026?
Além de um posicionamento mais firme no espectro ideológico, Moro também precisa dialogar com nomes já tradicionais na política paranaense para ampliar seu espaço. Segundo Mário Sérgio Lepre, cientista político e professor do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) em Londrina, a votação expressiva obtida pelo senador nas eleições de 2022 – foram quase 2 milhões de votos – não exclui a necessidade de costurar acordos com forças políticas já atuantes no Paraná. As eleições de 2026, por exemplo, passam necessariamente pelas articulações do atual governador, Ratinho Jr. (PSD), que não poderá mais disputar o Executivo estadual.
“Ninguém é candidato só porque quer, mas sim por uma relação de forças. Se ele conseguir encontrar um caminho, dependendo dos seus posicionamentos, poderá até se candidatar a governador em 2026. Mas, antes disso, é necessária toda uma articulação”, diz Lepre.
Para o professor da PUCPR, contudo, é possível que Moro opte por permanecer como observador no próximo ciclo eleitoral, já que seu mandato é de oito anos e vai até 2030. “As eleições de 2026 podem ser uma excelente oportunidade para que ele construa lealdades e mantenha aliados para o futuro, para quando o mandato terminar. Ainda está tudo muito em aberto, então ele precisa sedimentar essa trilha para ter viabilidade política nos próximos anos”, conclui.
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