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Aproximação com os EUA pode reerguer indústria de açúcar e etanol no Paraná
| Foto: Gazeta do Povo

Enquanto usineiros e produtores sucroalcooleiros do Nordeste brasileiro tentam derrubar o decreto presidencial que aumentou a cota não taxada de importação de etanol norte-americano, os empresários paranaenses veem nessa aproximação comercial uma boa oportunidade para o setor se reerguer no estado. É que, embora a negociação entre Brasil e EUA não tenha sido atrelada a uma contrapartida imediata, abre espaço para uma futura exportação maior de açúcar e de etanol.

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O decreto do presidente Jair Bolsonaro (PSL), emitido no fim de agosto, elevou de 500 milhões de litros para 750 milhões de litros a quantidade importada de etanol dos Estados Unidos isenta da tarifa de 20%. O movimento irritou usineiros dos estados nordestinos, que têm um cenário de demanda muito acima da oferta. É neste vácuo, aliado à questão logística, que o etanol norte-americano deve entrar. E competindo até de forma confortável, já que é mais barato (ele é feito de milho, grão subsidiado pelo governo Donald Trump).

Ainda que o Nordeste seja um comprador de etanol paranaense, a entrada do made in america não afeta significativamente nosso mercado, já que o volume enviado é irrisório. “Concorremos, sim, com os americanos, mas temos um mercado consumidor muito grande [no próprio estado], além de exportarmos para a Coreia do Sul e mesmo EUA. Ou seja, temos como escoar essa safra”, defende Luiz Eliezer, economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).

Segundo números da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), o Paraná até compra etanol de outros estados, em determinados períodos. Produzimos em torno de 1,4 bilhões de litros e estamos consumindo na faixa de 2 bilhões, apontam os números.

Se a concessão do governo brasileiro não afeta a produção paranaense, uma sinalização de aproximação ajuda e muito, na avaliação de Miguel Tranin, presidente da Alcopar -- Tranin também lidera outros sindicatos deste segmento no estado: de produção de açúcar (Siapar), etanol (Sialpar), biodiesel (Sibiopar) e cogeração de energia elétrica a partir de biomassa e gás (Sibielpar). Ele, que participou das negociações com o governo brasileiro, até admite que o acordo não era a intenção inicial. “A primeira [opção] era acabar com a cota e tarifar tudo. A segunda, ter uma contrapartida, a de que os EUA taxassem menos açúcar brasileiro. A última era prorrogar por mais um ano o limite de 600 milhões de litros. Aí o governo insistiu pelo caminho da abertura [sem contrapartida imediata] para uma aproximação comercial", destaca.

Na opinião de Tranin, é uma estratégica que pode gerar bons frutos para o etanol e o açúcar paranaenses. "Os EUA são um mercado muito interessante. Tem vários produtos de interesse de exportação e se olharmos o cenário como um todo”, diz. "A expectativa do setor é que [a aproximação comercial] possa abrir as portas para outros produtos, ou quem sabe um pouco mais de açúcar no futuro [o açúcar brasileiro é tarifado em US$ 339 por tonelada no país]. Tem muita gente vendo um horizonte muito bom para este produto, que não andava tão bem", avalia.

Depois de anos de glória (entre 2000 e 2009), em que o açúcar brasileiro viu seu preço quase triplicar, a commodity voltou a patamares "normais" -- de US$ 0,40 por libra/peso (medida usada para valorar o açúcar), o preço voltou para entre US$ 0,12 e US$ 0,15. Nos últimos anos, a indústria paranaense viu cair a capacidade de processamento de cana de açúcar de 46 milhões de toneladas para 34 milhões de toneladas.

Para o professor de economia Wanderley Soares, é uma aposta. Ele sustenta que a aproximação comercial pode facilitar outros acordos de isenção de taxa que o governo federal estuda com Mercosul e União Europeia. "É uma sinalização interessante, caso se concretize em acordos. Temos um potencial de produção no Paraná, assim como no Brasil, que pode aumentar. Entrar em outros mercados pode trazer ao jogo novamente uma série de usinas que fecharam nos anos de crise e de políticas equivocadas", avalia.

De acordo com a Alcopar, o setor passou por momentos críticos pós-2015. Das 30 usinas de etanol e açúcar que funcionavam no estado, apenas 20 restaram. Além disso, a produção de cana de açúcar foi "empurrada" para o Norte e Noroeste do estado, já que o plantio de soja e a criação de frango e suíno se mostrou bem mais atraente nos anos recentes.

A área de plantio de cana-de-açúcar ainda está em queda no estado. Pelos números do Companhia Nacional de Abastecimento, a área de corte para 2019/20 está estimada em 534,4 mil hectares, o que representa uma redução de 6,1% em relação à safra anterior. "Essa redução está atrelada à preferência das unidades de produção por áreas mais planas, que sejam aptas para a realização da colheita de forma mecanizada, além da concorrência que o setor enfrenta com outras culturas, como soja e milho, principalmente de fornecedores", diz o relatório.

No entanto, com alguns sinais de melhora. "De modo geral, a produtividade média prevista, até o momento, é de 66.188 kg/ha, sendo 6,1% maior que o rendimento obtido na temporada anterior, reflexo da renovação das lavouras na última safra, haja vista que lavouras mais novas possuem um potencial produtivo superior", aponta o Conab.

De olho no mercado mundial

Para Miguel Tranin, a aproximação de Estados Unidos e Brasil pode tornar o etanol de ambos os países mais atrativos para o mercado mundial. “Há alguns anos, sentamos com o governo japonês e uma das inseguranças deles era que só o Brasil produzia etanol. Como é que eles poderiam adotar uma política de etanol a nível nacional com só um fornecedor? E se dá uma frustração de safra? Eles observaram que precisava de mais uma fonte de produção para poder adotar o etanol com segurança e ter mais alternativas comerciais", relembra.

"E para isso precisamos dos Estados Unidos", ele indica. Tranin aponta que um dos mercados-alvo é a China, com uma frota de veículos de 320 milhões de unidades -- para comparar, o Brasil tem 50 milhões de carros. "É um mercado que acenou agora e está chamando muito a atenção do Brasil. Eles estão abrindo a possibilidade de adicionar 10% de etanol à gasolina de sua frota", ele descreve. É um mercado que deve fazer a alegria de brasileiros e americanos.

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