Tradicionalmente lembrada por seu parque industrial, o município de Araucária, na região metropolitana de Curitiba, vem colocando em prática uma série de iniciativas para se firmar nos próximos anos como referência nacional em inovação, particularmente na área de biotecnologia. O objetivo é manter os bons indicadores econômicos da cidade e, ao mesmo tempo, reduzir a dependência do setor petroquímico, hoje fortemente baseado nas atividades da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), da Petrobras.
Uma das primeiras ações já executadas nesse sentido foi a redução do Imposto Sobre Serviços (ISS) de 5% para 2%, menor índice permitido constitucionalmente, para a maior parte das atividades econômicas. Outra grande medida é a inclusão no novo plano diretor da cidade, cuja lei geral já foi aprovada, de um parque tecnológico, que será instalado em parceria com o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
“O poder público pode não ter tecnologia e conhecimento de ponta, mas a cidade tem”, diz o secretário de governo de Araucária, Genildo Pereira Carvalho. “Só que hoje esse ativo fica restrito a pequenos grupos dentro de uma empresa ou outra. Queremos que isso possa ser compartilhado para estimular outras iniciativas empreendedoras”, explica. Nesse sentido, outra ação já executada foi a criação de um fundo específico para investimento em micro e pequenas empresas.
Por trás de tudo isso está o AvançAraucária, antigo Programa de Desenvolvimento Econômico (Prodec) da cidade. Trata-se de um comitê de governança que reúne representantes da iniciativa privada, da academia, do poder público e da sociedade civil para pensar o futuro do município. Como visão de futuro para 2040, o grupo estabeleceu tornar Araucária “símbolo de qualidade de vida, desenvolvimento sustentável e modernidade, excelência em educação, inovação e biotecnologia, desperta aos desafios do mundo”.
O modelo é baseado em uma experiência bem-sucedida realizada por Maringá, no Noroeste paranaense, e que virou estudo de caso. Iniciado em 1995, o movimento Repensando Maringá envolveu centenas de lideranças do município para construir uma visão de futuro para 2020.
Ranking da consultoria Macroplan elegeu a cidade como a melhor para se viver no Brasil nos anos de 2017 e 2018, após uma análise de 15 indicadores nas áreas de educação, saúde, segurança e saneamento e sustentabilidade. “Diante do potencial que já temos, acredito que Araucária tem condições de fazer ainda mais”, diz Carvalho.
Diversificação da economia para não depender da Repar
A instalação da refinaria da Petrobras na década de 1970 transformou Araucária, que hoje tem o maior parque industrial do Paraná, o segundo maior PIB per capita do estado e o maior salário médio dos trabalhadores formais entre as 399 cidades paranaenses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se em 1970 a cidade abrigava pouco mais de 17,1 mil pessoas, hoje tem mais de 141,4 mil moradores, ainda de acordo com o IBGE.
Esse desenvolvimento aos poucos atraiu empresas da chamada nova economia, embora de maneira ainda tímida. “Queremos incentivar a diversificação do nosso polo industrial, mas com tecnologia, aproveitando esse potencial que Araucária já tem”, diz o secretário da prefeitura.
Entre os representantes da nova economia, a principal indústria na área de biotecnologia é a dinamarquesa Novozymes, líder mundial em soluções biológicas, que mantém uma planta em Araucária há 30 anos, quando integrava o grupo Novo Nordisk, do qual se separou em 2000. Produtora de enzimas e microrganismos, a empresa está por trás de inovações nos setores mais diversos da economia do país. “A maior parte dos produtos zero lactose vendidos no Brasil utilizam uma enzima da Novozymes”, conta Ângela Fey, relações públicas da companhia para a América Latina.
Araucária também é a sede da representação sul-americana da finlandesa Valmet, líder mundial no desenvolvimento e fornecimento de tecnologias, automação e serviços para os setores de celulose, papel e energia. Outra empresa que se destaca é a nacional Imcopa, responsável pela marca de óleo de soja Leve, uma das líderes mundiais no processamento de soja não transgênica com certificação de rastreabilidade.
Reduzir a dependência econômica de uma refinaria de petróleo é preparar-se para os novos tempos. “Pode ser que daqui a 20 ou 30 anos o consumo de combustíveis fósseis caia drasticamente”, diz Carvalho. Além da presença de indústrias que hoje são referência nacional em pesquisa e desenvolvimento, Araucária conta com uma grande área territorial, propícia para o desenvolvimento de produtos biotecnológicos voltados à agricultura e à produção de alimentos e de energia.
Somada a esse quadro está em curso nos últimos anos um crescimento acelerado da população. Entre 2010 e 2018, segundo estimativas do IBGE, o número de habitantes subiu 18,7%. A população de Curitiba, como comparação, aumentou 9,4%. Esse crescimento é visto com bons olhos pela cidade, que vê potencial para desenvolver mão de obra especializada para o município. “Hoje muitos empresários trabalham aqui, mas moram na capital”, conta o secretário de governo de Araucária.
Segundo ele, projetos de recuperação e preservação de recursos naturais em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão em discussão para assegurar um crescimento sustentável e a manutenção da qualidade de vida no município.
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