O horário de bater o ponto não importava, se o médico Aristides Barbosa Junior estivesse no portão para sair do posto onde atendia em Curitiba e aparecesse algum paciente precisando de atendimento, ele abria novamente as portas do local e atendia com toda a atenção devida. A sensibilidade às necessidades da população e à saúde pública e coletiva foram centrais na carreira dele, tanto na atuação pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (SMS), quanto no Centers for Disease Control and Prevention (CDC), do qual era diretor com atenção especial ao enfrentamento do HIV/Aids. Aristides faleceu aos 66 anos, no dia 15 de maio.
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Formado pela Universidade Federal do Paraná em 1980, fez residência em pediatria, iniciando o trabalho como servidor público da SMS em 1985. Um dos primeiros locais para o qual foi designado era desafiador. A Unidade de Saúde Atenas-Augusta, no Campo Comprido, que mais tarde se desmembraria, estava sempre cheia. O atendimento à população carente era grande devido à forte migração, na época, de populações do Norte do Paraná para a capital, além do fato de a Unidade ficar próxima a espaços de moradia precária.
A secretária municipal de Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, amiga de Aristides e colega dele nessa época, lembra do olhar atento dedicado a toda a população que chegava até ele. Frente a epidemias como a de sarampo, às dificuldades visíveis das famílias no acesso a alguns medicamentos e às desigualdades que ficam ainda mais pungentes quando o assunto é saúde, ele não cruzava os braços e fazia tudo o que estivesse ao seu alcance para que todos e todas tivessem tratamento digno. “Era uma pessoa que gostava do ser humano”, resume Márcia.
A fim de levar esse pensamento para cada vez mais pessoas, ele se especializou em Saúde Pública pela Faculdade Evangélica do Paraná em 1985 e mergulhou na Saúde Coletiva, área que marcaria sua experiência profissional. Com o CDC, órgão dos Estados Unidos semelhante ao brasileiro Ministério da Saúde, batalhou e pesquisou sobre a prevenção e enfrentamento do HIV/Aids. Morando em Brasília, ocupava o cargo de diretor do Centro desde 2003. Defendia o diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento combinados ao combate ao preconceito contra pessoas que vivem com o HIV.
Participou de ações que ajudaram a tornar Curitiba uma cidade pioneira no enfrentamento à doença, entre elas a testagem de HIV em gestantes e a implantação da Vigilância da Aids, em 1991. Sempre trazia para Curitiba inovações na área, incluindo o programa, do qual ele foi um dos responsáveis pela implantação no Brasil, “A hora é agora”, aplicado em várias regiões do país com o objetivo de realizar a prevenção combinada com a oferta de testes e auto-testes. Também foi um dos responsáveis pelo Programa de HIV Aids do Ministério da Saúde, na UNGASS – missão da ONU para a problemática das drogas.
Diziam os colegas que não havia quem não gostasse daquele médico bonitão, de olhos verdes, com a simpatia transparente no rosto e sempre preocupado com as desigualdades e o respeito ao próximo. “Tem uma frase que aprendi com ele e que levo para a vida: “A unanimidade é burra, é a diversidade que faz a gente crescer”, lembra a secretária Márcia Huçulak. Grande apreciador de música clássica, Aristides gostava de tocar piano nas horas vagas.
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