Aulas foram retomadas no colégio Helena Kolody após ataque de um ex-aluno que matou dois estudantes| Foto: Filipe Barbosa/EFE
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Os estudantes do Colégio Helena Kolody, alvo de um atentado a tiros no dia 19 de junho, voltaram às aulas nesta segunda-feira (24), quando começa o segundo semestre na rede pública estadual de ensino no Paraná, após o recesso escolar.

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A retomada das atividades na escola localizada em Cambé, região norte do Paraná, depois da tragédia que matou o casal de namorados Karoline Verri Alves, 17 anos, e Luan Augusto, 16 anos, ocorreu no dia 26 de junho, na semana que antecedeu o recesso, conforme o calendário estadual. Naquele período, o diretor do colégio, Paulo Dante, lembra que foi iniciado o atendimento psicológico que terá continuidade no segundo semestre com professores e alunos.

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Além disso, a escola planeja a “busca ativa” de estudantes que não retornarem às salas de aula com apoio dos profissionais da área de saúde mental. De acordo com ele, a porcentagem de frequência dos alunos, nas duas últimas semanas antes do recesso escolar, foi de 75%, em uma média diária.

“No retorno ao segundo semestre, haverá um monitoramento para identificação dos alunos que ainda não conseguiram retornar para as atividades. Assim, podemos fazer uma busca ativa destes estudantes para verificar a real necessidade do encaminhamento psicológico, pois as parcerias serão mantidas para o atendimento da comunidade escolar. Estamos em contato com as famílias para identificar quem são os estudantes que não retornaram e os motivos; se estão buscando ajuda psicológica fora do colégio ou se precisam de encaminhamento”, explica Dante.

A Secretaria de Estado da Educação (Seed) informou à Gazeta do Povo que a empresa IINN Tecnologia Ltda foi contratada para “garantir o pleno funcionamento das unidades escolares de Cambé” e será responsável pela instalação de câmeras de segurança, fechaduras eletrônicas, alarmes e por rondas motorizadas, além de ações para evitar furtos e depredação nos prédios escolares.

O diretor ainda informou que houve alterações no acesso ao portão de entrada do colégio Helena Kolody e implantação de sistema de agendamento para atender a comunidade. O ex-aluno, autor do ataque a tiros, entrou no colégio com a justificativa de retirar o histórico escolar da unidade, onde alegou ter sofrido bullying em um manifesto postado minutos antes do atentado. Após o crime, ele foi preso e encontrado morto na prisão.

“Foi instalado um segundo portão para ter mais uma barreira de segurança no atendimento ao público. Ainda, reorganização nos atendimentos, para que nessas semanas ocorressem por e-mail ou telefone, evitando a circulação de pessoas externas ao ambiente escolar. Estamos formalizando uma agenda de atendimentos com dados pessoais e motivo da visita para fazermos uma triagem”, acrescenta.

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Questionado sobre os pedidos de transferências de alunos para outras escolas após o atentado, ele respondeu que os processos solicitados foram motivados por mudanças de endereços e contratações no mercado de trabalho, sem “nenhum pedido de transferência associado ao fato (atentado)”, de acordo com o diretor.

Professores e estudantes passam por atendimento de psicólogos da UEL

A Universidade Estadual de Londrina (UEL) tem trabalhado no atendimento psicológico coletivo e individual de alunos e professores desde o dia da tragédia, que terminou com a morte dos dois estudantes do colégio Helena Kolody.

A psicóloga Ingrid Ausec, pró-reitora de graduação, informou que o grupo de promoção de saúde mental ficou responsável pelo suporte emocional no atendimento de professores, alunos e equipe pedagógica, além da reorganização das atividades para retorno dos estudantes às salas de aula. A Clínica de Psicologia da UEL também abriu atendimento especial à comunidade escolar até o final deste ano e tem trabalhado na formação dos profissionais nas áreas de luto, tragédia e estresse pós-traumático.

“Apesar do estresse e tristeza, o retorno foi tranquilo e havia a vontade de estar juntos, compartilhando o que cada um estava sentindo com momento de abraços e  cuidado um com o outro”, lembrou.

Ausec afirmou que a oferta de escuta e o processo acolhimento são semelhantes no atendimento de professores e alunos, mas as demandas dos grupos são diferentes. “Os professores trazem questões laborais, de responsabilidade, com percepções diferentes de vida. Também lidam com a proximidade da morte e eventos com ex-alunos de uma maneira diferente do que os estudantes. O que a gente percebe com os adolescentes é que a situação em si, acabou desencadeando a verbalização de outras questões, que envolvem outros gatilhos que vivenciam”, explica.

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A defensora pública Francine Borsato Amorese, que acompanha o atendimento às vítimas, ressalta que os professores ainda precisam lidar com a “carga emocional” para auxiliar os alunos, que podem procurar os docentes por conta da confiança desenvolvida ao longo de anos no ambiente escolar.

Ela também comentou que Núcleos de Enfrentamento de Violência nas Escolas vão planejar ações que coíbam outros casos nos colégio de Cambé, com monitoramento e trabalho contínuo de diferentes segmentos na comunidade. “Não existe solução milagrosa para que não aconteça mais. Por isso é fundamental estudar os diferentes aspectos para que ações sejam tomadas.”

Cronologia do ataque ao colégio Helena Kolody

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]