Enquanto no Paraná ainda não há uma previsão sobre retomada das aulas presenciais, alguns estados ou municípios estão avançando nessa discussão. Mesmo estados em que o impacto do coronavírus foi tardio, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde houve aceleração de casos a partir de junho, há uma indicação de data. No Amazonas, Pará e Ceará já houve retorno, além de algumas cidades do Mato Grosso, sempre de forma gradual e voluntária, sem obrigação, e com a rede particular encabeçando a reabertura.
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Não há uma ação nacional organizada para a retomada, e mesmo dentro do Paraná já há municípios que permitiram a reabertura de algumas turmas de Ensino Médio na rede particular. Segundo o Manual sobre biossegurança para reabertura de escolas no contexto da Covid-19, produzido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz, é preciso fazer a análise epidemiológica local. “O momento de reabertura das escolas deve ser orientado por análises epidemiológicas que indiquem redução contínua de novos casos de Covid-19 e redução da transmissão comunitária da doença”. Essa recomendação também foi feita pela Organização das Nações Unidas (ONU) no início de agosto, ao comentar sobre os prejuízos causados pelo fechamento prolongado das escolas, e por outros especialistas.
“É muito importante a análise epidemiológica, feita pela Fiocruz entre outros, e a análise humanizada também, da Unesco, ONU, Unicef. São vários cenários que devem ser avaliados para um retorno seguro e evitar o afastamento da criança da escola de modo a gerar dificuldades para ela”, disse o vice-diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe, o médico infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Júnior. Ele comenta que o retorno seguro tem ocorrido em regiões com queda na taxa de transmissibilidade ao longo de quatro semanas, mas que o risco permanece, e por isso é importante a parceria entre famílias e escolas quando houver o retorno.
Vários países pelo mundo retomaram as aulas sem relatarem ocorrência de segunda onda de contágio, observou o médico. A única ocorrência de impacto foi em Israel, onde grandes escolas permitiram que crianças ficassem sem máscara pelo calor. “Aqui perto, Argentina, Peru e Uruguai liberaram crianças pequenas e do Ensino Fundamental para a escola, por serem mais dependentes dos pais, que precisavam voltar ao trabalho. Em algumas regiões, começaram pela zona rural, com menor incidência de taxas de transmissibilidade do vírus. É outro raciocínio de retorno”, acrescentou.
No dia 28 de agosto, o governo do Paraná informou que, apesar de uma queda constante no número de novos casos ao longo das últimas semanas, ainda não referenda a volta às aulas. “Temos avaliado diariamente o cenário. E podemos dizer com muita segurança que ainda não temos possibilidade de colocarmos os alunos em sala, os professores e equipes das escolas nesta convivência pessoal, porque precisamos de uma queda efetiva da curva”, ressaltou a diretora de Atenção e Vigilância em Saúde da Sesa, Maria Goretti David Lopes.
Veja dados do Paraná e de alguns estados que já fizeram o retorno ou estão prestes a iniciar. Em todos eles há protocolos de distanciamento social e necessidade de uso da máscara:
Experiências nos estados
O Paraná ainda não definiu data de retorno de nenhuma rede, mas já há decretos municipais liberando algumas turmas de escolas particulares em Foz do Iguaçu, Cascavel, Toledo e Guarapuava. No estado, a pandemia de coronavírus ganhou força a partir de junho. De um total de 127.127 casos registrados até 31 de agosto, 14% foram registrados em junho; 40% em julho; e 42% em agosto. A proporção de óbitos (3.172 no período) segue o mesmo padrão: 14%, 39% e 41%, respectivamente. Entretanto, ao longo das últimas quatro semanas, há queda no número de casos e óbitos.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem encabeçado as discussões no estado, e prevê a reabertura com a Educação Infantil nas redes municipais que quiserem aderir e na rede particular a partir de 8 de setembro. As demais etapas, de forma gradual, a cada 15 dias. A rede estadual deve reiniciar as aulas em 13 de outubro. Segundo texto divulgado pelo governo gaúcho, a primeira infância é a e a mais importante etapa de aprendizagem do ser humano. “É uma etapa de vida que não permite a adoção do ensino remoto e que, portanto, decidimos priorizar. Ao mesmo tempo que termos suspendido as aulas protegeu as crianças e as famílias em relação ao coronavírus, de outro lado também causa outros problemas de saúde, no desenvolvimento psíquico, motor, da capacidade socioemocional e cognitiva dessas crianças, e isso nos preocupa muito”, afirmou. Os dados da pandemia de coronavírus no Rio Grande do Sul são semelhantes aos do Paraná: de um total de 131.095 casos até 31 de agosto, 17% foram em junho; 38% em julho; 36% em agosto. Das 3.499 mortes por Covid-19, a proporção foi de 12%, 39% e 41%, respectivamente.
A reabertura de escolas no Amazonas ocorreu em 6 de julho, com todas as etapas da rede particular, mas o movimento ficou restrito a Manaus. No fim de julho, o governo amazonense declarou que a experiência foi favorável e marcou o retorno da rede estadual para meados de agosto. Até agora, apenas turmas do Ensino Médio voltaram. Pressão de professores fez o governo aplicar testes em massa, o que atrasou o cronograma de retorno. O sindicato da categoria informou o número de 342 casos entre professores, mas sem detalhar se são casos ativos (com possibilidade transmitir o vírus) ou casos recuperados, detectados pelo exame sorológico que mostra os anticorpos. Balanço da Fundação da Vigilância de Saúde do Amazonas mostrou que entre 18 a 28 de agosto foram realizados 2.114 testes rápidos para diagnóstico de Covid-19 nesse grupo profissional, dos quais 162 com infecção recente. Entre abril e agosto, o Amazonas somou 116.904 casos confirmados de coronavírus, dos quais 30% em maio, pico da pandemia naquele estado. Houve decréscimo de casos em junho, mês que respondeu por 25% das notificações; em julho, o índice se estabilizou em 25%, caindo para 16% em agosto, mesmo após oito semanas de abertura das escolas particulares. Das 3.546 mortes registradas no estado, 44% foram em junho, com queda para 21% em junho; 12% em julho e 10% em agosto.
As escolas particulares do Maranhão reabriram em agosto, para todas as etapas. Algumas delas registraram casos de coronavírus, e tiveram que fechar as portas por 14 dias novamente, em cumprimento às regras de isolamento e quarentena. Entretanto, as demais continuaram funcionando. Ainda não há previsão para retorno da rede estadual. Até 31 de agosto o estado registrou 146.192 casos de coronavírus, com pico em junho, com 30% do total; em julho, foram 26%; e em agosto, 21%. Das 3.352 mortes, 31% ocorreram em junho, 28% em julho e 12% em agosto.
A retomada das aulas na rede particular no Pará começou em 1.º de setembro, para todas as etapas, nos municípios que estiverem sob bandeira amarela dentro da estratégia de combate ao coronavírus. Na rede estadual, o retorno está previsto para outubro. A desaceleração da pandemia de coronavírus no Pará está sendo um pouco mais rápida do que no Amazonas: dos 202.432 casos registrados até 31 de agosto, 34% ocorreram em maio; 26% em junho; 18% em julho; e 7% em agosto. As 6.201 mortes decorrentes apresentaram queda ainda mais rápida: 49% ocorreram em maio; 20% em junho; 11% em julho; e 5% em agosto.
A retomada das aulas ocorreu no Ceará em 1.º de setembro, também com a rede particular. Nesse caso, foram autorizadas as etapas de Ensino Infantil e Ensino Superior. A medida pegou algumas escolas de surpresa, porque o anúncio do governo foi feito poucos dias antes, e apenas uma parte reabriu até agora. O Ceará registrou até 31 de agosto 217.012 casos de coronavírus, dos quais 30% em maio; 27% em junho; 21% em julho; e 9% em agosto. As mortes por Covid-19 totalizaram 8.459, das quais 45% em maio; 24% em junho; 14% em julho; e 7% em agosto. Ainda não há previsão de retorno da rede estadual.
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