Quase sempre sisudo, o ambiente dos Tribunais, historicamente, carrega um ar de soberba, superioridade e intocável sapiência. O elevado nível de responsabilidade auxilia na criação de obstáculos entre conselheiros, promotores e até ministros diante da população, cada vez menos aberta a essa realidade. Entretanto, Fernando Guimarães, presidente do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) - DJ nas horas vagas - mostra o lado leve de quem faz do mandato a oportunidade de aproximar o povo da instituição que preside.
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Curitibano, 65 anos e advogado especialista em Direito Público, Fernando Guimarães faz a segunda passagem como presidente do TCE, cargo que ocupou também no biênio 2011/2012. De lá para cá, à parte as prioridades, que de acordo com ele, são as mesmas de 12 anos atrás, muitas coisas mudaram na vida do conselheiro do tribunal. Isso porque, de sexta-feira, após o expediente, ao domingo, Fernando se transforma no Neoclassic DJ, quando o instrumento de trabalho é a música.
“Obviamente, algumas pessoas ainda estranham o fato de alguém ter um cargo como o meu e exercer uma outra atividade completamente distinta. O preconceito, a forma diferente de olhar, ainda existe, mas bem menos que anos atrás. O meu empenho e o meu prazer são os mesmos, onde quer que eu esteja”, afirmou, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.
Ele ressalta que, por muito tempo, a relação entre possuir responsabilidades acima da média (e cobranças) e ter uma vida comum não era compreendida. Fato que o levava a rebater o questionamento. Mais que isso, Guimarães atesta que o trabalho no TCE é essencial para o sucesso com a música.
“Onde está escrito que não posso ser DJ e presidente de um tribunal? A forma de me planejar aqui, eu utilizo, por exemplo, para montar um set list para um evento. Entender o público com o qual estamos interagindo e ter motivação para executar um bom trabalho são questões essenciais para se ter felicidade. Se você respeita o seu ofício, seja dentro ou fora de um gabinete, isso não vai interferir ou te impor pré-julgamentos. Ao contrário, vai conectar pessoas”, explica.
Além de DJ, Fernando Guimarães é instrutor de mergulho e se dedica a fotografar aventuras
Apresentações musicais do presidente do TCE-PR Brasil afora se somam a outros hábitos diferenciados. Apaixonado pelo mar, Fernando é instrutor de mergulho, já teve aquários gigantes em casa e tem o surfe como um dos esportes favoritos. Além disso, utiliza a fotografia como prática indissociável das aventuras a que se propõe.
“Aprendi com o mergulho que a vida tem diferentes etapas e ensinamentos. Mudamos de nível a cada desafio superado, mas sempre estamos amparados nos aprendizados mais básicos. São eles o nosso pilar. O surfe e a fotografia são resultados das mais variadas experiências com o mar e com as viagens que me levam ao meu autoconhecimento. Acredito que tudo que a gente vive nos traz um conhecimento inigualável, que deve ser compartilhado”, destaca.
A moto, bem como os demais gostos, tem um canto especial na vida de Fernando Guimarães. Foi pilotando uma que ele chegou à Cordilheira dos Andes, por exemplo. O presidente do TCE-PR lembra, também, dos tempos em que vendeu queijo e tapete em Santa Catarina.
“Todo momento tem seu desafio particular. Já fui de moto até a Cordilheira dos Andes, mas já vendi tapetes e queijos. Em Bombinhas (SC), criava estampas para camisetas. Olhava desenhos que não tinham relação com a região e criava modelos que, de fato, atendiam às características de lá”, disse.
Instituições devem abrir as portas para o povo
Desde 1994 no TCE, Fernando Guimarães reconhece que viu a instituição evoluir de sobremaneira. Apesar disso, afirma que as mudanças não devem se restringir a falar a linguagem do povo, mas garantir que as portas estejam abertas para o diálogo.
“Estou aqui há quase 30 anos e sei que o Tribunal tem se esforçado e conseguido uma evolução importante perante à sociedade. Afinal, a discussão tem que ser de igual para igual. Você sabe o que se passa na sua comunidade, você tem a informação. Eu tenho a informação técnica, orçamentária e procedimental. Eu vou usar o seu conhecimento e utilizar a minha ciência para tratar um fato. É um caminho de duas mãos”, analisa.
Guimarães aponta para detalhes que são fundamentais para atrair o cidadão para o debate e a construção de resultados. Para ele, entender as peculiaridades regionais é uma forma de respeitar as partes e promover uma discussão justa, além de obter engajamento dos interessados com a comunicação usada de forma correta.
A chave para atrair o público, segundo Fernando Guimarães, está nas mãos das instituições.
“Em uma audiência pública para discutir orçamento ou prestação de contas não vai ninguém. Os horários, os costumes, o assunto complicado, tudo isso atrapalha. Eu sempre dou exemplo da melhor audiência pública que eu vi até hoje, que foi feita às 6h da manhã, pois ia ser discutido na região a política do agronegócio. Que horas o produtor rural acorda? Ele já está acordado e pronto para participar. Ou em 2001, quando Pernambuco divulgou a Lei de Responsabilidade Fiscal em formato de literatura de cordel. São técnicas de Comunicação Social”, exemplifica.
Conhecimento é para ser compartilhado
Fernando Guimarães acredita na necessidade de compartilhar conhecimento como principal diferencial da espécie humana para o animal. Admirador do estudo da Antropologia, o presidente do TCE associa a troca de sabedoria com a efetiva evolução do ser humano.
“Disseminar o conhecimento é dar uma ferramenta para ser cidadão. Nós não podemos esquecer que, seja o Judiciário ou o Tribunal de Contas, quem é o nosso cliente? O gestor? O deputado? Não, é a população. A gente existe para assegurar a estabilidade democrática, orçamentária, fiscal e, no relacionamento diário com as comunidades, você tem mais efetividade nas ações que ninguém vê. Como evitar desperdício, melhoria de política pública, e isso, só com a troca de informação”, enfatiza.
Fernando Guimarães entende que mesmo no embate vai haver evolução. Independente de disputas internas e externas, interesses políticos ou ideológicos, ele vislumbra troca de oportunidades e condições de crescimento enquanto sociedade. “Na essência, compartilhar é fortalecer relações. A origem, evoluímos porque sempre compartilhamos. Mesmo nas disputas tribais, você tem os afins que compartilham conhecimento para a sobrevivência”, concluiu.
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