O mês de janeiro de 2022 foi o último período em que moradores de Curitiba e Região Metropolitana tiveram que passar por rodízio no abastecimento de água. Foram 22 meses sob restrição no fornecimento naquela que chegou a ser considerada a pior crise hídrica da história do estado. Um cenário que poderia ter sido diferente, se a barragem do Miringuava, em São José dos Pinhais, estivesse em funcionamento como previa o plano inicial de construção.
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O edital para a obra foi lançado pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) em maio de 2015. Pelos planos iniciais, o reservatório estaria completo em 38 bilhões de litros de água em meados de 2017. Na prática, a obra sofreu atrasos, por diversos motivos. As previsões da Sanepar passaram para o fim de 2020, depois para o primeiro semestre de 2021, e então 2022 e 2023, consecutivamente.
Em dezembro de 2024, o governo do Paraná anunciou o início das obras da última etapa da barragem. Ao custo de R$ 25 milhões somente para esta fase, o reservatório conta com um novo prazo para entrar em operação: o segundo semestre de 2025.
Área da barragem do Miringuava fica em trecho da Mata Atlântica
Um dos entraves para a liberação da obra foi a necessidade de corte de árvores no local do reservatório. Era necessária uma autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para que 351 hectares de Mata Atlântica fossem derrubados para dar espaço à barragem do Miringuava.
Um estudo contratado pelo Instituto Água e Terra (IAT), em 2020, detalhou as espécies presentes no local, e serviu de base para a análise do Ibama. O órgão federal autorizou o corte das árvores sob a garantia dada pela Sanepar de que haverá uma compensação de área de floresta.
“Estão suprimindo 351 hectares, mas estão previstos nas condicionantes 421 hectares de vegetação. Embora sensíveis à crise hídrica, nos atentamos para tentar reduzir ao máximo o impacto da obra”, disse o superintendente do Ibama no Paraná, Ralph Albuquerque, em setembro, quando a autorização para o corte foi concedida pelo órgão federal.
Nas contas atuais da Sanepar, essa compensação deve ser ainda maior. De acordo com Wilson Bley Lipski, diretor-presidente da companhia, a compensação pelo corte se dará em 700 hectares em uma área de preservação permanente próxima à barragem do Miringuava. “Haverá uma compensação muito forte, com a criação de um corredor de biodiversidade e isso faz com que não só a reservação, a possibilidade de a gente entregar água, mas também trabalhar com a sustentabilidade dentro do contexto de mudanças climáticas. Observamos um regime extremamente anormal de chuvas, então estamos realizando ações concretas”, avaliou, durante visita técnica às obras no início de dezembro.
Reservatório terá capacidade para abastecer 650 mil pessoas
Com capacidade para 38,2 bilhões de litros de água, que ocuparão a área da barragem após o corte das árvores durante a preparação ambiental, a Barragem do Miringuava tem potencial para abastecer 650 mil pessoas. Na capacidade máxima, o reservatório promete fornecer uma “folga” de 10% no suprimento de água para Curitiba e Região Metropolitana.
“Esse reservatório dará segurança de abastecimento, sendo um dos maiores e mais modernos do país. Tudo isso com um olhar da sustentabilidade. Tivemos preocupação de manter a preservação da fauna e flora do entorno, então teremos um corredor de sustentabilidade que vai ajudar a preservar o meio ambiente”, afirmou o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD).
Foram replantados, segundo o governo do Paraná, 110 hectares com mudas de diversas espécies, algumas nativas da região. A área corresponde a 25% do espaço do futuro reservatório. Durante as etapas anteriores, espécimes vegetais resgatados durante as obras foram encaminhados para um viveiro temporário.
De acordo com o IAT, as sementes das árvores cortadas serão destinadas para viveiros do próprio instituto, da Sanepar e de organizações não governamentais (ONGs) locais. Desta forma estaria garantida a preservação do material genético das espécies nativas e a possibilidade de replantio dessa vegetação no entorno da barragem do Miringuava.
“O entorno do reservatório foi recuperado, temos em torno de 500 hectares de áreas protegidas e vamos estabelecer um corredor entre o Miringuava e o Parque Nacional Guaricana. É um verdadeiro corredor de biodiversidade que, além das ações de fauna e de recursos hídricos, minimiza os impactos das mudanças climáticas”, disse o diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Julio Gonchorosky.
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