Presidente da Fiep, Edson Campagnolo apresenta os resultados da Bússola da Inovação 2019| Foto: Gelson Bampi/Fiep

A inovação no contexto industrial do Paraná evoluiu muito timidamente nos últimos dois anos, segundo a mais recente edição da pesquisa Bússola da Inovação, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Em uma escala de 0 a 10, o índice que mede o caráter inovador do setor está em 4,71, apenas 0,07 ponto acima do indicador ajustado observado em 2017. Confira o estudo completo.

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Entre os principais desafios identificados estão a dificuldade de captação de recursos para investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a falta de interação com o ecossistema de inovação, particularmente com incubadoras e parques tecnológicos.

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A pesquisa foi realizada ao longo do ano de 2018 com 906 indústrias de 21 diferentes setores, instaladas em 113 municípios do estado. Dessas, 81% são consideradas de micro ou pequeno porte e 19% de médio ou grande porte. A participação foi recorde: na edição de 2014, 433 empresas haviam participado do levantamento; em 2017, foram 503.

No diagnóstico por atividade econômica, destacaram-se com índices acima da média os setores farmacêutico (6,3), eletroeletrônico (5,9), TICs (5,6), produtos químicos (5,6), alimentos e bebidas (5,3) e borracha e plástico (5,2).

Dificuldade de acesso a crédito

Entre as dimensões avaliadas, a dificuldade de captação de recursos por meio de leis e incentivos voltados à inovação chamou a atenção. Dois terços das empresas utilizaram apenas recursos próprios para atividades de inovação, mostrou o estudo. Entre os principais fatores para o resultado estão o excesso de burocracia; prazos, formas de pagamento e/ou juros não atrativos; a falta de conhecimento sobre linhas de crédito e editais de fomento disponíveis; e a dificuldade na elaboração de projetos para captação de recursos.

“Um país como o nosso tem uma dependência do estado”, diz o presidente do Sistema Fiep, Edson Campagnolo. “Apesar de o estado oferecer recursos por meio dos bancos oficiais, as empresas acabam tendo dificuldade de acesso”. Para Campagnolo, as mudanças de governo nos últimos anos tornam o cenário ainda mais complicado. “Viemos de um período em que tivemos uma presidente deposta, veio um novo governo e logo depois novas eleições”, lembra.

“Cada vez que um novo governo entra, há mudanças no orçamento, pois não temos um planejamento estratégico de país.” Para ele, uma política de estado que estimulasse a inovação permitiria às empresas tornarem-se mais competitivas não apenas no ambiente interno, mas principalmente no cenário internacional.

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Uma dimensão bastante interligada à falta de recursos e também considerada deficiente diz respeito à realização de projetos de P&D, que apresentou um índice de 0,91 em uma escala de 0 a 4. Embora 52% das indústrias tenham afirmado realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento, apenas 9% consideram o tema como altamente prioritário e somente 5% dispõem de procedimentos bem definidos para a área.

Confira os índices por dimensão avaliada:

Fonte: Bússola da Inovação 2019

Há receio entre empresários para fazer grandes investimentos em P&D sem que haja uma garantia de retorno. A Redisul, fornecedora de soluções em tecnologia da informação, por exemplo, investiu na aquisição de uma startup fabricante de equipamentos para Internet das Coisas, mas não foi um “tiro no escuro”, explica o diretor presidente Jorge Heller. “Com 34 anos nesse mercado, conseguimos mensurar o impacto que essa tecnologia teria”, diz.

O resultado atendeu às expectativas da empresa. “O investimento foi de R$ 1,5 milhão para ter uma empresa que, em um ano e meio, fatura 12 milhões”, diz. “Hoje fazemos o produto que o cliente quer, no valor e na velocidade que ele exige”. Entre os maiores clientes da Redisul está a Copel Telecom, que utiliza soluções de gerenciamento remoto de energia para toda a infraestrutura da empresa nos 399 municípios do estado.

Inovação pouco relevante

Outro indicador que reflete bem esse cenário diz respeito aos métodos de proteção de propriedade intelectual. Ao todo, 36% das empresas relataram ter marcas registradas, mas apenas 7% dispõem de registros de desenho industrial ou de patente de invenção. “Isso mostra que nossas inovações não são relevantes”, explica Marília de Souza, gerente executiva dos Observatórios do Sistema Fiep . “Quando tenho uma inovação mais significativa, ela necessariamente precisa de proteção”.

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A solução passaria por uma maior interação das empresas com atores externos para o desenvolvimento de inovação. Nesse quesito, as indústrias paranaenses reportaram relacionamentos mais intensos com clientes ou consumidores (64%), fornecedores (54%), empresas de consultoria (37%) e concorrentes (34%). Na outra ponta, ainda é muito baixa a interação com organizações de financiamento e fomento (14%), órgãos governamentais (12%) e incubadoras e parques tecnológicos (9%).

“Quase 80% das empresas não interagiram com o ecossistema de inovação no processo de desenvolvimento de inovação”, diz Marília. “Essa é uma das principais alavancas para a criação de inovações disruptivas”, afirma. “Precisamos avançar muito na cultura de interação externa”.

Para José Márcio Fernandes, diretor de operações da Tecverde, especializada em soluções automatizadas de construção eficientes, a parceria com universidades é fundamental no desenvolvimento de processos e tecnologias. “Temos mais de 200 estudantes de pós-graduação, mestrado ou doutorado que desenvolvem pesquisas em parceria com a gente”, conta.

Com 160 funcionários e uma fábrica de 6 mil metros quadrados em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, a empresa consegue construir uma casa em uma hora em meia. No ano passado, a Tecverde conquistou o Prêmio CBIC de Inovação e Sustentabilidade na categoria Gestão da Produção e P&D.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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