Resumo desta reportagem:
- Vereadores de Curitiba aprovaram moção de repúdio às falas de Gilmar Mendes sobre a capital do Paraná ter o "gérmen do fascismo".
- Dois projetos envolvendo o ministro do STF ainda tramitam na Câmara Municipal de Curitiba: um quer revogar o título de cidadão honorário concedido a ele em 2002 e o outro quer torná-lo "persona non grata".
- Vereadores favoráveis ao projeto classificaram as declarações de Gilmar Mendes como preocupantes.
- Vereadores contrários à moção de repúdio defenderam que as falas do ministro foram tiradas de contexto.
A Câmara Municipal de Curitiba aprovou, nesta terça-feira (16), uma moção de desagravo à capital do Paraná, em repúdio às declarações dadas pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no último dia 8 de maio. Na ocasião, o ministro disse que Curitiba “tem o gérmen do fascismo”.
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Dos 36 vereadores presentes no momento da votação, 25 votaram favoravelmente ao desagravo e três foram contrários – Professora Josete (PT), Giorgia Prates (PT) e Maria Letícia (PV). Outros dois projetos ainda tramitam na Casa envolvendo o nome de Gilmar Mendes: o primeiro quer revogar o título de Cidadão Honorário concedido ao ministro em 2002; o segundo é um requerimento para torná-lo “persona non grata” em Curitiba.
Ministro foi comparado a "garoto ativista"
Durante a discussão, o vereador Eder Borges (PP) comparou as declarações de Mendes às de “um garoto ativista dessas universidades públicas brasileiras”. Ele lembrou da importância da Suprema Corte para a “estabilidade de qualquer país civilizado”, e classificou como preocupantes as falas do ministro.
“Nós, como curitibanos, não podemos fazer malabarismos, ‘passar pano’ e aceitar declarações como esta. Declarações que colocam o povo da nossa cidade com inclinações totalitárias, fascistas, o que definitivamente não é o caso”, apontou o parlamentar.
Falas de Gilmar Mendes teriam sido tiradas de contexto
Já a vereadora Professora Josete (PT), contrária à moção de repúdio, disse que nunca foi uma “admiradora contumaz” de Mendes. Mas, segundo ela, é preciso ser justo em relação à fala do ministro. A vereadora disse que assistiu à entrevista na íntegra para poder definir seu posicionamento “baseada na verdade, na interpretação da fala e no contexto onde o ministro do STF trouxe a afirmação”.
“Quando ele fala do ‘gérmen do fascismo’ ele se refere à Lava Jato e às consequências da operação. A Operação Lava Jato, a partir de suas ações e de uma postura midiática, que não cabe ao Ministério Público, aos juízes e operadores do Direito, virou uma forma de colocar em evidência determinadas figuras que à época se colocavam acima do bem e do mal. Desqualificaram a política de uma forma que levou, sim, setores mais conservadores e setores fascistas a emergirem do esgoto e passarem a defender abertamente preconceitos, violência e trazer um ódio que cega as pessoas”, disse.
Ataque à Lava Jato foi "ataque pessoal ao povo de Curitiba"
Rodrigo Braga Reis (União Brasil) afirmou que a maioria dos curitibanos apoia a Operação Lava Jato, que segundo ele “devolveu bilhões de reais aos cofres públicos”, e reforçou o repúdio às falas de Mendes. “Este é o povo de Curitiba. Curitiba é o que dá certo no Brasil. Curitiba tem um povo guerreiro, trabalhador e que defende a Justiça e as coisas corretas. Quando o ministro ataca a Lava Jato, e o povo de Curitiba aprova a Lava Jato, então é um ataque pessoal ao povo de Curitiba”.
Em um aparte, Pier Petruzziello (PP) reforçou que a discussão não deveria ser polarizada entre direita e esquerda, e que o Legislativo de Curitiba estava votando uma moção de desagravo à cidade pela fala de Gilmar Mendes. “Não tem Lula, nem Bolsonaro, nem o Moro ou o Deltan. Houve uma fala pesada do ministro? Houve. Ponto final. Não é uma votação contra o ministro Gilmar Mendes, mas contra o que ele falou. Não é uma retaliação ao ministro, à pessoa do ministro. Ele ataca a cidade de Curitiba, ele errou e foi grave, por isso eu assinei e vou votar a favor”, explicou o vereador.
Relembre o caso
Ao comentar sobre o desenrolar dos fatos que culminaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) - inclusive sobre a decisão proferida por ele mesmo à época, que não permitiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumisse como ministro-chefe da Casa Civil, o que impactaria nas investigações pela Lava Jato de Curitiba - o ministro afirmou, no programa Roda Viva da TV Cultura:
“Curitiba gerou Bolsonaro, Curitiba tem o germe do fascismo. Inclusive todas as práticas que desenvolvem, investigações a sorrelfa [dissimulação silenciosa para iludir], investigações atípicas, não precisa dizer mais nada.”
A declaração repercutiu no meio político. O deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos), ex-procurador da Lava Jato, disse que o ministro vota “sistematicamente em favor da absolvição e anulação de sentenças de corruptos”. E o senador Sergio Moro (União Brasil), ex-juiz dos processos da operação, enfatizou que “Curitiba não é cidade na qual se tolera corrupção”.
O governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), postou em seu perfil no Twitter que “o ministro Gilmar Mendes certamente vai esclarecer uma fala infeliz, que ataca gratuitamente Curitiba e os paranaenses”. O ministro retratou-se, horas depois, dizendo que jamais quis ofender o povo curitibano em suas declarações contra a Operação Lava Jato e que a crítica foi direcionada aos membros da força-tarefa e à chamada “República de Curitiba”.
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