A Câmara Municipal de Curitiba aprovou, nesta semana, o título de Cidadania Honorária ao filósofo Olavo de Carvalho, falecido aos 74 anos nos Estados Unidos em janeiro de 2022. A homenagem póstuma foi aprovada em segundo turno por 14 votos a 9 – o placar foi mais elástico do que na primeira apreciação do projeto no plenário da casa, quando a honraria recebeu 8 votos favoráveis e 7 contrários. O texto agora segue para sanção do prefeito Rafael Greca (PSD).
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O projeto foi apresentado pelo vereador Éder Borges (PP) em novembro de 2021. “Esse projeto foi feito quando ele ainda era vivo, mas ele veio a falecer durante o processo de tramitação. Fiz questão que fosse votado em abril, que é o mês de aniversário do professor”, reforçou o autor da proposta, na sessão do último dia 4 de abril, quando o texto foi aprovado na primeira discussão.
Contrário à proposta, o vereador Dalton Borba (PDT) se manifestou duramente contra a homenagem, naquele mesmo dia. “Curitiba é uma cidade conservadora e liberal, sim, mas ela sabe distinguir bem um conservador de um fascista. O mundo produziu muitas figuras públicas que foram uma mancha, uma excrescência na história do mundo, como Hitler. Olavo de Carvalho proferiu as maiores excrescências que uma boca humana pôde manifestar na história do mundo”, disparou.
Polêmica seguiu na segunda discussão do projeto
Na segunda discussão do projeto, realizada no plenário da Câmara Municipal de Curitiba no último dia 10 de abril, um acordo foi feito entre os vereadores para que favoráveis e contrários à proposta só se manifestassem durante o período de encaminhamento da matéria. Na prática, apenas o autor e as lideranças tiveram tempo de fala, sem direito a apartes. Mas nem por isso houve menos polêmicas nas manifestações dos vereadores.
Indiara Barbosa (Novo), ainda durante o pequeno expediente no início da sessão, chamou a atenção dos vereadores para os valores destinados pela Casa para proposições como cidadanias honorárias, declaração de utilidade pública e indicação para nomes de ruas. Segundo ela, sua fala não deveria ser vista como um ataque a nenhum dos pares – ela votou favoravelmente à concessão da honraria a Olavo de Carvalho – mas sim como uma reflexão.
“São projetos que não trazem melhorias significativas, não trazem melhorias diretas ao cidadão curitibano. Tem sim pessoas que contribuíram de forma significativa para a nossa cidade, e merecem ser homenageadas. O problema é a quantidade de homenagens de cada vereador por mês, por ano. Para a tramitação de um projeto, passando pelas comissões, o tempo dos servidores da Casa, nós gastamos cerca de R$ 200 mil. É muito dinheiro. Desde o começo da nossa legislatura nós já gastamos em torno de R$ 18 milhões só para tramitar esse tipo de projeto. É o mesmo valor de um contrato recente que foi feito para a contratação de ambulâncias pela nossa cidade. Será que é isso mesmo que a população espera de nós?”, indagou a vereadora.
Contrário à proposta, o vereador Angelo Vanhoni (PT) afirmou que reconhecia a dificuldade em se opor a uma homenagem feita em nome de toda a cidade de Curitiba. Porém, completou o petista, “não tenho como não me manifestar contrário a Olavo de Carvalho”. “Eu não sei o quanto todos nós o conhecemos, mas as ideias dele são muito contraditórias. Olavo não faz uma crítica ao nazismo. O flerte com o regime autoritário, com uma sociedade autoritária está no centro do seu pensamento. É um pensamento radical de extrema-direita que quer, pelo medo, aglutinar a desorganização da vida. Curitiba não merece isso”, criticou o vereador.
Giorgia Prates (PT) leu trechos do livro “Meu pai, o guru do presidente”, escrito por Heloísa de Carvalho, filha de Olavo, para embasar seu voto contrário. “[Olavo] foi negacionista, foi contra a vacina, contra as máscaras. É assustador o número de pessoas que morreram por seguir esse pensamento. Não podemos normalizar pensamento de ódio”, comentou.
Mudança por pressão do eleitorado
Professor Euler, do MDB, tinha deixado o plenário para não votar na primeira discussão, e na sessão desta semana declarou voto contrário à proposta. A mudança se deu, explicou o vereador, por pressão de eleitores. “É o típico projeto que não beneficia nenhum dos 2 milhões de habitantes de Curitiba, só beneficia o autor da proposição. Não beneficia nem o homenageado, que está morto. Ninguém vai lembrar de Olavo de Carvalho. As pessoas não vão sair mais violentas. É só uma guerra de narrativas”, afirmou.
Apoiadores ressaltaram influência de Olavo de Carvalho no pensamento conservador dos curitibanos
Em defesa do projeto de sua autoria, Borges argumentou que seria uma grosseria por parte dos vereadores de Curitiba “negar o título a um pensador importante”. “Convido a todos para que leiam Olavo de Carvalho, pois ouvimos argumentos preconceituosos de pessoas que não o leram e frases que ele não disse. Não sei por que tanto ódio. Lula recebeu título dessa Casa, por que não podemos dar um a Olavo?”, questionou.
Rodrigo Braga Reis (União) foi outro que defendeu a concessão da honraria. De acordo com o vereador, Olavo de Carvalho “é um dos pensadores da direita conservadora mais importantes do mundo”. “Hoje, temos militância forte, que vai para a rua, que briga pelos seus direitos, e Olavo foi importante para a formação da militância conservadora brasileira”, completou o vereador, que também creditou à influência do filósofo junto aos conservadores e à direita da capital paranaense a expressiva votação recebida por Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das Eleições 2022 – 64,7% dos votos válidos.
Como votaram os vereadores de Curitiba
Votaram a favor da homenagem póstuma Eder Borges (PP), Beto Moraes (PSD), Ezequias Barros (PMB), Indiara Barbosa (Novo), João da 5 Irmãos (União), Oscalino do Povo (PP), Osias Moraes (Republicanos), Pastor Marciano Alves (Solidariedade), Pier Petruzziello (PP), Rodrigo Braga Reis (União), Sabino Picolo (União), Sargento Tânia Guerreiro (União), Sidnei Toaldo (Patriota) e Zezinho Sabará (União).
Foram contrários Angelo Vanhoni (PT), Bruno Pessuti (Pode), Dalton Borba (PDT), Giorgia Prates - Mandata Preta (PT), Herivelto Oliveira (Cidadania), Leonidas Dias (Solidariedade), Marcos Vieira (PDT), Professora Josete (PT) e Professor Euler (MDB).
Registraram abstenção Amália Tortato (Novo), Mauro Bobato (Pode), Mauro Ignácio (União) e Nori Seto (PP). Regimentalmente, o presidente Marcelo Fachinello (PSC) só votaria em caso de desempate.
Alexandre Leprevost (Solidariedade), Hernani (PSB), Maria Leticia (PV), Noemia Rocha (MDB), Salles do Fazendinha (DC), Serginho do Posto (União), Tico Kuzma (PSD) e Tito Zeglin (PDT) estavam ausentes do plenário na hora da votação.
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