Com uma população de apenas 95 mil habitantes e quatro mortes já registradas por Covid-19, Campo Mourão, no Centro-Oeste do estado, foi destaque negativo no último boletim epidemiológico do coronavírus divulgado pelo Ministério da Saúde no dia 11 de abril. Considerando o número de óbitos por regional de saúde, o Ministério apontou a 11ª regional de saúde do Paraná, que abrange Campo Mourão e outros 19 municípios, como a 5ª com maior índice de mortalidade do país, com 12 mortes para cada 1 milhão de habitantes, situação que levou o prefeito da cidade, Tauillo Tezelli, a ampliar o decreto municipal com as medidas de isolamento social na cidade.
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A 11ª regional de saúde tem uma população de 331 mil habitantes. Na data do último boletim do Ministério, eram contabilizadas, na região, apenas as quatro mortes de Campo Mourão. Depois disso, ocorreu um óbito em Campina da Lagoa e um em Iretama, o que eleva o índice da região para 18 mortes por milhão. Considerando apenas o município, o índice é de 42 mortes por milhão. No boletim do dia 11, só as regiões de São Paulo, 1ª Região de Fortaleza, Vales do Rio Negro e Solimões (no Amazonas) e Franco da Rocha (SP) apresentavam índice superior à da região de Campo Mourão.
Por conta deste índice, desde a última segunda-feira, é obrigatório o uso de máscaras por toda a população em circulação em vias e espaços públicos e mercados e supermercados estão proibidos de vender eletrodomésticos, eletroeletrônicos e artigos de vestuário, entre outros, tendo seu funcionamento limitado ao comércio de produtos alimentícios, de higiene e limpeza. Hotéis e similares também estão proibidos de aceitarem novos hóspedes de outras cidades.
“A gente tem apoio da população nas medidas, a maioria concorda que esse é o caminho necessário, no entanto, nem todas estão fazendo a sua parte. Estão circulando, recebendo visitas, indo ao supermercado sem real necessidade, achando que estas movimentações são mínimas”, relata o secretário de saúde do município, Sergio Henrique dos Santos. Ele conta que a prefeitura vem recebendo grande pressão de empresários contra as regras de restrição, mas baseia sua posição em recomendações das autoridades de saúde. “A pressão do setor econômico é grande, recebemos carta das entidades comerciais e industriais pedindo a reabertura. Mas, ao mesmo tempo, o Ministério Público recomendou que a reabertura ocorra apenas com embasamento científico. E nosso comitê de crise, formado por profissionais de saúde, entende que ainda não é o momento. Estamos administrando a pressão dos dois lados, entre a cruz e a espada”. diz.
O secretário reconhece que o índice de mortalidade na cidade é preocupante, mas destaca que as medidas de contenção vêm dando resultado. “O nosso índice é bem alto, 4 para 100 mil habitantes é bem fora da curva. Por isso renovamos e, até endurecemos o decreto municipal para prevenção. Mas estamos há 10 dias sem ninguém novo entrar em UTI. Nosso grande fluxo foi entre 19 de março e 03 de abril, quando ocorreram os quatro óbitos. Depois disso não teve mais ingresso. Temos seis pacientes em UTI, sendo que dois são de um município vizinho, Araruna. E temos mais dois pacientes em enfermaria”, relata. “Nossa estrutura é de 15 leitos de UTI exclusivos para Covid (10 SUS e 5 convênios) e 25 leitos de enfermaria, com apenas três ocupados. Estamos abaixo dos 50% da estrutura hospitalar, por enquanto, está de acordo, o que preocupa, mesmo foi esse índice de positivos e de mortalidade. E, no entendimento da equipe, a contaminação comunitária está instalada na cidade”, comenta.
Diante da situação local, Campo Mourão recebeu uma remessa extra de testes laboratoriais “Testamos mais de 150 pessoas nos últimos três dias. Só ontem tivemos 69 negativados, principalmente em profissionais de Saúde, da Santa Casa, da UPA e do Samu. Agora, chegarão os testes rápidos, que serão importantes, porque conseguiremos fazer um bloqueio dos positivos muito mais rápido”, diz o secretário.
Atenção a Campo Mourão e Maringá
O alto índice de mortalidade em Campo Mourão chamou a atenção da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), que enviou, no último sábado, uma equipe para a cidade. “Mesmo o Paraná puxando para baixo o coeficiente de incidência (o estado tem 59 casas para cada 1 milhão de habitantes, enquanto a média nacional é de 98), quando a gente olha as regionais de Campo Mourão e Maringá, nós nos assustamos. Então, estamos com todos os nossos olhares para essas duas grandes regiões. Para entender o que está acontecendo lá, uma equipe esteve na região no sábado para analisar os serviços”, conta a diretora de Vigilância e Atenção em Saúde da Sesa, Maria Goretti David Lopes. “Vimos, ali, uma dificuldade no manejo clínico, na atenção a esses pacientes graves. A avaliação é que a estrutura da Santa Casa tem condições, tem a infraestrutura necessária, mas vamos investir na capacitação dos profissionais, principalmente médicos e enfermeiros, para discutir detalhes da atenção: em que momento está entubando, se está ou não entrando com a cloroquina e quando. Todos os passos para podermos entender acompanhar e evitar mais mortes. E, mais importante, ainda, o trabalho da vigilância. Ver os contatos dos casos positivos, separar e isolar os com sintomatologia, para tentar controlar a contaminação”, acrescenta. A regional de Maringá tem, até esta terça-feira, 39 casos e seis mortes.
Além da relação de morte pelo número de habitantes, a diretora da Sesa chama atenção para a mortalidade em relação ao número de casos em Campo Mourão. “Se comparar com Curitiba, por exemplo, que foi por onde começou a contaminação no Paraná, que tem uma circulação maior de pessoas, grande contingente populacional, tem 302 casos com sete óbitos e lá tem 21 casos com quatro óbitos. Não tem parâmetro, isso está muito fora da curva, precisamos tomar providências”, disse, defendendo as medidas da prefeitura que classificou como “distanciamento social ampliado”.
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