A redução na procura por ajuda médica durante o período de pandemia fez despencar também o número de diagnósticos de câncer em crianças e adolescentes nos principais centros de referência oncológica. Segundo os especialistas consultados pela Gazeta do Povo, vários casos já deixaram de ser identificados e, infelizmente, devem significar mais doentes em estágio avançado nos próximos meses. Situação semelhante aconteceu com adultos, com estimativa estatística de 1,5 mil diagnósticos no Paraná a menos no primeiro semestre de 2020, em relação ao mesmo período do ano anterior.
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No pronto-atendimento pediátrico a diminuição dos atendimentos também foi percebida. É o caso do Hospital Pequeno Príncipe (HPP), que registrou 55% menos movimento no PA nos meses de março a julho, tomando por base o mesmo momento de 2019. Os médicos notaram mais casos de apendicite e pneumonia, por exemplo, chegando em fases mais críticas. Na área oncológica, isso também está acontecendo. A diminuição foi de 78% nas chamadas primeiras consultas do Sistema Único de Saúde (SUS). A quantidade de exames também é um indicador importante. Em fevereiro – portanto, antes da pandemia – foram realizadas 240 investigações de anatomia patológica. A média mensal caiu para 151 de março a julho.
A chefe do serviço de Oncologia e Hematologia do Hospital Pequeno Príncipe (HPP), Flora Mitie Watanabe, comenta que os números menores dos últimos meses, na casa de 40%, terão consequências. “Infelizmente, estamos esperando receber mais crianças em estágio tardio”, diz. Ela lembra a importância do diagnóstico precoce em crianças e adolescentes, resultando em tratamento mais efetivo. A médica reforça que, nos casos juvenil e infantil, não há como fazer a prevenção do câncer, com redução de fumo, álcool e mudanças na alimentação. Normalmente, são situações mais ligadas a fatores genéticos. Flora destaca que as queixas iniciais de problemas oncológicos são muito comuns a outras patologias, como febre ou dor de barriga. Ela recomenda que, se a família tiver acesso a um profissional, como um pediatra, pode tentar uma avaliação prévia por telefone.
A chefe do departamento de pediatria do Hospital Erasto Gaertner (HEG), Mara Albonei Dudeque Pianovski, também reforça a importância do diagnóstico precoce, quando são muito mais curáveis. A médica reforça que, embora mais suscetível ao tratamento, o câncer em crianças e adolescentes evolui muito rápido. Assim, o tempo é um fator primordial. Ela conta que o HEG registrou 30% menos pacientes na oncologia pediátrica em comparação com o primeiro semestre do ano anterior. Em 2019 deram entrada 72 novos pacientes e, agora, foram 49. “Só a diminuição dos atendimentos já é uma preocupação”, resume. Para a profissional, o mais provável é que o medo de ser contaminado pelo novo coronavírus esteja afastando as pessoas dos ambientes hospitalares.
A médica prevê que a demanda represada virá nos próximos meses. Casos mais avançados de câncer exigem tratamentos mais invasivos e com dosagens mais altas, eventualmente com cirurgias mais drásticas e comprometimento de mais órgãos. Assim, com menos chance de cura. Mara enfatiza que não há motivos para deixar de procurar atendimento, reforça que os estabelecimentos de saúde tomaram medidas preventivas para tornar seguro o ambiente hospitalar, que o câncer é uma doença grave e, por fim, assegura que o HEG dispõe de estrutura para atender os casos represados até agora.
Os pais e responsáveis devem procurar ajuda, presencial ou por telemedicina, quando a criança ou o adolescente apresentar condições persistentes, embora algumas sejam semelhantes a doenças comuns nessa faixa etária, como febre. Mara lembra que os sintomas variam de acordo com o tipo de câncer, mas alguns sinais de alerta são: íngua que não diminua de tamanho ao longo de duas semanas, palidez constante (a pessoa não volta a ficar corada), sangramentos, dor óssea a ponto de diminuir a atividade normal, apatia, abdome inchado, manchinha branca no olho, puberdade precoce ou aumento de volume repentino em alguma parte específica do corpo.
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