Começou como hobby para alguns enquanto, para outros, era mais uma opção de diversificação econômica na propriedade. Hoje, no entanto, a criação de ovinos de corte (para churrasco mesmo) nos Campos Gerais do Paraná marcha rápido rumo à profissionalização, alavancada por um projeto da cooperativa Castrolanda, tradicional na produção de leite.
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Depois de angariar um grupo de cooperados para a atividade, a cooperativa lançou a marca própria ‘Cordeiro Castrolanda’, presente hoje em mercados gourmets, casas de carne e restaurantes dos Campos Gerais, Curitiba e Londrina e vem sendo reconhecida pelo público consumidor como sinônimo de qualidade.
“A ovinocultura não é tradição em nossa região. Começou há cerca de 10 anos como uma complementação para otimizar os recursos da propriedade e fazer a integração lavoura/pecuária, transformando as pastagens de inverno em carne com maior valor agregado”, diz Tarcísio Bartmeyer, coordenador de produção e responsável pela marca ‘Cordeiro Castrolanda’.
Como a região é tradicional na pecuária leiteira, é muito comum entre os cooperados o cultivo de lavouras de inverno voltadas à alimentação animal, como aveia e azevém. Para um aproveitamento melhor desses recursos, e como forma de oferecer uma alternativa a mais de renda aos cooperados, a Castrolanda passou a incentivar a criação de carneiros com o objetivo de produção de carne prime.
Desde que iniciou o projeto, a produção tem crescido entre 5 e 10% ao ano, mas ainda é pouco para atender a demanda que cresce muito mais. “A carne de cordeiro tem sido muito procurada pelo preço atrativo e porque hoje há oferta de produto com qualidade”, destaca Bartmeyer. Segundo ele, a meta da cooperativa é nos próximos três anos acelerar o ritmo de crescimento a uma média anual de 30%.
Atualmente, 5 mil cordeiros vão para o abate por ano, o que rende 110 toneladas de carne. São 28 cooperados que se dedicam à atividade. Para crescer, é preciso atrair novos criadores porque a maioria dos atuais já está no limite da ocupação de suas áreas. “Estamos procurando produtores rurais que estejam num raio de 100 quilômetros da cooperativa para se juntarem ao projeto”, diz Bartmeyer.
Mas, ele avisa: a exigência em relação à qualidade é grande. Todos os animais são rastreados. É preciso seguir o modelo de manejo, garantir uma boa alimentação com pastagens de qualidade e ração livre de antibióticos e assegurar o bem-estar animal. Tudo isso, aliado à genética, é o que garante a qualidade da produção e, em consequência, uma carne prime que agrada ao consumidor mais exigente.
Brasil ainda é importador de carne de cordeiro
O coordenador reforça que mercado existe. “O Brasil é importador de carne ovina. Nós podemos ampliar para abastecer o mercado interno e também exportar”, observa. A Castrolanda ainda não tem abatedouro próprio. Utiliza um terceirizado na região, que conta apenas com o Serviço de Inspeção do Paraná (SIP), o que limita a comercialização dentro do estado.
“O tamanho da atividade ainda não justifica investir em planta própria de abate”, diz o coordenador do projeto, mas ele afirma que a cooperativa já tem planos, e inclusive o projeto pronto, para uma unidade própria, que deve ser implantada nos próximos anos. O abatedouro próprio deve contar com o Serviço Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi), que garante venda em todo o território nacional, ou com o Serviço de Inspeção Federal (SIF), que permite a exportação.
A expectativa dele é que mais produtores entrem na atividade para a produção crescer e justificar o investimento. “É comum na região criarem carneiros como um hobby e para ter uma carne diferenciada para consumo próprio. Estamos provando que é possível ir além e tornar a atividade um negócio a mais na propriedade”, destaca.
De hobby a novo negócio, criação de cordeiros atrai mulheres e filhos
A cooperada Renata Maria Moreira Jager é um exemplo de quem soube transformar o hobby em negócio. A criação de carneiros era apenas um passatempo para o sogro. Ela e o marido Marcelo são cooperados da Castrolanda desde 1998, com agricultura e criação de suínos.
“Decidimos transformar o hobby dele num negócio, eu me senti motivada com a criação de ovelhas e assumi a atividade”, conta Renata. Hoje, o trabalho na Agropecuária Maré, empresa do casal, é dividido: o marido cuida da agricultura e dos suínos e Renata da criação de ovelhas. Ela mantém um plantel de mil matrizes e tem planos para dobrar esse número até 2023.
“É bem comum aqui na região as mulheres assumirem a ovinocultura”, conta Bartmeyer. Segundo ele, quando a mulher se envolve, os filhos se interessam mais pela atividade e começam a perceber a importância do negócio para a família. “Isso faz com que as novas gerações também se envolvam, o que acaba favorecendo a sucessão familiar no campo, evitando o êxodo rural”, pontua.
Luiz Carlos Klempovus, outro cooperado que participa do projeto Cordeiro Castrolanda destaca a atuação da cooperativa como fundamental para o sucesso do negócio. “Crescemos graças a uma cooperativa atuante. Sem a assistência técnica e sozinhos não seria possível. Pouca gente conhece esse ramo”, diz Klempovus, que mantém a agropecuária Boa Esperança em sociedade com Eloy de Souza Ribeiro.
Ele conta que começou com 300 matrizes e hoje tem 2 mil, o que rende cerca de 850 a 900 cordeiros por ano. “Os machos são criados para o abate e as fêmeas são mantidas para ampliar o plantel de matrizes”, explica. Klempovus e o sócio investem em genética e no cruzamento das raças Texel e Ile de France, voltadas à produção de carne. O cordeiro vai para o abate com cinco meses de idade, o que rende uma carne macia e saborosa.
“Já temos qualidade. Agora é preciso ampliar a produção para atender o mercado”, observa Klempovus, que integra o comitê de ovinocultura da Castrolanda. Segundo ele, a procura por carne ovina está crescendo. “Antes era mais comum em épocas de festa: Natal, Ano Novo e Páscoa. Agora já se consome o ano inteiro”.
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