Em um cenário de dificuldades para inovação no setor industrial do Paraná, algumas empresas se destacam com iniciativas que geram novos produtos e processos, agregando competitividade no mercado e consequentemente retorno financeiro. No lançamento da edição de 2019 da pesquisa Bússola da Inovação, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) selecionou quatro cases de inovação que chamaram a atenção nos últimos anos.
Confira abaixo um pouco do que faz Tecverde, Ensolab, Redisul e Cinq serem consideradas inovadoras:
Fábrica de casas
Entre as empresas reconhecidas pela Fiep como cases de inovação, a Tecverde mostra como novos processos produtivos podem ser um grande diferencial. A empresa, fundada em 2010 a partir de um edital de inovação, é literalmente uma fábrica de construção civil. Em uma planta de 6 mil metros quadrados na cidade de Araucária, região metropolitana de Curitiba, produz de forma automatizada paredes, com aberturas para portas e janelas e já com a parte elétrica e hidráulica. No canteiro de obras, uma casa do padrão do programa Minha Casa Minha Vida é montada em aproximadamente uma hora e meia, enquanto um prédio de quatro pavimentos é levantado em apenas sete dias. “A inovação sempre esteve no nosso DNA”, conta José Marcio Fernandes, co-fundador e diretor de operações da Tecverde. “Nosso sonho era mudar a realidade da construção civil para um modelo mais industrializado.”
Mas Fernandes ressalta que a inovação é um processo contínuo. A Tecverde mantém uma área dedicada à pesquisa e desenvolvimento (P&D), com laboratórios para análise de desempenho térmico, higrotérmico e acústico, e busca constantemente novas tecnologias de construção. “Recentemente, por exemplo, estive no Canadá para visitar um prédio de 18 pavimentos construído totalmente com estrutura em madeira”, conta. “É uma tecnologia que temos estudado, para produzir prédios cada vez maiores de maneira industrializada.”
A interação com a academia é um ponto chave para inovar. “Temos pedidos de patentes de itens específicos da nossa tecnologia e também o desenvolvemos muitos processos para a manufatura”, diz. “Isso é possível por causa de parcerias que mantemos com universidades: temos mais de 200 estudantes de pós-graduação, mestrado ou doutorado que desenvolvem pesquisas conosco.” Com grandes incorporadoras do país entre seus clientes, a empresa já entregou mais de 3,5 mil imóveis em oito estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e hoje tem capacidade de produzir 2 mil unidades por ano.
Nicho para inovar
A Ensolab, que fornece soluções em energia limpa e renovável, foi fundada em 2015, quando Fabiano Fenelon, Rodrigo Martins e Sandro Vieira, todos profissionais da área de tecnologia, se depararam com um cenário preocupante e ao mesmo tempo promissor. Primeiro por causa da demanda crescente por energia e, ao mesmo tempo da limitação na capacidade de geração por fontes tradicionais. “A descentralização dessa geração é fundamental”, avalia Rodrigo Martins. “Mas embora seja promissor, o setor de energia não é mais fácil de lidar”, diz. “A inovação é uma estratégia de competição para nossa empresa.”
O principal produto desenvolvido internamente já está em fase de prototipação. Trata-se de um sistema portátil que integra geração e armazenamento de energia, ideal para utilização em áreas remotas, em que há dificuldade de acesso à rede de distribuição tradicional. “A partir daí, há um desdobramento para uma família de produtos, que seriam geradores em outras escalas”, explica Martins.
Segundo o sócio da Ensolab, o conceito que norteia as operações da companhia é o da inovação aberta, que envolve a participação de todos os atores que interagem com a companhia: clientes, fornecedores, institutos de pesquisa, sem esquecer, é claro, dos esforços internos. “É um conceito que boa parte das empresas ainda não assimila muito bem, porque é preciso considerar trabalhar com pessoas além dos limites da empresa.”
Inovação após 30 anos
Engana-se quem pensa que a inovação surge apenas em empresas recém-fundadas. Depois de mais de 30 anos no mercado, a Redisul, que fornece soluções em tecnologia da informação, percebeu que precisava se reinventar pois já não dava conta das demandas dos clientes. “Importávamos equipamentos de vários fabricantes e fazíamos a instalação, o gerenciamento e a manutenção”, conta Jorge Luis Heller, presidente da empresa. “Nos últimos anos, sentimos a dificuldade de depender de um fornecedor estrangeiro e de estar preso à velocidade que a fabricante oferecia.”
Em 2017, a empresa investiu R$ 1,5 milhão na aquisição de uma startup que atuava no desenvolvimento de hardware. Estruturada como uma divisão da Redisul, a L1 Smart Solutions investiu em P&D e viu a demanda crescer 300% em um ano. Hoje o grupo dispõe de uma planta industrial em Curitiba com 14 robôs em operação para a montagem de componentes. Entre os produtos fabricados estão equipamentos para automação e monitoramento de eficiência energética com sensores para coleta de dados e gerenciamento de rede de iluminação, sistemas de ar condicionado, bancos de baterias e controle de acesso.
No último ano, o faturamento da divisão foi de R$ 12 milhões. “Com 34 anos nesse mercado, conseguimos mensurar o impacto que essa tecnologia teria”, diz Heller. “Hoje fazemos o produto que o cliente quer, no valor e na velocidade que ele exige.” Entre os maiores clientes da Redisul está a Copel Telecom, que utiliza soluções de gerenciamento remoto de energia e dos sistemas de ar condicionado de todos os equipamentos de transmissão de dados da empresa no estado.
Estímulo ao público interno
Embora tenha inovação literalmente no nome, a Cinq (sigla para ‘Comprometimento, Inovação e Qualidade’) já tinha deixado para trás a fase de experimentação, segundo um dos fundadores, Carlos Alberto Jayme, atual diretor de crescimento. “Tivemos a fase inovadora, de startup, que arriscava, aprendia e crescia”, conta. “Depois que a empresa se estruturou, virou de médio porte, ficou focada em processos, muito quadradinha.” A fabricante de software, fundada em 1992, iniciou sua reinvenção em 2008, depois que uma alfinetada de um cliente. “Ele disse ‘vocês são muito bons, têm qualidade, mas fazem exatamente o que a gente pede’”, conta Jayme. “Aquilo mexeu muito com a gente.”
A empresa então implantou uma área de gestão da inovação, passou a participar do Núcleo de Apoio à Gestão de Inovação (Nagi) da Fiep, criou um funil de ideias, no qual colaboradores poderiam sugerir iniciativas que seriam votadas pelos demais. “Foi um fogo de palha; a coisa não embalou”, lembra o diretor. A mudança aconteceu mesmo depois de um investimento na cultura interna. Em 2018, a Cinq mudou da sede anterior, que consistia em várias salas espalhadas, para uma grande área única, conectada por três estruturas: uma copa grande, onde as pessoas podem interagir livremente; o Cinq Tech, área destinada a treinamentos e experimentações, onde qualquer pessoa, interna ou externa, pode fazer palestras sobre qualquer tema; e o Cinq Lab, unidade também de livre acesso, onde qualquer colaborador pode sugerir uma ideia a ser desenvolvida.
Um dos principais projetos desenvolvidos foi a criação de uma loja que utiliza uma criptomoeda própria, baseada em blockchain, a Cinq Coin. “Antes as pessoas ganhavam pontos na intranet ao fazer cursos, obter uma certificação, preencher relatórios em dia, mas essa pontuação só servia para estabelecer um ranking”, conta Jayme. “Agora, os pontos viraram criptomoedas e as pessoas podem utilizá-las para trocar por produtos.” Do mesmo laboratório saiu ainda um sistema de Internet das Coisas que comanda a temperatura do sistema de ar condicionado de todos os ambientes, permitindo, por exemplo, programar horários para ligar e desligar em dias úteis, feriados e fins de semana. Outra iniciativa foi instalar tablets nas salas de reunião com um sistema integrado ao Outlook, que exibe automaticamente nos horários programados se a sala está reservada, para qual reunião e quem serão os participantes. “Depois que aliviamos processos e permitimos que as pessoas tentem, a inovação floresceu.”
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