Publicados no podcast do jornalista Ivan Mizanzuk, novos áudios ligados às investigações do caso Evandro - que ficou mais conhecido como caso das “Bruxas de Guaratuba” - podem servir de prova de que os acusados do crime foram torturados para que confessassem a autoria. Os arquivos divulgados seriam trechos dos primeiros interrogatórios feitos pela polícia, e teriam sido omitidos do processo que culminou na condenação de cinco pessoas pelo sequestro e morte do menino Evandro Ramos Caetano, em Guaratuba, no início dos anos 90.
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Em um dos áudios, o pai de santo Osvaldo Marcineiro, um dos condenados, aparece ofegante, confessando que matou a criança e “jogou no mato”, sozinho. Depois disso, há uma pausa na gravação. Nos próximos trechos, em meio às confissões, é possível ouvir o acusado dizer coisas como “ai, espera aí amigo”. Em outras partes da gravação Osvaldo pede “deixa eu sentar um pouco, por favor” e “não faz isso, por favor, eu tô falando tudo, amigo, eu tô cooperando”. Ao longo dos áudios, Osvaldo vai adicionando informações e novos participantes à versão.
O crime, um dos mais emblemáticos do Paraná, ganhou notoriedade, e diversos acusados, após confessarem, voltaram atrás e afirmaram que foram torturados e forçados a admitir coisas que não tinham feito. No entanto, a tortura nunca foi comprovada.
Mizanzuk não revela como conseguiu os materiais, mas afirma que confia na autenticidade deles. “São áudios inéditos e que comprovam algo que os acusados sempre afirmaram no processo, de que eram gravados com um pequeno gravador durante as sessões de tortura”, afirma. “Outra evidência que me convence de que os arquivos são originais é o fato de ouvirmos vozes de pessoas que morreram há quase 10 anos, como é o caso de Vicente de Paula”, declara o jornalista.
Na suposta gravação do interrogatório do pintor Vicente de Paula Ferreira, também divulgada no podcast, é possível ouvir, em meio às declarações da confissão dele, alguém mandar: “entrocha a cabeça desse cara pra baixo”. Vicente de Paula faleceu em 2011, preso no Complexo Médico Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
O 25º episódio da série de podcasts tem mais de duas horas, entre as quais são divulgados também trechos do depoimento de Beatriz Abagge, acusada de ser a mandante do crime. Ela e a mãe, Celina Abagge foram acusadas de terem encomendado a morte do menino, em uma espécie de “ritual” feito pelo pai de santo Osvaldo Marcineiro, para trazer sorte à família delas.
Nos trechos de depoimento de Beatriz, é possível ouvir ameaças como “se chegar na hora e você mudar de história você vai conversar comigo de volta”. Em certas partes, a mulher declara “meu Deus, isso não é verdade, eu tô inventando isso”. Estes trechos não aparecem nas gravações entregues à Justiça à época do julgamento.
O advogado Samir Mattar Assad, que faz a defesa de Beatriz Abagge, afirma que a cliente tomou conhecimento dos áudios através do episódio de podcast, e que agora estudam o que pode ser feito.
Beatriz Abagge foi condenada, em 2011, a 21 anos e 4 meses de prisão. Em 2016, o Tribunal de Justiça concedeu o perdão da pena. Agora, a defesa estuda a possibilidade de pedir a revisão do processo com base nos novos fatos, além de pedir a abertura de processos para investigar a tortura – que é crime imprescritível.
Como os áudios apresentados no processo – e que agora têm a autenticidade colocada em dúvida – passaram por perícia à época das investigações, e foram atestados como “sem cortes”, a defesa estuda também fazer uma denúncia de fraude processual.
Ivan Mizanzuk é produtor do “Projeto Humanos – Caso Evandro”, programa de podcast dedicado a investigar fatos ligados ao crime ocorrido nos anos 90. O jornalista estuda o caso há mais de quatro anos e tem atualmente 25 episódios lançados sobre as investigações. Para ele “a tortura, que antes era uma tese da defesa, agora está comprovada, é só uma questão de isso ser reconhecido pelas autoridades”.
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