Com 13 casos confirmados de Covid-19 até esta quinta-feira (21), Toledo, no Oeste paranaense, está aos poucos tentando retomar a vida normal. O comércio já tinha sido liberado no início de abril, primeiro com horário reduzido, depois com ampliação na véspera do Dia das Mães. No domingo passado (17), foram as missas com presença de fiéis que retornaram. Mas nem tudo é permitido: nesse mesmo dia, uma aglomeração de pessoas em um bar na cidade gerou polêmica, causando preocupação nos gestores públicos.
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No início de maio, a Gazeta do Povo mostrou que Toledo estava entre as maiores cidades do Paraná com menor taxa de incidência de Covid-19. O município, com 140 mil habitantes, implantou o isolamento social na última semana de março, bem antes da confirmação do primeiro caso: 7 de abril. Até o dia 14 de maio, o número de infectados permaneceu em 3.
Nos últimos dias, houve acréscimo de 10 casos de Covid-19 no município. Não há óbitos na cidade, que já descartou outros 137 casos; do total de 13 infectados, 4 estão recuperados. Até terça-feira, dos 16 leitos destinados a casos de coronavírus, 3 estavam ocupados, mas por pacientes da regional de saúde de Cascavel. Foram divulgados quatro casos nesta quinta-feira (21): duas adolescentes e uma criança que tiveram contato com caso confirmado; e de uma moradora de Toledo que está em outra cidade, no Norte do Paraná, desde o mês de abril. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou à prefeitura de Toledo que faria a contabilidade dessa forma.
De todo modo, a cidade registra o equivalente a 92 casos por milhão de habitantes; a média do Paraná é de 245 casos; a regional de saúde metropolitana, que inclui Curitiba, tem 302 casos por milhão, segundo o boletim mais recente da Sesa.
“No começo, todo mundo respeitou o isolamento. A cidade ficou bem vazia, só mercados e farmácias estavam abertos e só saía quem tinha algo extremamente necessário. Mas, depois de duas semanas, o pessoal começou a reclamar, porque nem tinha casos. Assim que abriu o comércio parece que todo mundo já saiu de casa normalmente. Não percebi muita diferença, e o uso de máscaras começou tarde. Agora, parece quase a vida normal”, relatou a médica pediatra Paula Bragato Futagami, 29 anos. Ela deixou o consultório fechado por algumas semanas, mas retornou o atendimento. Entre as famílias atendidas, ela disse que há pessoas ainda bastante preocupadas com a possibilidade de contágio de Covid-19, e outras já mais tranquilas.
A prefeitura tenta conciliar a prevenção e controle de casos com o apoio da população e das empresas. Na segunda-feira, por exemplo, a unidade da BRF na cidade contratou uma linha de ônibus específica para levar seus trabalhadores, e assim evitar contato com os demais usuários do transporte coletivo.
Segundo o médico Fernando Pedrotti, porta-voz do Centro de Operações Especiais (COE) de Toledo, a BRF conta com cerca de 8,5 mil funcionários, dos quais mil usavam o transporte público. “Isso para nós é duplamente interessante. Funcionários vão isolados e tiramos em torno de mil pessoas dos ônibus”, relatou. A farmacêutica Prati-Donaduzzi, outra grande empregadora, com cerca de 5 mil funcionários, também tem colaborado nas medidas de prevenção. As duas empresas já adotavam normas rigorosas de higienização na produção, que foram estendidas para refeitórios e pátio de manobras de caminhão.
“A gente falava no começo, quando não tinha a presença do vírus, sabia que o vírus chegaria não por avião, mas sim por caminhão ou ônibus. Passaram a ter atenção muito grande de não deixar motorista ir dentro da fábrica, de adotar sanitização de cabines e manobrista para adentrar no pátio”, relatou o médico. As empresas até ajudam no controle epidemiológico, disse Pedrotti, ao fazer o monitoramento da saúde dos funcionários na entrada ao trabalho.
Entretanto, não foi possível evitar que caminhoneiros de Toledo se infectassem nas viagens para buscar cargas. Pelo menos dois casos são de trabalhadores com histórico para regiões afetadas pelo coronavírus – consequência da necessidade de manter supermercados e demais estabelecimentos abastecidos.
De todo modo, com o uso de máscaras e demais medidas preventivas, os moradores de Toledo foram aos poucos retomando as atividades normais. O índice de isolamento no primeiro domingo de restrições (22 de março) atingiu 67% das pessoas, e 53% na segunda-feira seguinte. No primeiro domingo de maio (3) e no dia seguinte (4), esse percentual caiu para 50% e 39%; no Dia das Mães (10) e após (11), caiu ainda mais: 44% e 37%; nesta semana, a adesão ao isolamento foi de 49% no domingo (17) e de 38% na segunda-feira (18).
“Tem sido preocupante a flexibilização. Há uma parcela da população achando que o perigo acabou, o que não é verdade. Com a aglomeração que houve num bar anexo a um posto de gasolina, a prefeitura iniciou ações mais duras, com multa a estabelecimentos e avaliação de medidas mais rigorosas. O proprietário do estabelecimento envolvido até resolveu suspender as atividades por tempo indeterminado, entendendo a situação atual”, relatou Pedrotti.
Regras
De todo modo, atividades de comércio e serviços que seguem as regras de distanciamento social são permitidas desde 6 de abril, como salões de beleza, por exemplo: é preciso atender um cliente por vez por cômodo, além das medidas básicas de higiene. As missas com presença de fieis demoraram mais, mas começaram a ser realizadas na última semana.
Na Arquidiocese de Toledo, foi orientado para que cada paróquia decidisse pelo retornou ou não, a depender da permissão de decreto municipal. As missas ocorreram sob vigência de algumas regras: anotação de presença de todos os participantes, para eventual consulta das autoridades sanitárias; distanciamento social; uso de máscara e álcool gel.
Boas práticas
O porta-voz do COE de Toledo ressalta que há monitoramento constante dos casos confirmados e suspeitos. Ele ressalta algumas boas práticas adotadas desde março, que contribuíram para o controle dos casos: isolamento social; suspensão do passe livre de idosos em horário de pico, para desestimular o uso do transporte público; reorganização das unidades de saúde, para separar casos suspeitos de pacientes que procuravam outra especialidade; triagem em todos esses pontos; organização de um hospital de campanha; comunicação constante com a população e transparência nas decisões tomadas.
A população idosa aderiu às restrições, contou Pedrotti. Antes da pandemia, em torno de 2 mil pessoas com 60 anos ou mais usavam o transporte público diariamente; na semana atual, esse número era de 300 pessoas ao dia, conforme informações da concessionária local.
Outra vantagem, disse o médico, é a condição de escolaridade e renda de Toledo. “Não temos situação da favela, aglomeração em uma mesma residência ou cômodo. As equipes de saúde orientam para a pessoa com caso confirmado ficar em um quarto isolado, e isso foi possível, em muitos casos até usar banheiro separado do restante da família”, relatou.
Mas houve quem desrespeitasse as regras de isolamento: A vigilância epidemiológica flagrou mais de 30 casos de casos suspeitos de Covid-19, que apesar de assinarem termo se comprometendo a respeitar as orientações médicas, estavam em circulação na cidade. Essas situações foram encaminhadas ao Ministério Público Estadual para tomada de providências, por infringirem o Artigo nº 268 do Código Penal. O município não descarta mudança nas regras, caso a situação epidemiológica se altere. “Não estamos em hipótese nenhuma livre de encarar uma situação de crise. Dependemos do comportamento do vírus e da nossa população. Precisamos estar preparados para o pior, torcendo pelo melhor”, finalizou Pedrotti.
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