O mercado financeiro demonstrou interesse e alguns setores do Palácio Iguaçu concordam que a Sanepar deveria ser privatizada, seguindo o mesmo caminho da Copel, desestatizada em agosto de 2023. No entanto, essa possibilidade sequer é cogitada pelo CEO da empresa, Wilson Bley Lipski, que deixou a presidência do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) para substituir Claudio Stabile na Companhia de Saneamento do Paraná em junho deste ano.
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“Nesse bom momento que a Sanepar passa, eu não vejo espaço [para privatização]”, declarou à Gazeta do Povo após participar de um evento organizado pelo Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), no qual apresentou os planos de investimentos da companhia para os próximos cinco anos.
A Sanepar tem previsão de investir R$ 11,8 bilhões entre 2025 e 2029 em quatro áreas principais: ampliação de mercado, compliance ambiental, manutenção e infraestrutura. E de acordo com Lipski, a companhia tem recursos suficientes em caixa para cumprir o planejamento.
“Eu tenho a convicção muito clara e já discuti isso muitas vezes com o governador, de que a Sanepar tem a capacidade de conduzir esse processo [de investimentos]”
Wilson Bley Lipski, CEO da Sanepar
O governo do Paraná tem 20,03% do capital total da empresa, mais 60,08% do capital votante, o que mantém as grandes decisões na mão do estado. Para mudar esse cenário, o governador Ratinho Junior (PSD) precisaria enviar à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) um projeto de lei para abrir mão do controle majoritário, o que sinalizaria o início do processo de privatização da estatal.
Foi assim com a Copel, cuja privatização foi aprovada em poucos dias. Da mesma forma ocorreu com a Celepar em novembro deste ano: em regime de urgência o projeto de desestatização foi aprovado em oito dias.
Nas duas ocasiões, o Palácio Iguaçu negou que as empresas seriam privatizadas, o que levanta dúvidas, agora, sobre a real intenção na questão da Sanepar. À Gazeta do Povo, o secretário secretário de Planejamento do Paraná, Guto Silva, foi enfático: “Não tem projeto e nem a intenção de privatizar a Sanepar.”
Mercado financeiro “força a barra” pela privatização da Sanepar, diz CEO
As declarações do CEO da Sanepar são respostas ao mercado financeiro que, segundo ele, tem “forçado a barra” para a privatização da companhia de saneamento. No início de dezembro, a gestora Miles Capital enviou uma carta aos cotistas apontando o potencial de valorização da empresa em casos de privatização ou reestruturação, incluindo argumentos como ineficiência operacional, potencial de valorização e comparação com outras estatais.
Sem citar nominalmente a gestora, Lipski afirma que é uma “ofensa” dizer que a Sanepar é ineficiente. “Uma empresa que vai atingir em 2029 a meta da universalização [no saneamento], sendo a primeira empresa do Brasil a chegar nesse resultado, é uma empresa ineficiente?”, questiona.
Ele reconhece que a Sanepar não entrega resultados financeiros vultuosos, mas que isso faz parte do fato da empresa ser pública e fazer política pública. Além disso, conforme o CEO, a companhia está em um momento de grandes investimentos, o que reduz o retorno aos acionistas, cenário que é considerado temporário. “Daqui cinco anos não terá mais Capex (investimentos), só Opex (despesas recorrentes), e aí dará rentabilidade financeira”, argumenta.
A Sanepar encerrou 2023 com uma receita operacional líquida de R$ 6,3 bilhões e lucro líquido de R$ 1,5 bilhão. Neste ano, a companhia deve fechar com resultados parecidos. Até setembro, a receita acumulada foi de R$ 5,1 bilhões e o lucro chegou a R$ 1,1 bilhão.
Aposta nas PPPs de esgoto permanece
Se a privatização não é, segundo o CEO da Sanepar, uma possibilidade no momento, a continuidade das Parcerias Público-Privadas (PPP) para a prestação de serviços de esgoto é considerada uma estratégia fundamental para garantir investimentos que ajudem a atingir a universalização. O Marco Legal do Saneamento estipula a meta de 90% da população brasileira atendida com serviços de coleta e tratamento de esgoto até 2033.
“A PPP se demonstrou um modelo que mostra que a Sanepar está atenta ao que está acontecendo. As PPPs traduzem a possibilidade de chegar à universalização e talvez, [a empresa] não tivesse a capacidade de fazer na mesma velocidade”, avalia Lipski.
A companhia realizou, por enquanto, dois processos de PPPs. O primeiro ocorreu em julho de 2023, quando a Aegea arrematou o lote de 16 municípios da Região Metropolitana de Curitiba e do Litoral — a previsão de investimento é de R$ 1,2 bilhão em 24 anos.
Em setembro deste ano, mais três lotes foram leiloados, contemplando 112 cidades do Centro-Leste e Oeste e com planos de R$ 2,9 bilhões em investimentos pelas vencedoras Aegea, Acciona e Iguá. Os três novos contratos devem ser assinados em 13 de janeiro de 2025.
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