Graças à mobilização de cervejarias da Região Sudoeste do Paraná, o atendimento a pacientes com Covid-19 do município de Clevelândia, de 17,2 mil habitantes, não colapsou no último fim de semana. Liderada pelo empresário Pedro Reis, 32 anos, proprietário da cervejaria Insana, na cidade vizinha de Palmas, a força-tarefa conseguiu emprestar 20 cilindros de oxigênio para serem usados no Hospital Associação Pró-Saúde de Clevelândia. Três cilindros são de fabricantes de cerveja da região – além da Insana, também doaram as marcas Formosa e Schaf, ambas da cidade de Francisco Beltrão. Os outros 17 cilindros cedidos foram doações de moradores da região.
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“Sexta-feira recebi ligação de um amigo dizendo que a situação em Clevelândia estava muito crítica. Eu até chorei. Aí decidi ajudar. Liguei na minha fábrica pedindo para separar o cilindro que usamos na nossa produção e comecei a entrar em contato com mais gente que poderia ajudar”, revela Reis. “A minha produção fica parada sem oxigênio, que a gente usa na fermentação da cerveja. Mas agora é hora de pensar nas pessoas. Eu imagino o desespero de quem não pode respirar. Não só dos pacientes, mas das famílias e dos próprios médicos que não podem fazer nada se não tiver oxigênio”, ressalta o empresário.
A situação de Clevelândia reforça o risco da falta não só de oxigênio, mas de outros insumos e equipamentos neste momento muito crítico de avanço acelerado da pandemia causado pela nova variante do coronavírus, cerca de 70% mais transmissível do que a anterior. A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) inclusive já emitiu alerta a todos os 399 municípios do estado que monitorem seus estoques do gás. Mesmo assim, o fornecimento já está tendo dificuldades pela alta demanda.
Problema não é falta de oxigênio, mas de cilindros para envase
O problema principal não é a produção de oxigênio em si. Mas sim a falta de cilindros para envasar o gás. “Não há mais cilindros no mercado. E se não fosse essa mobilização do fim de semana, nosso sistema teria entrado em colapso”, explica Rafael Barbosa, chefe de gabinete da prefeita de Clevelândia, Rafaela Martins Losi (PSD).
Com o reforço dos 20 cilindros emprestados por empresário e a população, Clevelândia chegou a 60 no total. Para evitar o risco de colapso por falta de oxigênio, a prefeitura fechou acordo com o município vizinho de Mariópolis para instalar uma usina na Secretaria Municipal da Saúde para produção própria do gás, no valor de R$ 327 mil. A usina começa a ser instalada no próximo dia 24 e terá operação de 24 horas por dia com capacidade de produzir 112 litros do gás por minuto. Com isso o município terá como programar a produção.
“O problema hoje é que não tem como manter cilindros de reserva. Quando o gás acaba, a gente tem que entregar o cilindro para o fornecedor recarregar para aí sim voltar para o atendimento. Com a usina, a gente vai poder carregar os cilindros rapidamente. Em questão de minutos o cilindro sai e volta para o hospital”, explica o chefe de gabinete da prefeitura.
Clevelândia soma 53 mortes e 1.462 infecções por Covid-19 desde o início da pandemia há um ano. No momento, a cidade já ultrapassou o limite de atendimento de coronavírus, cujos pacientes já avançaram para os leitos de outras enfermidades, mesmo com a Sesa abrindo vagas na cidade semana passada.
O município conta com 10 leitos de Covid-19 e 56 leitos gerais. Porém, na manhã desta segunda-feira (15) são 24 pacientes com Covid-19 internados na cidade: 20 em leitos de enfermaria e quatro intubados improvisadamente até abrirem vagas de UTI nos hospitais das cidades vizinhas. Além disso, uma paciente de 20 anos em estado grave teve de ser transferida para uma UTI em Cascavel, a cerca de 300 km de distância, justamente por não haver nenhuma vaga na região.
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