Depois de uma primeira eleição com uma enxurrada de votos e uma reeleição muito mais tímida, a deputada Christiane de Souza Yared (PL) agora busca ocupar um posto no Poder Executivo. Defensora das questões do trânsito, ela não tem receio de trazer a tragédia familiar para o debate. “Enquanto eu usar a morte do meu filho, quantas vidas serão salvas?”, argumenta a mãe de Gilmar Rafael Yared, morto em uma colisão causada pelo ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho em 2009. No entanto, Yared garante que seu olhar não ficará voltado para as ruas e carros da capital paranaense, mas que buscará investimentos em saúde e educação, já que, na opinião da pré-candidata, “a cidade está pronta”. Confira a entrevista concedida a Marcela Mendes.
As principais notícias do Paraná no seu WhatsApp
Se fosse prefeita, o que teria feito diferente no enfrentamento à Covid-19?
É um momento que ninguém esperava. Nenhum prefeito no mundo poderia esperar ter uma situação dessa para lidar. Obviamente que cada prefeito tem uma maneira de pensar. Sinceramente, a primeira coisa que eu faria seria a questão do transporte público. Porque eu vejo que a maior contaminação que ocorre é no transporte público mesmo. Eu [agiria de forma] muito mais tranquila com o comércio que está mais preparado, porque nós sabemos que a economia é o que mantém a cidade. Obviamente que pessoas doentes não produzem. Se você está doente, não adianta investir em outras áreas. Essa é preocupação dos governantes no mundo todo, lógico. A cidade tem que ser mais humana. E quando eu digo mais humana, é um atendimento muito mais próximo à população nessa questão da Covid. Estar atento a esses focos, às regiões onde esse vírus se prolifera com mais rapidez ou está mais intensa essa situação da Covid. E observar. Porque nós sabemos que é um vírus novo e muitas situações que estão sendo feitas não têm dado resultado. Mas já estamos em queda, eu acredito que também isso não vai durar muito tempo. Se Deus quiser, logo nós teremos a vacina e nisso a gente volta para um novo normal, um normal diferente e será obrigatório para todos. Se você perguntar se houve alguma coisa de boa no meio disso tudo eu tenho certeza que foi a solidariedade. O amor aflorou nas pessoas e vimos uma quantidade gigantesca de vidas sendo ajudadas, instituições. E eu creio que o foco principal, se eu estivesse gestora de uma cidade, seria a questão do transporte público onde há uma contaminação gigantesca. Não tem outra saída, é humanizar a cidade. A cidade precisa de menos concreto e mais afeto. E não é só Curitiba, são todas as cidades do mundo. Nós vimos isso neste momento desta enfermidade aí que nos levou a repensar a vida, todos nós. Eu acredito que a gente sai dessa. Não vai ficar muito tempo não, vacina está chegando, se Deus quiser, nós vamos ter nossa cidade linda de novo, florindo, com os parques cheios de gente e ajudando esse povo também a viver melhor.
Sobrando ainda alguma capacidade de investimento pós-pandemia, onde a senhora concentrará os recursos da cidade nos próximos anos e por quê?
São dois pontos. Saúde é algo que nenhum prefeito pode abrir mão. Qualquer um que for eleito e acredito que qualquer pré-candidato como eu tem essa visão. Todo investimento seria em saúde e em educação. Por que em educação? Porque a cidade está pronta. Nós temos uma belíssima cidade. Nós temos uma cidade que atrai investimentos. As pessoas gostam de investir em Curitiba. E a educação é algo que permanece para o futuro. Então, para as próximas gerações, eu tenho sempre uma passagem bíblica que eu carrego comigo: “ensina a criança no caminho em que deve andar e até ficar velho não vai se desviar dele”. Para você ter o cidadão de amanhã, você precisa investir na criança de hoje. Essas crianças precisam ter essa noção de como gerir as suas próprias vidas. Então, seriam esses dois focos. A saúde é porque qualquer pessoa que estiver doente não quer trabalhar e não quer estudar. Qualquer pessoa enferma é uma pessoa que não consegue produzir. Não porque ela não queira, ela não pode, não consegue produzir. E a cidade, para crescer precisa de pessoas que produzam. O cidadão forte e saudável é o cidadão que vai gerar novos empregos, que vai trabalhar bem, que vai ter essa noção do quanto é importante estar fazendo parte da cidade.
A senhora foi eleita deputada federal pela primeira vez com uma votação muito expressiva, a maior do estado. Na reeleição, seu desempenho foi bem mais baixo. A que a senhora atribui essa perda de votos, se tem alguma relação com seu desempenho no cargo, e a senhora acredita que ainda tem um nome forte na capital para almejar ocupar o executivo municipal?
O que ocorreu é que tivemos um evento político muito forte com a era [Jair] Bolsonaro. E todos os candidatos que saíram à frente, como o [Sargento] Fahur, [PSD], tiveram toda a corporação. Eu tive a corporação comigo no primeiro mandato, na primeira eleição. Toda a corporação policial, militar, esteve com o Fahur. Então fez uma diferença muito grande. Também, eu me posicionei de direita. E como eu tinha alguns votos também de esquerda, migraram para a Gleisi Hoffmann (PT). Nós tivemos uma divisão de votos. Mas eu cresci extremamente no interior, onde eu acredito que todo deputado federal deveria distribuir as suas emendas de uma maneira praticamente igualitária. No meu caso, que sou da capital, eu enxerguei que, se eu ajudar o interior, se eu ajudar o prefeito do interior, ele desafoga a capital. Eu destinei muitas emendas para várias regiões que eu não fiz um único voto. Eu não trabalhei como uma política de carreira. Eu trabalhei com uma nova política, a política que enxerga que o estado é um todo. Não é apenas uma cidade ou uma região. O fato de eu ter no começo almejado o Senado também foi um dos fatores. Muitas pessoas acabaram migrando seu voto porque acharam que eu iria para o Senado. Então nós tivemos três fatores bem relevantes. A cidade que eu tive maior impacto foi realmente Curitiba. Eu acabei investindo muito no interior – eu investi em Curitiba também, trouxe muito recurso para cá – mas eu investi muito no interior com esta visão de que se eu cuido do pequeno que está lá na sua cidade, ele não migra para a capital, estrangulando a capital. A questão de saúde na capital é algo muito sério porque nós atendemos o estado inteiro. Então as pessoas vêm das cidades, dos municípios, para a capital. E esse recurso não migra junto com eles. Nós ficamos com o ônus e muitas vezes o bônus não vem. A capital sofre muito. Tanto é que neste ano de Covid eu investi aqui em Curitiba praticamente todas as emendas. Joguei todas para cá, todas direcionadas à saúde porque não tem o que fazer. O município acaba ficando baleado com essa questão de tanto investimento na saúde e a gente fica com os recursos diminutos para atendimento a infraestrutura, até a própria educação, infelizmente.
Eu fiz o meu nome na capital quando eu comecei a me envolver, após a morte do meu filho, com as famílias e as empresas de Curitiba. Eu dei mais de 3 mil palestras em Curitiba. Então, as pessoas conhecem não apenas a minha história como mãe, mas o trabalho que eu desenvolvo por trás de toda essa tragédia. “Ah, porque a senhora usou a morte do filho para se eleger?”. Olhe, enquanto eu usar a morte do meu filho, quantas vidas serão salvas? Porque a gente consegue trazer essa realidade dessa guerra, que é encoberta por tantas e tantas outras tragédias, que é a guerra do trânsito, e fazer com que as pessoas sejam pertencentes às causas. Qualquer cidadão no mundo só irá mudar comportamento se ele tiver conhecimento. Porque o conhecimento traz pertencimento. E com pertencimento nós temos a mudança no comportamento das pessoas. Cada vez que eu palestro, eu levo conhecimento até as pessoas e me empenho para que elas sejam pertencentes. Indiferente de ser o trânsito, a saúde ou a educação, elas precisam ser pertencentes porque ninguém faz nada sozinho. Não há prefeito no mundo que possa fazer uma cidade melhor se o cidadão que mora nela também não estiver pertencente a esta cidade.
Como parlamentar, embora a senhora precise estar atenta aos diversos temas que são discutidos em Brasília, é normal ter uma bandeira e é de conhecimento geral que a sua é o trânsito. Como gestora no executivo são muitas as áreas que vão precisar de sua atenção. Existe risco de sua gestão ser focada demais em um aspecto, deixando outros importantes de lado?
Não, porque a cidade precisa caminhar coesa. Na verdade, para a cidade dar certo, ela precisa ter uma equipe que seja uma equipe gestora técnica, mas que tenha alma. Porque a cidade, quando não tem uma equipe gestora que possa realmente se envolver com vidas, com pessoas, a letra se torna morta. A letra mata. Então, nós precisamos ter alma na cidade, para que a cidade possa respirar esses ares de pertencimento, de conhecimento. Eu tenho uma preocupação muito grande com a questão da cultura. Curitiba é uma cidade por si só que se empenha, o povo gosta da cultura. É importante que a gente invista nessas áreas, não apenas a cultura, não apenas a educação, não apenas na saúde, não apenas no trânsito. Obviamente que como eu tive essa tragédia na família, o meu mandato ficou focado no trânsito. Mas eu tenho plena consciência que o trânsito não caminha apenas com a “bandeira trânsito”. É um universo. São a infraestrutura das avenidas, das ruas, a educação da criança, a questão da saúde dos sequelados que ficam, dos mortos que temos que lidar. Então é um universo de problemas que precisam ser geridos. E a cidade, como um todo, não é apenas o ir e vir. É o viver.
Hoje a senhora é filiada a um partido de centro-direita, que apoia um governo federal de direita. A senhora pretende conduzir uma gestão liberal na cidade? De que forma? Sua composição de chapa deve buscar pessoas nesse espectro político?
O mais importante de tudo que eu entendo para um gestor ou um governante é ele ter um bom relacionamento tanto com o governo federal, quanto com o governo estadual. Nenhum gestor consegue fazer que a renda que a cidade tem seja suficiente. Nós precisamos de investimentos do governo federal e do governo estadual. Tem que haver parceria. Por isso que um gestor não pode ser radical. “Eu sou de esquerda”. “Eu sou de direita”. Extrema-esquerda. Extrema-direita. Tem que ter um ponto que você compreenda que precisa do outro para fazer a cidade crescer. E neste ponto eu sempre fui muito clara. Eu não sou de direita. Eu não sou de esquerda. Eu sou o meu estado. Eu vou ser aquilo que eu represento. E eu represento o estado do Paraná. Então, a minha gestão na Câmara Federal tem sido muito clara, ela é muito objetiva. Eu trabalho para pessoas. Tanto é que no meu partido eu tenho a liberdade de votar com aquilo que eu acredito. É um dos pontos mais importantes que eu acredito que um político deve ter. Votar naquilo que ele acredita. Se acha que será bom para o país, para o seu estado, para a sua cidade, bom para o povo que você representa, então tenha consciência tranquila em fazer aquilo que você acredita. A convenção será dia 15 de setembro, ainda estamos nos últimos arremates para essa composição de chapa. Mas eu não tenho problema nenhum em compor chapa com outros partidos. Eu tenho um bom relacionamento com todos os partidos. Obviamente que nós vamos com partidos que tenham esse caminhar junto conosco. A gente acaba não dividindo isso com os partidos de esquerda. Mas nós temos uma amizade boa com os partidos a ponto de podermos fazer, sim, uma composição que seja adequada e o melhor que possa ser para Curitiba.
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná
Deixe sua opinião