O novo ciclo da soja no Paraná começa em alerta por causa das condições climáticas preocupantes com cerca de 200 mm de chuva nos últimos cinco dias. A previsão ainda é de mais de 120 mm até o próximo final de semana, o que faz de outubro de 2023 o mês mais chuvoso da história no estado.
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Há lavouras debaixo d´água e o excesso de chuva é uma preocupação para sojicultores de todo o Paraná, segundo maior produtor do cereal do Brasil. No extremo oeste do estado, na região de Foz do Iguaçu (PR), algumas áreas vão precisar de replantio e a erosão voltou a ser um problema, segundo o escritório regional do Departamento de Economia Rural (Deral) em Cascavel.
Na regional de agricultura, com 18 municípios, 98% da área destinada à soja [538.476 hectares] foi plantada e 100% do milho [8.370 hectares] está cultivado. Um diagnóstico detalhado das perdas deve ser divulgado na próxima semana. Até lá, mantém-se o estado de atenção. “Estou com uma área de 50 hectares de soja enxarcada, não sei se vai sobreviver e os próximos dias também serão preocupantes”, conta o produtor João Martins, da região de Toledo, distante 40 quilômetros de Cascavel.
Para o gerente de Desenvolvimento Técnico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), Flávio Turra, por enquanto, a chuva não provocou danos agrícolas em escala e, nem sequer, impacta o panorama estadual no ciclo 2023/24 da soja no Paraná. Ele recorda que em anos sob influência do fenômeno El Niño, a tendência é de boas safras. “Existem perdas localizadas neste momento, principalmente em regiões próximas aos rios. Vamos ver como será nos próximos dias”, comenta.
Numa primeira projeção de plantio da safra de verão da soja no Paraná, divulgada em agosto, o Deral calculava 5,8 milhões de hectares com colheita de 21,9 milhões de toneladas de soja, pequena redução se comparado ao cultivo anterior, quando foram colhidas 22,4 milhões de toneladas.
A projeção um pouco menor já nasceu sob a interferência do El Niño, que promove um aumento expressivo de chuva na região Sul do Brasil. Desde junho de 2019, o país não registrava clima sob influência do fenômeno. Em 2020/21, o Sul do país foi atingido por uma seca que resultou em perdas históricas.
Segundo o Simepar, a previsão é de chuva entre 120 mm a 150 mm nas regiões Oeste, Sul, Sudoeste e Centro-Sul do estado do Paraná nos próximos dias. Em municípios como Santa Terezinha de Itaipu, banhada pelo lago de Itaipu, foram registrados 215 mm de precipitação somente de 27 a 29 de outubro.
Na região estão localizadas a usina de Itaipu e as Cataratas do Iguaçu, que mudaram de paisagens nos últimos dias. Às margens do lago da hidrelétrica áreas inteiras focaram evacuadas com a ameaça de alagamento e as Cataratas estão com as principais passarelas interditadas, após alcançar neste início de semana a segunda maior vasão nas quedas de sua história.
Além da soja, clima impacta outras lavouras no Paraná
A Secretaria de Agricultura e do Abastecimento (Seab) avalia que as chuvas volumosas de outubro tiveram impacto no campo, principalmente nas lavouras do Sul do Paraná. “Já na região Norte, onde a maior parte das culturas da safra 2022/2023 está colhida, não há registros significativos de perdas até o momento”, compara a secretaria ainda sem os dados de precipitações do último fim de semana.
Os dados da Previsão Subjetiva de Safra (PSS) indicam que no Sul do Estado, o impacto tem sido percebido, especialmente na produção de cereais de inverno da safra 2022/23, como o trigo e a cevada com “recuos importantes de produtividade”.
“No caso do trigo, a estimativa de produção apontada no relatório deste mês reduziu em 300 mil toneladas comparativamente à previsão divulgada em setembro. Agora, estima-se a produção de 3,86 milhões de toneladas. A redução no potencial refletiu nos preços”, informou o Deral.
Dados do Deral apontam para perdas no campo
Cerca de 79% do feijão cultivado no Paraná está na região Sul do estado. Até a última semana, 83% das lavouras estavam em boas condições, 17% em condições medianas e 1% em condições ruins, principalmente na região de União da Vitória. Não se descarta a necessidade de replantio deste cereal no município, um dos mais atingidos pelas fortes chuvas.
O trigo registrou queda de produção no levantamento do Deral em outubro. A estimativa de colheita baixou para 3,86 milhões de toneladas em 1,41 milhão de hectares semeados, sendo que 84% já foi colhida. O volume é 17% menor que o esperado no início do ciclo, quando se estimava 4,6 milhões de toneladas. A retração é de cerca de 300 mil toneladas.
Doenças estão no topo da lista para a causa de quebra na produtividade. “Além da queda de volume produzido, houve perda de qualidade. Com chuvas recorrentes e poucos dias de sol, foram poucos os produtores que conseguiram colher o trigo com a umidade de campo ideal, fator que resultou em grãos com aplicações mais restritas pela indústria moageira, ou mesmo trigos que serão direcionados para a alimentação animal”, alerta.
Outra cultura afetada foi a cevada, que apresentava até a última semana boas condições, mas também com áreas prejudicadas pelas chuvas. “As condições das lavouras foram rebaixadas de 83% boas e 17% médias para 67% boas, 29% médias e 4% ruins, o que deve interferir na qualidade do produto a ser colhido. Atualmente, 32% da área está colhida. Praticamente metade do colhido foi retirada na última semana, em um momento que não era ideal, devido à umidade dos grãos nas lavouras. As produtividades também foram afetadas, e espera-se uma produção de 355,6 mil toneladas atualmente, 10% menor frente às 397 mil toneladas potenciais”, completa o boletim do Deral.
Neste momento, a expectativa da Seab é de que sejam plantados nesta safra de verão 314 mil hectares de milho e que resultem numa produção de 3,1 milhões de toneladas. O plantio chegou a 91% da área e a maioria das lavouras tem condição boa no campo. Já na safra de soja do Paraná é esperado o plantio de 5,8 milhões de hectares, com uma produção de 21,9 milhões de toneladas.
“O plantio avançou consistentemente e atingiu 58% da área total no estado. As regiões Oeste e Centro-Oeste praticamente finalizaram o plantio, enquanto a região Norte está a pleno vapor e o Sul começa a ganhar intensidade a partir desta última semana de outubro”, explica o analista do Deral Edmar Gervásio.
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