Mesmo com a alta no preço da carne bovina, o paranaense não abriu mão de um bom churrasco para as comemorações do fim de ano. É o que conta o churrasqueiro profissional Fábio Borges, de Turvo, no oeste do estado.
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“Durante a semana, o pessoal apela para a carne mais barata, mas na hora das festas quer ostentar, não abre mão dos sabores preferidos. Eu percebi que os preços estavam pelo menos 25% mais altos, em novembro e dezembro. O contrafilé foi o mais pedido, já que é de onde retiramos cortes como o bife ancho e o prime rib”, explicou.
Confirmando a opinião do churrasqueiro, a empresária Laudeci Kasprzk, de Curitiba, fica de olho nos comerciais dos mercados e açougues para fechar as contas de começo de ano. “Em janeiro e fevereiro é só na promoção. A carne vermelha vai para o carrinho, mas o frango e o peixe são as primeiras opções. Às vezes a gente leva o que não está precisando, se o preço está em conta. Mas o bife pode ser carne de segunda, sem problemas”, afirmou.
Um levantamento do Núcleo de Pesquisas Econômicas Aplicadas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) acompanhou a variação do preço do coxão mole, no Paraná. O corte é um dos mais populares no Brasil.
Em janeiro de 2021 o valor do quilo era de R$ 33,42. No ano seguinte, o registrado foi de R$ 37,59. Já em 2023, o preço médio foi de R$ 39,81. Em janeiro do ano passado, uma pequena redução, R$ 35. E então, em dezembro de 2024, a alta foi considerável, com o quilo chegando a R$ 41,10.
A pesquisa serve como equiparação para outros cortes, que seguiram o mesmo patamar de crescimento nos preços, como o contrafilé e a picanha. No acumulado de 12 meses até novembro, os preços do grupo carnes no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram 15,43%, enquanto a inflação geral no mesmo período foi de 4,87%.
A cotação da arroba do boi gordo acompanhou a tendência de alta. Em um ano, o preço saltou de R$ 180 para R$ 350 - atualmente se mantém na casa dos R$ 320. O dianteiro e o traseiro do boi acumularam altas de 38,25% e 32,07% em média, no último ano, no Paraná. Os dados são do Boletim de Conjuntura Agropecuária, elaborado pelo Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
Valor da carne repassada ao consumidor está longe de ter queda
A rotina para driblar os preços altos da carne bovina deve continuar em 2025. O cenário climático, o ciclo pecuário e o crescimento da exportação apontam que o valor repassado ao consumidor está longe de estabilizar, menos ainda de baixar. “Não está prevista a queda nos preços, especialmente em função do câmbio, que torna a exportação muito atrativa”, explicou o professor de economia Marcos Rambalducci, coordenador do Núcleo de Pesquisas Econômicas Aplicadas da UTFPR.
A estimativa do mercado de exportação é de crescimento de 6,5% em 2025. Novos mercados consumidores estão surgindo, como o Vietnã e a Argélia. Os mercados asiáticos foram responsáveis pela compra de 60% das exportações de carne bovina paranaense, em 2024. No ano anterior, o percentual havia sido de 30%.
A grande importadora da carne bovina paranaense é a China, seguida por Emirados Árabes, Chile e dos Estados Unidos. No primeiro semestre do ano passado, foram abatidas 704 mil cabeças de gado no Paraná, um crescimento de 15% em comparação a 2023.
Em 2025, a produção de carne no Brasil deve alcançar 10,2 milhões de toneladas, o maior volume registrado na série histórica. “Nossa carne é muito competitiva. É mais barata que a americana, que custa US$ 100 a arroba, tem mais qualidade e custa a metade disso. O produtor está aproveitando o momento”, apontou o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Marcelo El Kadri.
Com novos mercados consumidores, como Vietnã e Argélia, exportação tem estimativa de crescer 6,5% neste ano.
Além da exportação, o ciclo pecuário está na fase de pouca demanda de animal adulto. “Houve muito abate de fêmeas em 2024, agora é necessário a retenção, para gerar matrizes”, completou EL Kadri. O custo da recria e da engorda do gado tende a aumentar para o pecuarista e o consumidor não ficará isento desse acréscimo.
Outro fator é a seca, que prejudicou as pastagens em todas as regiões do Paraná, comprometendo a alimentação do rebanho e contribuindo para a alta dos preços. Nas regiões norte e noroeste no estado, a estiagem entre abril e setembro levou à escassez de pastagem.
Para obter melhor desempenho dos animais, os produtores precisaram de feno e silagem. Com um rebanho de gado de corte de mais de 2,1 milhões de animais, a região noroeste paranaense é a maior produtora de carne bovina e possui a maior área de pastagem. Em contrapartida, é onde está o maior problema com a degradação do solo.
“Em nossa última análise, no final de 2024, registramos que 25% das pastagens estavam com vigor baixo, sem as condições de níveis produtíveis adequados. A chuva recomeçou em novembro e até abril é possível uma melhora”, explicou a zootecnista e pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) Kátia Fernanda Gobbi.
Com o câmbio empurrando o produtor à exportação, o ciclo pecuário em um momento pouco favorável e a instabilidade climática, o consumidor deve estar preparado para novas surpresas nos valores da proteína bovina. Já o setor produtivo acompanha com atenção a investigação que a China abriu em dezembro do ano passado sobre as importações de carne bovina brasileira. Por enquanto, não está prevista nenhuma medida preliminar ou, ainda, a alteração na tarifa de 12% que é cobrada sobre o produto.
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