O Brasil pode ampliar em 76,2% as exportações para a China até o ano de 2030, passando dos atuais US$ 58,9 bilhões (média anual entre 2017 e 2020) para US$ 103,4 bilhões. É o que aponta o estudo Exportação dos Estados Brasileiros para a China: Cenário Atual e Perspectivas para Diversificação, lançado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
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Para alcançar esse resultado, no entanto, o estudo revela que é preciso diversificar a pauta de exportação. O documento traz uma lista de 216 produtos com potencial de ampliação das vendas nos próximos anos. O trabalho considera as características regionais e indica produtos que podem ser mais e melhor explorados em todas as regiões do país.
“A exportação brasileira para a China é muito concentrada e essa concentração se acentuou mais nos últimos anos”, diz o especialista em comércio internacional Fabrizio Panzini, autor do trabalho. Ele observa que a maior parte dos produtos exportados tem como fonte a agricultura ou o extrativismo, “mas há espaço para o crescimento de produtos industrializados”.
Além das exportações consolidadas de sementes oleaginosas, minérios e combustíveis, há uma série de outros setores com um número importante de bens a serem explorados para diversificação, como: peles e couros (7 produtos); carnes (8); ferro fundido, ferro e aço (9); pedras e gessos (11); produtos químicos e orgânicos (11); madeira e obras de madeira (15) e máquinas e equipamentos (19).
Para chegar aos 216 produtos com potencial a ser explorado, Panzini utilizou o Mapa de Oportunidades da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), que listou 433 bens em relação aos quais o Brasil possui oportunidades para manter, ampliar ou iniciar exportações para a China. Para esse conjunto de produtos foram aplicados filtros que selecionaram os bens mais relevantes a serem trabalhados pela diversificação das exportações do país, de regiões e dos estados (e do Distrito Federal).
O estudo apresenta ainda simulações dos ganhos de exportação para a China que o Brasil, regiões e estados poderiam ter até 2030, a partir de projeções de diferentes variáveis, entre as quais o potencial crescimento das importações pela China no período. As hipóteses foram elaboradas por uma equipe do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao governo federal, com uso de modelo adequado às simulações de impactos sobre os fluxos de comércio internacional.
Maior crescimento entre os parceiros comerciais do Brasil
O estudo traz uma retrospectiva do mercado entre Brasil e China de 2012 e 2021. Revela que, no período, as exportações brasileiras para o país asiático cresceram cinco vezes mais que as exportações (em valores) para o mundo. Foi o maior crescimento entre todos os parceiros relevantes do Brasil.
Todas as regiões brasileiras tiveram crescimento das exportações para o mercado chinês acima da média das exportações totais no período, sendo a China o principal destino dos embarques de 19 dos 27 estados brasileiros no período. Em 21 deles, houve aumento das exportações para o mercado chinês acima da expansão das vendas para o mundo.
Os estados com crescimento médio mais significativo foram: Rondônia (39,6%), Piauí (30,1%), Tocantins (26,2%), Amazonas (21,3%) e Acre (19,8%). Para 22 unidades federativas, a participação da China como destino de exportações se ampliou no período analisado.
Apesar dessa expansão, houve uma concentração das vendas na última década. Os dez principais produtos representaram, em média, 90,6% de tudo o que o Brasil vendeu para China.
Apenas sete estados conseguiram diversificar as exportações para a China no período: os três da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), Minas Gerais, Espírito Santo, Amazonas e Mato Grosso. Os mais notáveis foram Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Espírito Santo.
Paraná tem potencial para ampliar em 37% vendas para a China
O estudo indica que o Paraná tem condições de ampliar sua exportação para a China em 37,6% até 2030. Passaria de US$ 4,9 bilhões anuais (resultado médio de 2017 a 2020) para US$ 6,8 bilhões, um ganho de US$ 1,9 bilhão. Os produtos com mais potencial são carnes e celulose.
O estado foi um dos sete que tiveram uma desconcentração das vendas para a China. Enquanto em 2012 11 produtos paranaenses representavam ao menos 0,1% da pauta exportadora para o país asiático, em 2021 esse número chegou a 17. E a diversificação aconteceu exatamente com a entrada de forma mais expressiva na pauta de exportações de frangos e derivados e pastas químicas de madeira (celulose).
Olhando para as regiões brasileiras, o estudo conclui que o Norte é a localidade com maior potencial de aumento percentual das exportações, com 125,8%. É a segunda com maior possibilidade de crescimento em valores, com US$ 11,7 bilhões, atrás apenas do Sudeste, com projeção de crescimento de US$ 19,2 bilhões, o que representa 80,5%.
Necessidade de diversificação na exportação para a China é consenso
O estudo foi lançado na última semana, em evento que reuniu a diretoria do Conselho Empresarial Brasil-China, entidades parceiras do trabalho e representantes do governo federal. Ao final, houve um debate sobre o tema. Renato Baumann, coordenador de pesquisa do Ipea, destacou que é consenso a necessidade de diversificar as exportações do Brasil para a China.
“São poucos produtos elaborados que exportamos”, observou, reforçando a necessidade de mais investimentos e o estabelecimento de acordos comerciais. “Esse estudo permite identificar onde há potencial. Esse tipo de exercício é iluminador para políticas públicas em âmbito federal, estadual e municipal”, disse.
“A oportunidade é enorme, tem que aliar o aumento com a diversificação”, defendeu Igor Isquierdo, da Apex. Para ele, além de crescer nos tradicionais produtos (soja, carne de aves e carne suína), é possível diversificar para cafés especiais, vinhos, massas alimentícias, rochas ornamentais e fármacos. O representante da Apex destacou também o potencial de mercado para os produtos da Amazônia Legal, como açaí, guaraná e castanha do Pará. “Os chineses estão cada vez mais atentos à questão da sustentabilidade”, pontuou.
Mayra Minsoni, gerente de estratégia de mercado da Klabin (indústria de papel e celulose, com sede no Paraná), informou que 43% das exportações de celulose do Brasil têm como destino a China. Ela observou que tem havido um processo de urbanização bastante acelerado nas últimas décadas na China, o que intensificou os gastos dos chineses com produtos de higiene, como papéis sanitários.
Além disso, a flexibilização da política de filho único na China aquece o mercado de fraldas descartáveis, além do consumo de papéis em geral. “A celulose para todo esse mercado será do Brasil”, disse, acrescentando que a Klabin produz celulose dos três tipos de fibras para a confecção de todos esses itens”, informou.
A secretária de Comércio Exterior do governo federal, Tatiana Prazeres, destacou o caráter regional do trabalho. “É importante regionalizar estudos sobre o comércio exterior e trabalhar com estados para promover a cultura exportadora”, defendeu. Para a secretária, o fato de a China ser um grande importador de produtos brasileiros não é um problema, é uma oportunidade.
“O problema não é vender produtos básicos para a China. O problema é que temos dificuldade de agregar valor", pontuou a secretária. "Temos que olhar para o que pode ser feito para que mais empresas possam participar desse mercado chinês. A indústria brasileira perdeu competitividade, mas há uma discussão muito positiva no governo brasileiro sobre a reindustrialização”, concluiu.
A publicação é patrocinada pela Klabin e apoiada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), entidade criada pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ONU) para incentivar a cooperação entre os países membros.
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