Voluntários brasileiros estão ajudando moradores de Moçambique a construir casas baratas e mais resistentes, capazes de resistir a ciclones, tempestades e chuvas torrenciais que caracterizam os extremos do clima no país africano. Há quase um ano, Moçambique foi devastado pelo ciclone Idai, que destruiu milhares de moradias, matou mais de 600 pessoas e espalhou uma epidemia de cólera.
Nas últimas semanas, uma equipe da Fraternidade Capulana, de Curitiba, embarcou para a cidade do Dondo, na província de Sofala, para construir casas mais fortes e ajudar a produzir alimento para as famílias locais. Segundo Ademir Grein, diretor da ONG , o projeto Construção de Murmuchê vem ao encontro da necessidade de habitação das famílias que moram no bairro do Mandruzi. A técnica utilizada é a de bioconstrução camada de hiperadobe, que consiste em colocar a terra em sacos de cebola (raschel) e compactá-la, sem o uso de outros materiais. Apenas o reboco das paredes é feito com cimento.
Para chegar até o modelo ideal de moradia, ONG e voluntários passaram seis meses estudando a técnica. Um construtor de Curitiba também ajudou no desenvolvimento das casas. “Aprendemos técnicas e Julcemar Casa e sua esposa, Claudia Casa, junto com seu arquiteto, engenheiro e demais colaboradores, construíram uma casa em forma de domo para servir de modelo. É uma construção relativamente barata, exige pouco material, mas muita mão de obra”, revela Ademir.
A ONG acredita que as casas de bioconstrução poderão dar maior conforto aos moradores. “As tendas são um verdadeiro forno e alagam quando as fortes chuvas caem. As taperas construídas com pau e barro simplesmente se dissolvem nas chuvas de janeiro. Ou seja, eles perdem tudo e, caso voltem a morar em casas como aquelas, voltarão a perder seus pertences na próxima chuva”, acrescenta. Já as construções convencionais são consideradas inviáveis pelo custo. “Os materiais e ferragens são mais caros do que no Brasil. Em um país onde o salário mínimo não chega a R$ 400 e 80% da população está desempregada, a construção de uma boa casa, segura e resistente aos ciclones, temporais e ventos de 160km/h, não é possível”, acrescenta.
Para fazer as paredes das moradias, os voluntários da ONG e outros dez trabalhadores contratados para o serviço utilizam terra retirada dos milhares de cupinzeiros que existem pela região. “Os cupinzeiros daqui passam dos quatro metros de altura e dos dez metros de circunferência. São montanhas de terra argilosa, uma espécie de cimento pegajoso, que vira pedra quando endurece”, diz o diretor da ONG. Enquanto os moçambicanos usam esse material para fazer as casas de pau a pique, a Fraternidade Capulana constrói paredes com uma espessura de 20 cm. O resultado do trabalho é a construção de verdadeiros bunkers, resistentes às condições climáticas variáveis e extremas de Moçambique.
Antes de iniciar a construção das casas, a ONG colocou o projeto em prática levantando uma capela no Centro Orfanato da Igreja Metodista, que fica próximo a um reassentamento. Na obra, eles contaram com a ajuda da igreja – que emprestou uma caminhonete para o transporte de materiais -, e das próprias crianças do orfanato. Até mesmo a vizinhança colocou a mão na massa.
O plano inicial da ONG era de concluir as casas em quatro semanas, mas as chuvas se anteciparam e atrapalharam as obras. “Aqui quando chove, chove mesmo. Ficamos parados por uma semana e meia, pois a chuva derretia as paredes”, revela.
Sementes do Amanhã
Outro projeto realizado pela ONG é o Sementes do Amanhã, que ao lado da Construção de Murmuchê, busca auxiliar a recuperação das mais de 400 famílias que perderam tudo com o ciclone Idai, em março de 2019, e foram realocadas em um espaço remoto, sem infraestrutura e sem recursos para recomeçar. Pelo projeto, são beneficiadas 24 famílias com o cultivo de mandioca, arroz e outros alimentos em uma área de seis hectares.
“Conseguimos com um agrônomo voluntário local a capacitação das famílias em técnicas agrícolas. Foram diversos encontros teóricos e práticos. Após os encontros, os seis hectares foram repartidos para que as famílias pudessem trabalhar. Sementes foram compradas e distribuídas. A Fraternidade da Capulana buscou dar a vara e ensinar a pescar, ao invés de dar o peixe. Desta maneira os agricultores podem garantir seu alimento, separar sementes para o próximo plantio e vender o excedente”, conta Ademir.
Nesta visita às comunidades moçambicanas, a ONG também levou vestidos para presentear as meninas. Produzidos pelo grupo Arteiras do Bem, os vestidos atendem outra necessidade dos moradores da cidade do Dondo: muitos deles têm apenas uma peça de roupa, que mesmo suja e rasgada, é utilizada por meses.
ONG premiada
A ONG paranaense, que foi uma das vencedoras do 1º Prêmio Impulso de Boas Práticas no 3º Setor realizado pelo Instituto GRPCOM, levou para Moçambique cinco voluntários. Ademir, a esposa Priscila Almeida e os amigos Thales Veloso, Carlos Neves e Bruna Eduarda dos Santos.
Para Ademir, a Fraternidade da Capulana é ainda uma ONG pequena, que sobrevive a partir da realização de bazares e da compra e revenda do artesanato de Moçambique no Brasil. “Também recebemos doações de algumas pessoas que acreditam na causa. Alguns amigos apadrinham as crianças do Infantário de Inhambane, garantindo uma educação de qualidade. Agora estamos atrás de padrinho para as famílias do reassentamento. Para ajudar a garantir um terreno para plantar, sementes e material didático para as crianças. Acreditamos que com você nos ajudando com seu tempo, sugestões, conhecimento e até mesmo com recursos financeiros podemos fazer muito mais”, finaliza.
Para saber mais sobre o trabalho da ONG, acesse a página da Fraternidade Capulana no Facebook.
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