Pelo terceiro ano consecutivo, a Secretaria Estadual de Educação (SEED) do Paraná está ofertando aos professores da rede um programa de capacitação no qual a formação é realizada pelos próprios docentes, em um modelo conhecido como peer-to-peer. Ao longo desse período, o programa “Professor Formador” vem dobrando ano a ano o alcance junto ao quadro do magistério, e se mantiver a taxa de crescimento poderá estar disponível para todos os 45 mil professores da rede estadual do Paraná já em 2023.
RECEBA notícias do Paraná pelo WhatsApp
A estimativa é do titular da SEED, o secretário Renato Feder. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele confirmou que no primeiro ano do programa, em 2020, cerca de 6 mil professores se inscreveram nos cursos de formação. No ano passado foram abertas 11 mil vagas. Agora, em 2022, a procura foi maior do que oferta feita aos cursistas – como são chamados os professores em processo de formação.
“Nós abrimos 22 mil vagas, mas não sabíamos que a adesão ia ser tão grande dentro do nosso quadro de 45 mil professores. Houve 27 mil pessoas querendo fazer os cursos. Com isso, 5 mil professores acabaram ficando de fora. Mais um ano nessa tendência e praticamente conseguiremos atender a todos os nossos professores. Isso nos anima muito. Esse seria o ideal, que todos os professores tenham esse momento de interação com os colegas”, comentou.
Feder revelou a origem do modelo de formação escolhido pela pasta. “A inspiração veio das escolas do Japão. Eu li vários trabalhos, vários tratados e estudei casos exitosos do Japão, que é um país muito bem qualificado no ranking Pisa. Eles têm essa tradição na formação de professores, é algo muito presente por lá a figura de um professor mestre e outro aprendiz conduzindo as turmas. Essa é uma cultura na qual o professor tutorado acompanha e aprende com o tutor para depois de muitos anos de capacitação se tornar apto a cuidar ele de um novo professor tutorado. É uma tradição de colocar os pares um a um, e nós nos inspiramos neste modelo”, apontou o secretário.
Foco na toca de experiências
O programa trabalha em duas frentes. A primeira fornece capacitação dentro de cada uma das disciplinas da grade curricular dos ensinos Fundamental e Médio. Além do professor formador, cada turma é formada por cerca de 15 cursistas. O objetivo, de acordo com Feder, é que haja uma toca de experiências entre todos os participantes, o que vai ajudar os cursistas a planejarem e executarem as aulas de uma forma mais interessante para os alunos.
“Nesses encontros, é dada uma formação prática sobre as próximas aulas que esses cursistas vão ministrar. Essa formação não é teórica, mas com muita prática para ajudar a treinar esse professor para as aulas das próximas semanas. E os professores valorizam esse processo, porque isso dá ferramentas para que esses docentes tenham melhores condições de trabalhar. Há casos em que os cursistas dominam totalmente a teoria, mas têm dificuldade de apresentar o conteúdo de uma forma interessante para os alunos. E nessas turmas com os professores formadores ocorrem trocas entre todos os participantes, não só dos tutores para os cursistas. São 12, 15 realidades diferentes que podem ser combinadas da melhor forma possível, de forma que haja uma boa solução para esses professores”, avaliou.
Cursos ajudam professores na retomada das aulas presenciais
Além do conteúdo das disciplinas, a forma como esse conteúdo é passado aos estudantes também é alvo do programa de formação. Na segunda frente de trabalho, os docentes são incentivados a melhorar a gestão da sala de aula. Uma formação “imprescindível”, nas palavras do secretário, para professores que vão trabalhar com estudantes que ficaram por dois anos longe das salas de aula.
“Esse professor vai aprender como engajar o aluno, como lidar com casos de indisciplina, como reter a atenção da turma, que tipo de intervenção é mais eficaz. É uma formação completa sobre como gerir a sala de aula. É uma ferramenta imprescindível, um dos cursos nos quais tivemos mais demanda, principalmente para atender esses alunos no retorno às atividades presenciais nessa etapa da pandemia”, avaliou Feder.
Incluir a tecnologia dentro da didática da aula é o objetivo de outro dos cursos do “Professor Formador”. Dessa forma, explicou o secretário, as aulas deixam de ser simplesmente expositivas e passam a contar com mais interatividade – uma forma de atrair a atenção do aluno e de tornar o conteúdo mais assimilável.
“A internet é repleta de recursos, mas isso pode acabar deixando alguns dos professores perdidos. Com essa formação um professor de História vai aprender que pode navegar por museus, de forma virtual. Um professor de Geografia pode explorar o relevo do fundo do mar por meio de ferramentas do Google. Um professor de Biologia pode levar os estudantes para conhecer como é um vírus por dentro, e ver como ele infecta uma célula. Um professor de Matemática pode mostrar gráficos se movendo em tempo real conforme ele altera as variáveis de uma equação”, enumerou.
Todas as aulas são ministradas de maneira online, no que o secretário chamou de um “modelo similar a uma universidade”. Os professores cursistas escolhem as turmas que querem frequentar e fazem a matrícula para o período de três meses. A meta é manter a formação de forma perene, de modo que ao concluir um dos cursos o professor cursista já de matricule em outra opção e mantenha ativo o processo de formação. Não há restrições para a participação dos docentes: podem se matricular professores desde o início de carreira até aqueles próximos da aposentadoria.
Professores formadores são "a elite do magistério"
O processo de seleção dos professores formadores é feito em três etapas. A primeira é a aplicação de uma prova. Em seguida, os selecionados gravam uma aula em vídeo, para que possam ser avaliados em relação à didática. Por fim, os aprovados na segunda etapa passam para uma entrevista. Nas contas do secretário, dos cerca de 4 mil inscritos, aproximadamente 450 professores foram selecionados como formadores.
“Nesse processo, nós conseguimos identificar a nata do nosso corpo docente, uma verdadeira elite com muito conhecimento técnico nas disciplinas e muito carisma e fluidez no comando das aulas. São professores muto experiente, com muito conhecimento acumulado e uma capacidade extraordinária de interlocução”, comentou.
Falta formação prática de sala de aula nas universidades
A escolha de colocar professores ao lado de seus pares no processo de formação se deu porque para a secretaria falta nos cursos superiores uma ênfase maior no ensino da didática. “Infelizmente os cursos universitários não conseguem dar conta de toda a prática da sala de aula. Falta esse conhecimento técnico de como gerir a sala de aula”, disse Feder.
“Não adianta colocar esse professor para escutar uma palestra, não importa por quantas horas, isso não vai dar resultado como treinamento para essa gestão da sala de aula. O professor da nossa rede é quem melhor conhece a realidade das nossas escolas. É ele quem vai construir com os outros professores as melhores soluções para a gestão da sala de aula. É ele quem sente as dores dos outros professores, é ele quem conhece a realidade das escolas. Mesmo que eu trouxesse mil palestrantes de fora para ficar aqui na nossa estrutura interagindo com os nossos docentes, isso não seria tão efetivo quanto colocar os nossos próprios professores como agentes ativos neste processo de aprendizagem e transmissão de conteúdo”, concluiu o secretário.
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná
Deixe sua opinião