Ato de apoio à Ucrânia em Prudentópolis, cidade com grande comunidade ucraniana| Foto: Reprodução/Facebook/Prefeitura de Prudentópolis
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Para além dos horrores da guerra, a invasão russa na Ucrânia tem sido vista com uma apreensão especial no Paraná. O estado, que congrega o maior contingente de imigrantes e descendentes ucranianos no Brasil, deve muito de sua formação social e cultura ao país europeu.

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No Centro-Sul do Paraná, entre florestas de araucárias e verdes campos de aveia e trigo, está Prudentópolis, o coração da Ucrânia no Brasil. Estima-se que 75% da cidade de 52 mil habitantes sejam descendentes de imigrantes ucranianos que aportaram por aqui no século 19. Os 25% restantes são divididos entre descendentes de italianos, poloneses, alemães e alguns brasileiros misturados.

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Os ucranianos começaram a chegar por volta de 1894 quando deixaram a Província da Galícia, no extremo Leste do então império austro-húngaro. Foram seduzidos pelos agentes das companhias de navegação que faziam rotas para as Américas. Brasil e Canadá eram os principais destinos. Sem conhecimento sobre o Brasil, tinham como única fonte de informação o relato dos agentes, que não tinham escrúpulo ao fazer promessas para convencer os imigrantes, afirmando que eles iriam encontrar desde "terras sem senhores" a "estradas feitas de esmeraldas".

Os imigrantes fizeram uma viagem rumo ao desconhecido. O destino deles foi o Paraná, que pretendia usar os estrangeiros para consolidar a ocupação de parte das fronteiras do Brasil e produzir alimentos para abastecer a região. Mas eles chegaram a uma terra de promessas quebradas: Prudentópolis era, então, apenas uma rua de lama com uma única linha de telégrafo, rodeada por uma grande floresta de pinheiros e nenhuma infraestrutura. Nem mesmo os lotes prometidos estavam demarcados.

No início, os colonos se viram diante da fome e da morte. Foram necessários anos de resistência para que os ucranianos pudessem construir novas relações sociais e efetivamente pudessem trabalhar na terra.

A luta hoje é diferente: manter a cultura viva e distinta depois de um século no Brasil. Uma frente nessa batalha é o Museu do Milênio. Lá podem ser encontrados muitos dos artefatos e ferramentas utilizados pelos colonos em seus primeiros anos no Brasil.

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O cineasta paranaense Guto Pasko, natural de Prudentópolis, esteve na Ucrânia no fim de 2019 durante a produção de um documentário onde mostra as origens da própria família. “Graças a esse trabalho”, disse, “refizemos nossos laços com a nossa aldeia natal, de onde em 1896 saíram essas pessoas com destino ao Brasil. O sentimento por lá é de desesperança. Falamos ontem com uma prima da minha mãe que conseguiu atravessar a fronteira e está na Polônia. Ela está desolada, tem pouco mais de 40 anos, é viúva, tem dois filhos, um de 11 anos e outro de 19 que foi convocado para a guerra”, comentou.

“É um povo que sempre sofreu consequências de guerras. É tudo muito cíclico, e está se repetindo de novo. A situação geopolítica da Ucrânia é muito delicada, é um país que tem cerca de 30 anos de independência e que ficou por muito tempo sob domínio dos russos. Isso levou a um paradoxo, é uma região do mundo onde todos têm razão, mas ninguém está certo”, apontou o cineasta. “Ninguém sabe o que realmente se passa na cabeça do Putin. Se não houver uma resposta internacional realmente forte, corremos o risco de ver um massacre por lá, os ucranianos podem ser esmagados”.

Pasko destacou a importância da cultura ucraniana na formação da sociedade paranaense. Segundo ele, os primeiros ucranianos a chegarem ao que seria futuramente o Paraná vieram, predominantemente, de regiões agrícolas. Isso teve influência direta na criação do modelo cooperativista, que hoje representa fatia importante do agronegócio no estado.

“As primeiras cooperativas no Paraná foram criadas por esses imigrantes ucranianos. E muita gente não sabe disso, que essa força econômica tão importante começou com esse povo. As primeiras indústrias de moagem de grãos no estado também foram criadas pelos ucranianos recém-chegados. Eram aldeões, que assim que chegaram foram fazer o que sabiam, que era esse trabalho no campo”, comentou.