A busca por sustentabilidade ambiental e social está no DNA das grandes cooperativas paranaenses. Se práticas sustentáveis são uma realidade nessa modalidade empresarial, o desafio é que essas ações cheguem também ao cooperado. Com a ideia de concretizar essa proposta, a Cooperativa Frísia lançou o programa Fazenda Sustentável para aumentar a competitividade e a sustentabilidade do produtor.
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A cooperativa vem planejando projetos estratégicos que têm como prazo de conclusão o ano de 2025, ano que a empresa completa 100 anos. Os novos negócios estão recebendo investimentos de aproximadamente R$ 1 bilhão. Uma das iniciativas é o Programa de Sustentabilidade Frísia.
Identificação e classificação dos resíduos, logística reversa, adequação do manejo dos dejetos e implantação de painéis fotovoltaicos são outros dos projetos da Frísia. Para além de boas práticas na cooperativa, o intuito é que essas ações sejam efetivadas nas propriedades dos cooperados.
Para isso acontecer, o programa Fazenda Sustentável pretende a formação de uma rede de apoio e de treinamento para os cooperados da Frísia. A iniciativa começou com a construção da maltaria em Ponta Grossa (PR) por um grupo de cooperativas, incluindo a Frísia. Uma das exigências das indústrias compradoras do malte é que a cevada seja sustentável, ou seja, uma “cerveja sustentável”, e que os produtores cumpram uma série de requisitos ambientais, sociais e de infraestrutura.
O programa Fazenda Sustentável surgiu para auxiliar o produtor a melhorar os certificados ambientais, assim como os cuidados sociais e trabalhistas. “Esse projeto trabalha em módulos. Temos os módulos de gestão de pessoa, segurança do trabalho, ambiental e certificação. A cada módulo trabalhamos uma gama de produtos e processos na propriedade rural. Desde sucessão familiar até o financeiro, o maior desafio para o produtor”, explica Jean Cesar Andrusko, especialista em meio ambiente da Frísia Cooperativa.
Segundo Andrusko, a cooperativa faz um diagnóstico da propriedade do cooperado. Nessa análise é avaliado o que pode ser melhorado e os treinamentos a serem feitos. “A gente busca essas ferramentas para tornar a gestão mais eficiente e pensando na sustentabilidade. Quando a gente fala em sustentabilidade não é somente ambiental, é também financeira e social”.
Na área de bovinocultura, muitos cooperados da Frísia estão investindo em esterqueira impermeabilizada. Os dejetos dos bovinos têm nutrientes, mas se não tiver um tratamento adequado pode ser lançado no meio ambiente e poluir o solo e a água. “O dejeto dentro da esterqueira pode servir como adubo. A gente também avalia o valor nutricional do dejeto para a planta e podemos saber qual o impacto no solo”, afirma Andrusko.
A preocupação e o cuidado no consumo de água são práticas que o programa também tem incentivado. “Estamos instalando nas propriedades hidrômetros para monitorar o consumo de água. A gente tem incentivado o produtor a ter cisterna depois de fazer um diagnóstico da fazenda”, comenta o integrante da empresa.
No Paraná, a Frísia Cooperativa conta com 916 cooperados. O programa Fazenda Sustentável, que começou na parte agrícola, tem a participação de 65 propriedades. A perspectiva é de ampliação. De acordo com Andrusko, as visitas e diagnósticos continuam para mais fazendas participarem do projeto. “Qual o nosso impacto? Mudar uma cultura para melhor, orientar, dar treinamento e eles [os cooperados] vão replicar esse conteúdo”, destaca ele.
Cooperado da Frísia busca certificações para impulsionar valor da produção
A Fazenda Frank'Anna, localizada em Carambeí (PR), é uma das propriedades que participa do programa Fazenda Sustentável. Com produção de soja, milho, feijão, cevada e aveia, o proprietário Richard Dijkstra diz que já sente o impacto positivo de fazer parte da iniciativa.
“Está sendo bem interessante. São diversas mudanças para incentivar os colaboradores, além de mais segurança para os trabalhadores. São melhorias que acabam mudando a cultura de trabalho”, relata. Entre as novidades está um olhar apurado para a destinação dos resíduos. Dijkstra também tem buscado conseguir certificações ambientais, o que valoriza ainda mais sua produção. “Uma certificação de boas práticas, de rastreabilidade, para o consumidor final. O consumidor vai ter a certeza que a fazenda segue uma série de protocolos ambientais, sociais e trabalhistas”.
A mudança que gerou impacto na produção da Fazenda Frank'Anna também teve efeito nos colaboradores da propriedade. “[Vimos] melhorar o trabalho na propriedade e ter um melhor preço no produto final. Já sinto o impacto positivo. Os colaboradores abraçaram a ideia e está tendo uma mudança de comportamento na organização e no cuidado com o meio ambiente”, ressalta Dijkstra.
Sustentabilidade agrega valor na produção
Ações para melhorar o consumo de água, destinação dos resíduos, infraestrutura da fazenda e a segurança no trabalho trazem resultados positivos para o colaborador e ao meio ambiente. Mas não é somente isso. As iniciativas sustentáveis impactam no bolso do cooperado.
“Em uma visão de mercado e na maneira como os consumidores olham para os produtos, todos ganham. Muitas cooperativas estão adotando praticas sustentáveis como redução de consumos, energia limpa e agricultura sustentável. A médio e longo prazo há um retorno financeiro”, afirma Danielle Denes dos Santos, pós-doutora em políticas para inovação e professora da Universidade Positivo.
O especialista da Frísia, Jean Cesar Andrusko, destaca que os clientes estão dispostos a pagar a mais pelo cuidado sustentável. “A sustentabilidade agrega valor na produção. Agrega valor pela boa prática. Até em uma rotação de cultura pode gerar economia. A sustentabilidade é na capacitação do funcionário também. É esse valor que queremos mostrar para o produtor com o programa”.
Para a pós-doutora em políticas para inovação, a busca por estratégias ESG (termo que, na tradução do inglês, significa governança ambiental, social e corporativa) está na identidade do cooperativismo. “Quando a gente pensa no cooperativismo, adotar estratégias de ESG potencializa negócios e resultados em toda a cadeia. Os princípios do cooperativismo têm uma relação com o ESG. Um dos pontos centrais é que o ESG é um processo a longo prazo e isso está na raiz do cooperativismo”.
Essa é a terceira reportagem da Gazeta do Povo da série Cooperativas paranaenses protagonistas em sustentabilidade.
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