A Cooperativa Frísia, de Carambeí, mantém estrutura no estado do Tocantins, para onde foram alguns de seus cooperados em busca de novas terras para plantar.| Foto: Divulgação/Frísia.
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O crescimento das cooperativas paranaenses, especialmente com os investimentos feitos em plantas industriais nas últimas décadas, acabou tornando o estado pequeno para atender o setor. A maioria delas tem agroindústrias - são unidades que demandam grandes volumes de matéria-prima para serem processados. E o Paraná, sozinho, já não dá mais conta de atender a toda essa demanda.

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O caminho foi buscar novas fronteiras agrícolas, já que no Paraná há tempos as áreas agricultáveis são consideradas todas ocupadas. À procura de novos solos para o cultivo de lavouras, as cooperativas do Paraná e seus cooperados começaram a explorar outros estados. A movimentação não é de hoje, começou na década de 1980, e não mostra sinais de que vai parar tão cedo.

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Atualmente, as cooperativas paranaenses estão presentes em 11 estados brasileiros, além do próprio Paraná: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Piauí, Rio de Janeiro, Sergipe e Tocantins. E, além disso, algumas estão também no país vizinho, Paraguai.

“É natural esse movimento”, observa José Roberto Ricken, presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).  “As agroindústrias demandam matéria-prima que o Paraná, embora seja um grande produtor, não tem mais em volume suficiente”, informa.  Das 61 cooperativas agropecuárias do Paraná, 40 têm unidades industriais. No total, o setor reúne 120 agroindústrias.

A expansão para outros estados tem contribuído para o cooperativismo paranaense crescer, mas continua sendo dentro do Paraná sua maior representatividade. “Cerca de 86% dos nossos cooperados e das nossas estruturas estão no Paraná, onde também fica 93% do nosso quadro funcional”, esclarece Ricken.

O presidente da Ocepar diz que alguns dos estados para onde as cooperativas paranaenses estão indo - como Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul - têm mais recursos para investir, e em condições mais vantajosas, o que é um atrativo. Estes, em especial, contam com o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). O fundo foi criado pela constituição federal de 1988 para contribuir com o desenvolvimento econômico e social da região. Por meio do FCO, é possível acessar financiamentos de longo prazo com baixas taxas de juros.

Do Paraná para o Cerrado

Estrutura da Cocari em Coromandel, município de Minas Gerais.| Foto: Divulgação/Cocari.
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Uma das primeiras a explorar outros estados foi a Cooperativa Agropecuária e Industrial (Cocari), que tem sede em Mandaguari, no norte do Paraná. Em 1984, alguns de seus cooperados começaram a migrar para o Cerrado. “Naquele ano, surgiu um projeto financiado pelo governo japonês (Prodecer – Programa de Cooperação Técnica Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados) para investir na região. Um grupo de agricultores nossos manifestou interesse em participar, mas era necessário que uma cooperativa fosse junto. Decidimos ir”, conta Marcos Antonio Trintinalha, presidente da cooperativa.

No começo, a Cocari se instalou em dois municípios de Goiás – Cristalina e Campo Alegre. Hoje já está em nove municípios goianos e em quatro de Minas Gerais. O próprio Trintinalha, na época engenheiro agrônomo da cooperativa, se transferiu para Goiás em 1988 para atuar na unidade de produção de sementes. A partir 2008 a Cocari intensificou sua atuação no Cerrado abrindo novas unidades.

O presidente explica que ao contrário do Paraná, que se caracteriza por minifúndios e, por conta disso, na época já não havia mais disponibilidade de área, o Cerrado tinha grandes extensões. “E o que mais atraiu os agricultores paranaenses para lá foi o preço da terra. Com a venda de 1 hectare aqui, era possível comprar de 2 a 3 ou até mais em Goiás” , compara, acrescentando que hoje por lá a terra já está mais valorizada.

Segundo Trintinalha, a qualidade do solo quando foram para lá não era muito boa. Mas, com a experiência que já tinham corrigiram a terra com calcário e outros minerais, e hoje é excelente, produzindo tanto ou até mais que as lavouras paranaenses.

Na área industrial, a Cocari atua na produção de carne de frango em intercooperação com a Aurora Alimentos, e de peixe, por meio de seu projeto de Integração à Piscicultura. Tem também fábrica de fiação de algodão e mescla, além de unidades de produção de sementes, no Paraná e em Goiás. E ainda produção de fertilizantes, em intercooperação com a Coonagro, e também uma fábrica de rações, para pets, peixes e grandes animais. A cooperativa tem, no total, 10.401 cooperados - a maioria está no Paraná. Cerca de 2,7 mil estão em outros estados. E conta com mais de 2,3 mil colaboradores.

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Unidade de Beneficiamento de Sementes da Cocari, em Cristalina, Goiás. | Foto: Divulgação/Cocari.

Oportunidades de bons negócios

A C.Vale, uma das maiores cooperativas do Paraná, que tem sede em Palotina, no oeste do Paraná, em 2001 entrou no Mato Grosso do Sul e em 2015 adquiriu uma cerealista gaúcha. Hoje, já são 28 unidades no Rio Grande do Sul. “Nossa expansão se dá de duas maneiras: ou vamos para seguir associados que vão para novas regiões ou então para aproveitar oportunidades de bons negócios que aparecem”, explica Alfredo Lang, presidente da cooperativa.

C.Vale, uma das maiores cooperativas do Paraná, precisou ir para outros estados para garantir matéria-prima para suas indústrias. | Foto: Divulgação/C. Vale

Ele conta que parte da produção do Mato Grosso do Sul é usada para a produção de  rações pela própria cooperativa. A C.Vale tem entre suas principais atividades a produção de carne de frango e peixe. “Deveremos aumentar bastante o aproveitamento de grãos produzidos naquele estado a partir de 2024,  quando colocarmos em operação a nossa esmagadora de soja em Palotina”, prevê Lang. A unidade poderá processar até quatro mil toneladas/dia. “Então será preciso um volume muito grande de soja, que vamos precisar trazer do Mato Grosso do Sul e do Paraguai, onde também atuamos”, informa. A cooperativa está também em Santa Catarina.

Alfrego Lang avalia como muito positiva a busca de outros territórios para ampliar a produção. “A experiência nos trouxe pelo menos dois grandes benefícios: garantiu nosso abastecimento para rações e também para exportações, nos deu mais segurança do ponto de vista das receitas”, observa.

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“Se você tem uma área de atuação grande, pode minimizar eventuais quebras por problemas climáticos. É isso, aliás que está acontecendo nestes últimos anos de quebra por estiagens. Quando quebrou no Paraná, o Rio Grande do Sul foi bem. Nesses dois últimos anos de quebra da soja no Rio Grande [do Sul], o Mato Grosso foi bem. Você consegue manter sua receita mais estável, o que é importantíssimo quando se quer investir. Como é que você tomar um empréstimo para fazer um investimento se a sua receita num ano é 10, no outro é 8 e no outro é 12?”, questionou.

O presidente da C.Vale disse também que a estratégia da cooperativa é “não colocar os ovos todos na mesma cesta”. A diversificação não se deu apenas nas áreas, mas também no mix de produtos. “Temos soja, milho, trigo, mandioca, leite, suínos, peixes e frangos.  Num ano, um produto oferece maior rentabilidade, em outro ano já muda. Se tem opções, não fica tão dependente do clima, das oscilações de preços, de algum embargo ou um problema qualquer que afete o segmento”, ensina.

Do norte do Paraná para o sudoeste de São Paulo

A experiência da Cooperativa Integrada fora do Paraná começou mais tarde. E a migração foi para o sudoeste de São Paulo. Com sede em Londrina, no norte do Paraná, a Integrada instalou, em 2015, uma unidade para o fornecimento de insumos e prestação de assistência técnica em Campos Novos Paulista. O objetivo era atender um um grupo de cooperados que já havia migrado para lá.

“Já havia cooperados nossos em Campos Novos Paulista, Palmital e Iberama e eles demandavam assistência técnica”, conta o presidente Haroldo José Polizel. Em 2021, a Integrada inaugurou uma loja de implementos agrícolas em Ourinhos, na mesma região onde estavam os cooperados. “Quando chegamos no estado de São Paulo fomos muito bem recebidos não apenas pelos nossos cooperados, mas pelos agricultores da região. Superou a nossa expectativa. Deu um casamento com os produtores de lá”, diz Polizel.

Segundo ele, a tradição do Paraná no cooperativismo desperta o interesse. “Temos estrutura e prestamos um serviço pautado na agregação de valor para o agricultor e isso interessa a todos”, observa. O principal produto que os cooperados da Integrada cultivam no interior de São Paulo e o mesmo que é cultivado no Paraná: a soja. Destinado à exportação, o grão colhido no estado vizinho segue diretamente para o porto de Santos (SP). Só uma pequena parte segue para o porto de Paranaguá. No Paraná, a Integrada tem 12 mil cooperados.

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Lar: a experiência fora de casa começou pelo Paraguai

Antes de avançar para outros estados brasileiros, a Cooperativa Lar, que tem sede em Medianeira, no oeste paranaense, já estava no Paraguai. A produção em terras paraguaias começou há 23 anos. Tanto a ida para o país vizinho, quanto dois anos depois para o Mato Grosso do Sul, tiveram o mesmo propósito: aumentar a produção. “Tínhamos necessidade de mais soja para abastecer nosso parque industrial e de mais milho para alimentar nossos plantéis de aves e suínos, algumas das principais atividades da nossa cooperativa”, explica o presidente Irineo da Costa Rodrigues.

Hoje, a Cooperativa Lar tem estrutura própria em 18 municípios do Mato Grosso do Sul. “No Paraná tínhamos uma limitação para crescer. Se fossemos expandir estaríamos criando um conflito com outras cooperativas da região, a Coopavel e a Coopagril. Por isso fomos para fora”, explica o presidente.

“Temos agroindústrias e, para elas produzirem, precisam de matéria-prima. Antes, exportávamos milho e soja, mas com a pecuária intensiva que desenvolvemos, usamos esses produtos na alimentação animal. Em nossa região não há volume de produção suficiente para nos atender. Por isso, produzimos fora”, esclarece Rodrigues.

Atualmente, 80% dos grãos que a Lar recebe são do Mato Grosso do Sul. Parte da produção de soja dos agricultores sul mato-grossenses fica por lá mesmo, já que a Lar instalou no estado vizinho uma unidade de esmagamento da oleaginosa.

Migração para o Tocantins contribui para a sucessão familiar

Para a Cooperativa Frísia, de Carambeí, nos Campos Gerais do Paraná, a migração para o estado do Tocantins tem contribuído para a sucessão familiar. “No Paraná, há disponibilidade limitada de áreas para venda e arrendamento e as condições são inviáveis. O Tocantins, por outro lado, oferece uma vasta área disponível a preços interessantes, o que tem despertado bastante interesse. Vemos que muitos filhos de cooperados do Paraná têm ido para o Tocantins. Então, o projeto contribui para o processo de sucessão das família”, destaca Mario Dykstra, superintendente da cooperativa.

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Ele explica que o avanço em novas fronteiras agrícolas está previsto no planejamento estratégico da Cooperativa Frísia. “O propósito é oferecer uma nova opção de investimento em uma região de terras a preços interessantes e viáveis”, explica o superintendente. Dykstra acrescenta que a região tem clima adequado para o cultivo e bons solos, além de uma boa estrutura logística. A expansão para o Tocantins começou em 2015. Hoje há dois entrepostos no estado, um em Paraíso do Tocantins e outro em Dois Irmãos, e a cooperativa avalia a possibilidade de expansão.

Lá, a Frísia conta com 130 cooperados. Alguns são antigos cooperados que migraram do Paraná para o Tocantins. Mas há também agricultores de lá mesmo e de outros estados que se estabeleceram na região e se associaram à cooperativa paranaense. A produção de soja segue, em grade parte, para o mercado externo pelo porto de Itaqui, no Maranhão. E a maioria do milho fica no Tocantins para alimentar a criação de gado e frango. Um pequeno excedente vai para outros estados.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]