Foi um desafio que pegou de surpresa. Desde janeiro, o Paraná encara com atenção os números econômicos que vêm do outro lado do mundo. A expectativa de menor crescimento – ou até crescimento zero – na economia chinesa, resultante da paralisação causada pelo Coronavírus no país, interessa ao estado, que tem no gigante asiático seu principal parceiro comercial. Só em 2019, o Paraná exportou US$ 4,2 bilhões para os chineses e importou US$ 2,5 bilhões.
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O semi-crash chinês terá efeito, mas não no principal segmento de negócios com o Paraná. Grande exportador de commodities para os asiáticos, o agronegócio do estado deve seguir abastecendo a China, na avaliação da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). “Nesse primeiro bimestre tivemos redução de exportação em algumas culturas, mas aumento muito forte na exportação de outras. O maior exemplo é a carne. No primeiro bimestre aumentou 78% o volume de exportação para a China, saindo de US$ 71 milhões [em valores negociados] para US$ 127,5 milhões”, diz Luiz Eliezer Ferreira, economista da instituição.
O mercado chinês continua aquecido porque a Ásia ainda sente os efeitos da peste suína africana, que dizimou rebanhos chineses e aumentou a demanda do continente por proteínas importadas. O Paraná passou a vender frango para o país, na esteira deste espaço. Ferreira não prevê uma mudança neste cenário, afinal, é uma demanda por alimentos de 1,3 bilhão de pessoas. “Com o Coronavírus, pode até haver um choque de demanda. Mas os chineses vão continuar comprando carne”, diz.
Nos casos das culturas que tiveram redução de exportações, o principal motivo não é o Covid-19, tampouco a crise do petróleo – outra pauta internacional que engrossou a lista de preocupações de empresários brasileiros. “Os grãos tiveram queda no volume de exportações para a China, mas por outros fatores. Ela é explicada pela aproximação comercial no ano passado entre China e Estados Unidos. Eles [os chineses] acordaram que comprariam os grãos norte-americanos”, aponta o economista.
A fatia que deixou de ser exportada dos grãos paranaenses foi absorvida pelo mercado interno – estados como Santa Catarina dependem de farelo de soja vendido por outras unidades da federação para alimentar seus rebanhos.
Na outra mão, o Paraná traz fertilizantes da China para o campo. Porém, o mercado local está abastecido já que, no ano passado, os preços baixos no mercado internacional fizeram os produtores paranaenses abastecerem seus estoques. Essa importação só será problemática, na avaliação da Faep, se a crise sanitária durar para além da virada do semestre, quando os agricultores paranaenses começam a semear a soja.
Situação é diferente na indústria dos manufaturados
Se com as commodities a situação é menos temerária, na indústria de manufaturados o combo de crise do petróleo e desaceleração na China tem impacto pesado. “Nossa indústria tecnológica sofre pelos insumos. As peças tecnológicas vêm de lá [da Ásia]. Somado à alta do dólar e crise do petróleo, gera um impacto muito grande”, destaca Chiu Po Cheng, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China.
Segundo números da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), 70% das empresas do setor no país já sofrem impacto. Destas fabricantes, 6% trabalham com paralisação parcial – os números são nacionais e a entidade não especifica qual é o recorte paranaense. No entanto, ao jornal Valor Econômico, ainda em fevereiro, Hélio Rotenberg, que é presidente da Positivo Tecnologia, disse que a empresa paranaense já sofria com atraso na entrega de componentes.
Embora trabalhem com estoques maiores, as montadoras de automóveis e revendedores de autopeças também devem sofrer. Nesta semana, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicou que a produção de veículos no Brasil – que já não vem bem neste ano – pode piorar com a falta de componentes chineses. O país asiático é o maior fornecedor de autopeças para o Brasil.
Um alento para os fabricantes que usam insumos chineses em sua produção é uma retomada lenta da indústria na China, que ainda depende das respostas no combate ao vírus.
Por aqui, ninguém arrisca falar de impactos no PIB do estado. O Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), órgão de análises econômicas do estado, ainda estuda um modelo para fazer a análise. “Não há informações conclusivas no momento”, destaca o órgão.
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