O Paraná superou, nesta quarta-feira (3) o número de 200 mortes por Covid-19, mas a análise da evolução do coronavírus indica que o estado está conseguindo conter a velocidade de propagação do vírus. Os recordes diários de novos casos e, principalmente, o número de mortes na última semana, no entanto, servem de alerta para o risco de agravamento da situação.
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Com a Covid-19 sendo assintomática para a maioria dos infectados e sem testagem em massa, o comparativo pelo número de casos fica comprometido pela subnotificação e por mudanças de políticas e estratégias de testagem - o que vem acontecendo no Paraná. O estado ampliou, nas últimas semanas, o número de testes diários, o que, consequentemente, fez aumentar o número de casos confirmados. Assim, o principal dado utilizado por epidemiologistas é o número de óbitos.
O Paraná aumentou o tempo percorrido para dobrar o número de mortes: foram 17 dias entre o 50º e o 100º óbito; para se chegar de 100 a 200 fatalidades, passaram-se 28 dias - cerca de 2,8 mortes por dia, em média. Uma estatística que indica redução, já que o número de óbitos diários se manteve em 3,4 ao dia até 27 de maio.
Os números do Paraná são bem melhores do que os dos primeiros estados a atingirem as 200 mortes. São Paulo e Pará dobraram dos 100 para 200 óbitos em apenas 4 dias; Rio de Janeiro, Pernambuco e Maranhão, 6 dias. Mesmo estados que atingiram as 100 mortes depois que o Paraná chegaram às 200 antes: casos de Rio Grande do Sul (que teve o 100º óbito em 11/5 e 15 dias depois alcançou o 200º) e Minas Gerais (que registrou a 100ª morte no último dia 7 e, em 26 dias, já tinha contabilizado 289 óbitos).
“A projeção era que o Paraná dobraria seu número de óbitos a cada 20 dias. Segurou mais de uma semana a mais, o que é ótimo, indica uma contenção da curva. Numa avaliação de longo prazo, do início da pandemia até agora, o Paraná está em uma situação muita boa. O que preocupa é o curto prazo, esta última semana especificamente, e o que isso pode indicar para o futuro”, analisa o infectologista Bernardo Montesanti Machado de Almeida, do Serviço de Epidemiologia Hospitalar do Hospital de Clínicas de Curitiba.
Crescimento na última semana
Se até 27 de maio o número de mortes diárias manteve-se estável, os óbitos registrados a partir do dia 28 geram a preocupação atual. Sete óbitos foram registrados no dia 28; oito no dia 30 de maio e, também em 1º de junho; e nove na última terça-feira. Nesta quarta-feira, mais seis. Foram 36 mortes nos últimos sete dias – média diária superior a 5, e que só não foi maior porque no dia 31 de maio foi registrado apenas um óbito.
Para Almeida, as próximas semanas serão determinantes para a situação da pandemia no estado. “Nos próximos dias vamos saber se vamos estabilizar neste patamar um pouco mais alto, mas ainda suportado por nossas estruturas de saúde, ou se vamos manter uma tendência de crescimento, o que pode nos fazer entrar na situação de exponencialidade que outros estados enfrentaram”, afirma.
O médico alerta que se o Paraná entrar em uma curva muito rápida a partir de agora, corre o risco de sofrer tanto quanto os outros estados já sofreram ou vêm sofrendo com a doença, apenas em um momento posterior, “e já tendo sofrido, por mais de dois meses, as consequências do isolamento, que pode acabar sendo em vão”.
Citando o agravante da chegada do inverno, que naturalmente aumenta a circulação de vírus, o infectologista diz que o estado está correndo risco com a ampla abertura após as medidas de isolamento social impostas pelo governo e por prefeituras, mas aponta que somente os próximos números indicarão se a abertura foi num momento adequado ou foi precipitada. “Neste próximo mês, saberemos se todo o esforço que a gente fez até agora vai ser recompensado ou vai ser em vão”.
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