Monitores de respirador artificial em leito de UTI| Foto: BigStock
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Apesar de ter uma letalidade baixa, grupos de risco específicos e causar, em grande parte das pessoas contaminadas, sintomas que se assemelham a uma gripe ou resfriado, o coronavírus é um vírus com comportamento diferente dos demais e que pode comprometer os pulmões mesmo de pessoas que apresentem sintomas leves ou até de assintomáticos. A médica intensivista Mirella Oliveira, que comanda a Unidade de Terapia Intensiva do Complexo Hospitalar do Trabalhador, o centro de referência de Curitiba para os casos de Covid-19, contou à Gazeta do Povo que tomografias de pacientes leves da doença vêm apresentando alterações pulmonares significativas.

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“Do ponto de vista clínico e fisiopatológico, nunca vimos uma doença como essa. Sou intensivista há mais de 30 anos, atuei na epidemia do H1N1 e estamos diante de um vírus completamente diferente dos outros. O funcionamento dele é extremamente inteligente, e a doença muito interessante. Faz alterações pulmonares que nunca vimos antes em outra doença e, com características clínicas muito diferentes, ao ponto de um paciente assintomático, ou com sintomas mínimos apresentar uma tomografia de pulmão completamente alterada pelo vírus”, comentou a médica, que participou do Podcast Pequeno Expediente desta semana, em que relatou a rotina do hospital no atendimento à pandemia e expôs a situação do serviço de saúde quanto à disponibilidade de leitos, profissionais, aparelhos e equipamentos de proteção.

“É um vírus que pode ser silencioso, mas que mesmo no silêncio, ele faz alterações pulmonares importantes, faz coinfecções com outros vírus em número maior que os outros”, aponta, citando que, enquanto a média de associação dos demais vírus é de 5%, a do coronavírus chega a 25%. “Então, é uma doença intrigante, e é uma doença desconhecida, que tem desafiado a comunidade científica do mundo todo. Ainda bem que estamos numa sociedade globalizada e trocando informações com médicos e pesquisadores do mundo inteiro. Assim definimos o manejo da doença, mas ainda não temos respostas sobre medicamento ou vacina”, prosseguiu.

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Apesar de o vírus poder atingir os pulmões logo nos primeiros sintomas, a médica reforça que não adianta procurar os serviços de saúde com sintomas leves, pois não há cura para a doença. “Além do risco de colapso no sistema de saúde, se todos os pacientes procurarem os hospitais com sintomas leves, não teremos o que fazer. O tratamento, hoje, é 'suportivo'. É o suporte ventilatório adequado para o pulmão inflamado (com o uso de respirador) e a precaução com infecções secundárias. Assim, só deve procurar atendimento médico pacientes com febre alta e persistente e, principalmente, com falta de ar”, diz. Ela cita que ainda não há estudos sobre sequelas pulmonares em pacientes recuperados da doença.

Mirella Oliveira aproveita para esclarecer que, no hospital de referência do Paraná, não estão sendo administrados medicamentos como a cloroquina e a hidroxicloroquina, mesmo após a permissão do uso dessas substâncias pelo Conselho Federal de Medicina - o órgão considerou que era possível adotar esses remédios (utilizados há 40 anos para outras doenças), devido à excepcionalidade da pandemia, mesmo sem estudos clínicos específicos para a Covid-19, desde que prescritos pelo médico e aceitos pelo paciente.

"Não estamos utilizando cloroquina e nenhum outro tipo de tratamento em teste na literatura nacional ou internacional. Existem muitos ensaios clínicos em fase acelerada de andamento, porque o Conselho Nacional de Ética e Pesquisa está trabalhando dia e noite para que os pesquisadores possam responder rapidamente às perguntas relacionadas a que drogas estariam indicadas e seriam eficientes para o tratamento da doença. Não existe nenhuma droga ainda com estudo de literatura suficiente para ser recomendada. Nenhum antiviral, nenhum anticoagulante, muito menos a hidroxicloroquina. Nenhuma medicação que não está comprovada na literatura está sendo utilizada para os doentes internados no Hospital do Trabalhador”.

Casos, óbitos e medidas de isolamento

Na entrevista, a médica relatou que, até a última quarta-feira, o hospital recebeu pouco mais de 300 pacientes considerados casos suspeitos da Covid-19, dos quais 98 precisaram internar em UTI. Destes, 45 testaram positivo para a doença. Até a quarta-feira, o hospital havia registrado um óbito por Covid-19 e mais um óbito de paciente suspeita, mas que, posteriormente, o teste revelou-se negativo.

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A chefe da UTI de referência para Covid-19 em Curitiba disse que a situação da capital paranaense ainda é relativamente tranquila, em comparação com outros estados brasileiros, não havendo sobrecarga do sistema de saúde quanto a leitos, profissionais e, nem mesmo, equipamentos de proteção.

“O estado teve distanciamento social precoce, a contaminação comunitária, então foi mais lenta, e o estado está em uma situação muito melhor que a maioria dos estados, mas não dá para baixar a guarda, a doença tem algum tempo, um bom tempo pela frente. Deveremos ter sinais da pandemia até julho, mas estamos em situação privilegiada porque temos leitos, profissionais e equipamentos para atender a todos os nossos doentes, por enquanto”, diz, avaliando que, com o relaxamento do isolamento, observado nas últimas semanas, o número de casos deverá crescer.

“Mas é assim mesmo, temos que analisar se a curva vai acelerar muito ou não e, se for o caso, voltar atrás e até aumentar o isolamento. A ameaça ainda vai rondar e, por muito tempo. Cada estado e cada município tem que fazer sua própria avaliação sobre suas medidas de isolamento social. Temos que trabalhar no conceito de baby steps (passos de bebê) - pequenos passos que você pode ir dando e monitorando o impacto disso para saber se o próximo passo será para frente ou para trás”, conclui.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]