O salto expressivo nos números da Covid-19 no Paraná registrado no início do ano, chegando a quase 5,5 mil novos casos confirmados somente nesta quinta-feira (6), acende um sinal de alerta para uma possível nova onda da doença no estado. Os números de ocupação de leitos, por outro lado, não estão subindo na mesma proporção. Seria este um sinal de uma possível predominância da variante Ômicron – mais contagiosa, mas potencialmente menos perigosa – ou reflexo do alto índice de vacinação no estado?
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Os boletins divulgados diariamente pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) mostram que 5.492 novos casos de Covid-19 foram confirmados nesta quinta-feira (6) – 4.253 são referentes às últimas 24 horas. A última vez que este índice esteve tão alto foi em 18 de agosto de 2020: naquele dia a Sesa informou a confirmação de 7.040 novos casos.
Já a taxa de ocupação de leitos de UTI, um dos principais indicativos de gravidade da transmissão do coronavírus, nunca esteve tão baixa desde o início da pandemia. Nesta quinta-feira (6) havia registro de 153 leitos de UTI SUS ocupados no Paraná, uma taxa de ocupação de 36% – desde o início do mês a Sesa reduziu praticamente pela metade o número de leitos exclusivos disponíveis para o tratamento da doença. Só em abril de 2020 os números foram tão baixos.
Ômicron já seria cepa dominante no PR
A Sesa afirma que ainda não tem como afirmar que a nova cepa está circulando no estado. Amostras enviadas para sequenciamento na Fiocruz ainda não tiveram seus resultados divulgados. Porém, para o titular da pasta, Beto Preto, já é possível afirmar que esta nova variante seja a responsável pelo aumento recente nos casos.
“No Paraná nós ainda não temos um registro oficial da variante Ômicron. Porém, pelo modo de transmissão, pelo caráter rápido, inclusive atingindo vacinados mesmo que em um quadro mais leve, tudo leva a crer que nós já tenhamos no Paraná a variante Ômicron”, disse, em entrevista à RPC.
Essa característica de ser uma cepa que provoque casos menos graves de Covid-19 foi destacada também pelo epidemiologista Anthony Fauci, uma das principais autoridades do assunto nos Estados Unidos. Respondendo questionamento sobre um aumento no número de internação de crianças nos hospitais americanos, Fauci afirmou que “parece que a ômicron causa uma doença menos séria, mas o volume agudo de infecções devido a sua profunda contagiosidade significa que mais crianças acabarão infectadas”.
A mesma posição foi defendida pelo diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanon. Em uma coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (6) em Genebra, o diretor destacou a necessidade de haver uma melhor distribuição das doses de vacinas, principalmente nos países onde ainda há baixa cobertura vacinal. “Alpha, Beta, Gama, Delta e Ômicron são um reflexo das baixas taxas de vacinação em alguns países do mundo. Sem uma distribuição igualitária das doses, nós criamos as condições perfeitas para o surgimento de variantes do vírus”, declarou.
Variante Ômicron não pode ser considerada leve
Adhanom alertou para uma possível subnotificação, mesmo frente a um aumento expressivo no número de casos. Ele também afirmou que a nova onda de contágio provocada pela variante ômicron já está pressionando hospitais e sistemas de Saúde por todo o mundo.
“Apesar da Ômicron parecer ser uma variante menos severa nos casos de infecção em pessoas vacinadas, em comparação com a Delta, ela não deve ser classificada como ‘leve’. Assim como as variantes anteriores, a Ômicron segue levando pacientes a serem hospitalizados e também à morte. Na verdade, o tsunami de casos é tão grande e com uma transmissão tão rápida que já volta a pressionar os sistemas de saúde de vários países. Hospitais estão voltando a ficar superlotados e sofrem com a falta de profissionais. A primeira geração de vacinas pode até não impedir totalmente as infecções e a transmissão do vírus, mas elas seguem sendo altamente eficazes na redução dos casos graves que evoluem para hospitalização e a morte”, afirmou.
Para o médico cardiologista e professor da Escola de Medicina da PUCPR e do Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da universidade (Epicenter), José Rocha Faria Neto, o atual cenário de muitos casos e poucas hospitalizações é fruto de uma combinação de fatores. Além desta possível menor agressividade da nova cepa, ele também credita a estabilidade nas taxas de ocupação de leitos à efetividade das vacinas. O cenário, porém, tende a mudar nos próximos dias.
Alto índice de contaminações pode alterar rapidamente cenário em hospitais
“Uma coisa que é importante que se diga é que à medida que os números de casos aumentam muito, ainda que proporcionalmente um menor número de pacientes acabe internado ou morrendo, se este número absoluto for muito grande vamos sim ter um aumento nas hospitalizações. Isso ainda não está acontecendo, mas poderemos ter mudanças neste cenário. Pode não ser na mesma proporção de março e abril, o nosso pior período, mas se o número de casos confirmados seguir as projeções e confirmar esta tendência de alta, a gente vai acabar tendo um aumento nas hospitalizações e nos óbitos”, alertou o médico.
Para Faria Neto, já há sobrecarga no sistema de Saúde de Curitiba, principalmente nos sistemas de emergência. Mesmo que a alta procura não esteja se revertendo em internações, o atendimento a outras doenças pode ser prejudicado pelo fato de novos casos de Covid-19 estarem aumentando na cidade.
“Sempre vai ter um impacto, não há como imaginarmos que não vai ter um impacto. E não é porque não há um aumento na ocupação dos leitos de UTI que está tudo bem. Não podemos ver esse aumento de número de casos, resultado de uma variante possivelmente menos agressiva, como algo benigno. Isso causa impactos no sistema de Saúde e também impactos econômicos. As pessoas contaminadas precisam ser isoladas da mesma maneira. Isso quebra todas as cadeias de serviços. Alguns hospitais já estão sofrendo com a falta de profissionais para trabalhar porque essas pessoas estão contaminadas e precisam ser afastadas”, apontou.
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