Com a pandemia de coronavírus acelerando em algumas localidades e desacelerando em outras, o Brasil tem poucos alunos que voltaram a frequentar aulas presenciais. Mas as discussões em estados que já definiram o cronograma indicam que o Paraná, que ainda não instituiu uma data, vai adotar uma estratégia diferente. Em vários locais do Brasil, a primeira opção é o retorno da Educação Infantil – que contempla crianças de 0 a 5 anos – ou pelo menos que ocorra junto com as demais. O Comitê Volta às Aulas paranaense definiu em protocolo que os mais velhos serão os primeiros, tal como as cidades de Foz do Iguaçu, Cascavel, Toledo e Guarapuava estão fazendo.
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Em todos os casos, estão sendo previstos protocolos de higiene e de redução do número de alunos em sala, além da permissão para manutenção do ensino remoto. Pelo menos três grandes cidades do Brasil já fizeram o retorno para as crianças de 0 a 5 anos. Em Sinop (MT), a prefeitura permitiu o funcionamento de creches particulares desde maio, após instituição de protocolos de higiene, com a intenção de ofertar às famílias um lugar para deixar seus filhos enquanto trabalhassem. Em Manaus (AM), todas as etapas da rede particular retornaram com atividades presenciais em 6 de julho. Em São Luís (MA), a rede particular retomou o funcionamento no começo de agosto para todas as faixas etárias.
Nesta terça-feira (25), o governo do Rio Grande do Sul decidiu postergar para setembro a retomada das aulas, em vez de iniciar já na próxima segunda-feira, como anteriormente planejado. Por enquanto, a proposta governamental é permitir o retorno da Educação Infantil em primeiro lugar. O epidemiologista Wanderson Oliveira, ex-secretário nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, apresentou um estudo sobre evidências científicas do retorno das aulas pelo mundo, afirmando que países mais desenvolvidos priorizaram a retomada das aulas presenciais a partir das crianças do ensino infantil pelo menor risco de contrair Covid-19 ou desenvolver formas graves da doença.
Outros países menos desenvolvidos também já fizeram a reabertura de escolas, em uma iniciativa que contou com o apoio da Unicef. Apesar de um estudo recente apontar uma grande carga viral em um grupo de crianças hospitalizadas após infecção por coronavírus nos Estados Unidos, outros levantamentos feitos até então mostram que as crianças são menos suscetíveis ao vírus e transmitem menos a doença. Os impactos ainda estão sendo analisados.
Ao defender o retorno dos menores, o governador gaúcho, Eduardo Leite, apontou que isso é importante para a sustentabilidade financeira das pequenas escolas de Educação Infantil – se elas quebrarem, não haveria vagas suficientes na rede pública, observou – e também para as famílias que trabalham fora. “Acabam deixando com algum vizinho ou pessoas que se dispõem a cuidar das crianças por um valor, mas sem que haja estrutura para isso e sem que protocolos de segurança contra o coronavírus estejam sendo observados”, apontou. Ele disse ainda que o ensino remoto não funciona bem para essa faixa etária.
Na segunda-feira (24), uma conciliação no Tribunal Regional do Trabalho do Distrito Federal definiu que o retorno na rede particular vai ocorrer a partir de 21 de setembro, iniciando com a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I. Em São Paulo, a proposta do governo do estado é retorno em 7 de outubro para todas as etapas: da Educação Infantil ao Ensino Médio. No Rio de Janeiro, o retorno da rede particular será a partir de 14 de setembro. Nesse caso, a previsão é que o Ensino Médio retorne primeiro, mas as escolas de Educação Infantil terão uma reunião com deputados estaduais na próxima semana para tentar adiantar o cronograma. Em Pernambuco, por outro lado, já foi sinalizado que o Ensino Médio teria prioridade, mas ainda não há data definida, assim como na maioria dos estados.
O Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR) defendeu o retorno das escolas de Educação Infantil ainda nas fases agudas da pandemia, para atender famílias que trabalham fora e não tinham com quem deixar as crianças. “São os pequenos que mais estão sofrendo, têm maior dificuldade com o ensino remoto e também pela necessidade das famílias. A gente tem o conhecimento que estão em creches clandestinas, e isso nos deixa preocupados. Mas a Secretaria de Saúde [Sesa] optou primeiro pelos mais velhos. Colocamos a realidade que estamos vivendo, mas a secretaria que dá a palavra final”, afirmou a presidente do Sinepe/PR, Esther Cristina Pereira. Ela lamentou que desde abril a entidade não conseguiu um encontro direto com o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) para expor as dificuldades e necessidades do setor e dos estudantes.
Dados epidemiológicos embasarão retorno
Em Foz do Iguaçu e Cascavel, foi permitido o retorno do último ano do Ensino Médio e algumas turmas de graduação. Em Toledo e Guarapuava também já ocorrem aulas presenciais do ensino superior e pós-graduação. Mas o protocolo de retorno às aulas no Paraná ainda passará pelo crivo do Conselho Estadual de Educação. O Comitê Volta às Aulas é formado por representantes do governo, de órgãos de controle e instituições de classe. A Sesa é que vai dar a palavra final a respeito da data, a partir de dados epidemiológicos.
Por enquanto, as poucas cidades brasileiras que retornaram com aulas presenciais da rede particular não recuaram na reabertura. Em Sinop, que manteve creches abertas desde maio – fechando durante um período de 15 dias pelo toque de recolher instituído no Mato Grosso – a avaliação foi positiva. A cidade tem 143 mil habitantes e aparece com 3.270 casos e 78 óbitos. As escolas particulares de Ensino Fundamental e Médio reabriram em julho. "Os casos estão decrescentes, apesar das escolas abertas. Estamos programando o retorno da rede pública para o mês que vem”, afirmou Priscila Camargo Garcia, especialista em microbiologia e uma das responsáveis pelo planejamento na cidade.
Na unidade local da rede Maple Bear, por exemplo, a turma com maior taxa de retorno foi a de 2 anos, chegando a 90%, disse o franqueado Danicler Bavaresco. “No geral, 80% dos alunos retornaram, os demais estão recebendo conteúdo e material e fazendo as aulas via sistema ensino a distância implantado”, afirmou. Segundo Bavaresco, não houve casos de Covid-19 entre os profissionais da unidade, que passaram por treinamentos. “Já houve confirmações da doença em familiares de alunos, mas os pais seguiram os protocolos de não trazer a criança ainda quando da suspeita ou quando do contato da criança com alguém infectado”, informou.
O gestor explicou que são seguidos protocolos de higiene e segurança e que, para atender crianças pequenas, são desenvolvidas formas alternativas de acolhimento. “O choro de cada criança é único e cada acolhimento ocorre de forma diferente, de acordo com o motivo causador, o que não ocorre mais é o acolhimento no colo onde o rosto da professora fica próximo do rosto do aluno”, relatou.
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