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Equipes da Polícia Federal brasileira em Cidade do Leste, para auxiliar nas investigações.
Equipes da Polícia Federal brasileira em Cidade do Leste, para auxiliar nas investigações.| Foto: Divulgação/Polícia Federal

A prisão de um brasileiro de 42 anos na última quinta-feira (15) pela Polícia Nacional do Paraguai foi o capítulo mais recente do crime cometido no país vizinho e que desafia os órgãos de investigação. O brasileiro preso é suspeito de ser um dos principais articuladores do assalto estimado em US$ 15 milhões (valor próximo a R$ 75 milhões), somando dólares e barras de ouro. O crime ocorreu entre os dias 3 e 4 de fevereiro no Paraguai.

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O roubo foi registrado na Associação dos Cambistas de Cidade do Leste, principal centro comercial do Paraguai, na fronteira com o Brasil pela cidade de Foz do Iguaçu (PR).

O brasileiro preso nesta semana estava em um município na fronteira com o Mato Grosso do Sul, distante mais de 200 quilômetros de Cidade do Leste, escondido em uma área de mata. Ele é apontado pelas investigações como um dos responsáveis pela arquitetura da escavação de um túnel de cerca de 180 metros, mas passa longe de ter agido sozinho. Não houve registro de outras prisões até o fim da sexta-feira (16).

As investigações ocorrem em parceria entre a Polícia Federal (PF) brasileira e a Polícia Nacional do Paraguai, considerando que praticamente todo a quadrilha, que segundo a apuração preliminar passaria de 10 pessoas, é composta por pessoas do Brasil.

As polícias trabalham com a possibilidade de participação de dois grupos criminosos que se uniram para a empreitada, que é comparada a um roteiro de cinema.

Do planejamento à execução: mais de um ano de preparação

O estabelecimento comercial de onde partiu o túnel rumo à Associação dos Cambistas foi alugado por uma mulher gaúcha que usou documentos falsos, mas com foto verdadeira, ainda no fim de 2022.

O primeiro entrave às investigações está no fato de ela ter uma irmã gêmea idêntica. Apesar de ambas terem passagens de crimes na polícia, a exemplo de outros membros da família, a polícia tenta identificar qual delas teve envolvimento com a locação do imóvel. Além desta mulher, há mais pessoas do Rio Grande do Sul suspeitas de fazer parte de uma organização criminosa chamada de Bala na Cara, que neste caso operaria como parceira do Primeiro Comando da Capital (PCC), o grande mentor do roubo cometido no Paraguai.

A apuração policial também trabalha para responder se o crime foi determinado pela facção em si ou praticado por integrantes dela que agiram de forma autônoma.

Abaixo, veja imagens do túnel escavado pela quadrilha, que teria integrantes do PCC, para executar o roubo milionário no Paraguai:

Alarme disparou várias vezes por meses, mas nada foi encontrado

Os trabalhos da quadrilha para identificação do terreno, da região e a arquitetura para construção do túnel teriam iniciado no fim de 2022. Desde então, o bando se dedicou à escavação e ao monitoramento da vizinhança.

Não há relatos nem registros de vizinhos ou estabelecimentos próximos que tenham notado movimentação estranha durante este período.

Chama a atenção nas investigações que por algumas vezes durante o ano passado o alarme do Banco de Desenvolvimento do Paraguai, próximo à associação onde foi realizado o assalto, disparou. A polícia chegou a ser acionada, mas em nenhuma das vezes identificou algo de suspeito.

Imagens de câmeras de monitoramento em locais próximos estão sendo analisadas na tentativa de montar o quebra-cabeça. Até o momento, pouco se extraiu delas.

Metodologia do roubo: 148 cofres e poucas vítimas se manifestando

As apurações indicam que o grupo agiu com calma e foi meticuloso durante um fim de semana inteiro. O roubo foi iniciado no último dia 3 e concluído no dia seguinte, porém só foi descoberto na segunda-feira (5).

Naquele fim de semana, a quadrilha abriu praticamente todos os 148 cofres que continham dinheiro vivo, em dólar, e ouro, segundo a apuração preliminar da polícia. Estima-se que cada cofre pertenceria a uma pessoa diferente, mas não há identificações de registro na associação. Interessados procuravam o estabelecimento e alugavam o cofre, sem precisar prestar informações detalhadas. Até esta semana, apenas três vítimas haviam prestado declarações aos órgãos de controle fiscais do Paraguai.

A reportagem da Gazeta do Povo apurou junto a fontes ligadas à investigação que os recursos roubados no Paraguai devem ter entrado no Brasil. Entre as hipóteses para utilização dos recursos está o financiamento ao crime organizado. A rota e a forma de transporte estão sendo apuradas.

Uma van usada para carregar o produto do roubo na associação em Cidade do Leste foi localizada pela Polícia Nacional do Paraguai queimada na região de Guaíra (PR), cidade localizada na fronteira com o Paraguai, distante a cerca de 200 quilômetros do local do crime. Impressões digitais encontradas no veículo sendo analisadas pela Polícia Federal brasileira.

Grupo morou em Cidade do Leste por mais de um ano

Ainda no fim de 2022, os criminosos alugaram um segundo imóvel: um apartamento que serviu de base operacional para os envolvidos que passaram a residir ali, indicando um possível revezamento de grupos de trabalho. Dias antes do roubo, um terceiro imóvel foi locado nas imediações da Associação dos Cambistas, com o objetivo de monitorar o movimento no entorno.

As investigações apontam ainda que o grupo criminoso tem alto poder aquisitivo e tinha conhecimento prévio do volume de recursos disponíveis nos cofres, diante do investimento feito para a concretização do plano.

A polícia afirma que só a construção do túnel deve ter exigido um alto investimento: além de extenso, foi construído com o uso de ferramentas elétricas específicas para escavação e utensílios manuais, com o auxílio de dutos de ar facilitando a respiração de quem estivesse debaixo da terra.

Brasil empresta scanner 3D e radar de solo para investigação contra o crime organizado no Paraguai

Na semana após o roubo, o Comando Tripartite - que reúne forças de segurança do Brasil, Paraguai e Argentina - foi acionado para apoiar na investigação. Foi criado um gabinete de investigação para organizar as equipes policiais.

“A PF vem apoiando as investigações com a presença de peritos e papiloscopistas na produção de provas técnicas. Além disso, há a disponibilização de equipamentos, troca de informações e a realização de diligências no país, já que há indícios da participação de brasileiros na execução do assalto”, informou a força de segurança brasileira.

Entre os equipamentos disponibilizados está um scanner 3D e um radar de solo, utilizados em trabalhos de geofísica que determinam o trajeto do túnel e possíveis ramificações, além da construção de um modelo tridimensional da estrutura construída pelos criminosos para acessar a sala em que estavam os cofres, de acordo com informações da PF.

“A integração entre as polícias do Brasil e Paraguai, através do Comando Tripartite, possui casos de sucesso na elucidação de diversos crimes, como foi o roubo da empresa de transporte de valores no Paraguai”, considerou a PF.

O roubo mencionado pelo órgão foi realizado contra a Prosegur em abril de 2017. Ao menos 40 assaltantes, brasileiros e paraguaios, invadiram a empresa de transporte de valores em Cidade do Leste e levaram cerca de US$ 11,7 milhões, o que continua caracterizando este como o maior roubo da história do país vizinho, pois oficialmente ainda não há informações detalhadas do montante levado no crime registrado contra a Associação dos Cambistas no início deste mês.

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