A recente suspensão do abate de bovinos no frigorífico Big Boi, em Paiçandu, no noroeste do Paraná, trouxe à tona a crise pela qual passa a indústria da carne no estado. Embora a empresa não tenha confirmado a paralisação, fontes do setor informam que a unidade passará a atuar temporariamente apenas como uma distribuidora. Com isso, 800 funcionários teriam sido dispensados.
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Um dos motivos que teria levado o frigorífico a interromper as atividades é um problema comum a todas as indústrias do setor no Paraná: a dificuldade de acesso à matéria-prima (o boi). “Antes de o Paraná ser declarado área livre de febre aftosa, grande parte dos animais abatidos no estado vinham do Mato Grosso do Sul. Agora não podemos mais trazer de lá até que eles alcancem o mesmo status sanitário que o nosso”, explica Ângelo Setim, presidente do Sindicato da Indústria da Carne do Paraná (Sindicarne).
“Em relação à questão sanitária não há o que fazer. Não podemos trazer animais de outros estados. Por isso, estamos pedindo algumas compensações ao governo”, informa Setim. Na última sexta-feira (20), o Sindicarne protocolou no gabinete da Casa Civil um ofício com solicitações.
A principal delas é o não pagamento do Fundo de Recuperação e Estabilização Fiscal do Paraná (Funrep). O fundo foi instituído pelo governo do Estado em 2020 “com a finalidade de atenuar os efeitos decorrentes de recessões econômicas ou desequilíbrios fiscais e de prover recursos para situações de calamidade pública no Estado do Paraná”. A cobrança sobre o setor vem sendo adiada, por pressão dos empresários, mas agora está prevista para começar em março.
“Se tal cobrança realmente vier a ocorrer, poderá significar um golpe fatal para muitas empresas do setor no Paraná”, alerta o documento encaminhado ao governo. “Essa cobrança vai gerar um custo de produção adicional de cerca de 4%”, diz Setim. Segundo ele, as indústrias não têm como absorver esse custo e repassar ao consumidor também não seria adequado porque as pessoas reduziriam ainda mais o consumo de carne. “Nosso pedido é para que as proteínas de origem animal saiam dessa lista de contribuições ao Funrep por se tratar de produtos da cesta básica”, pontua.
O Sindicarne pede também programas de incentivo à criação bovina no Paraná, com estímulo por parte do governo para a introdução da atividade em pequenas propriedades.
“Precisamos ampliar a produção de bezerros para compensar a proibição de trazer os animais do Mato Grosso do Sul”, defende o presidente do Sindicarne. Embora alguns pecuaristas que se dediquem à criação de bezerros, no Paraná é mais comum a fase de engorda. “Os pecuaristas trazem os animais jovens de outros estados para fazer a terminação e o abate aqui. E o Mato Grosso do Sul era o principal fornecedor. Agora precisamos criar esses animais em propriedades paranaenses.
Outra opção seria é trazer os bezerros de Rondônia e Acre, estados que já conquistaram o mesmo status sanitário do Paraná, mas a longa distância encarece o transporte, inviabilizando a operação.
Cargas podem vir lacradas, esclarece governo
Em resposta ao ofício encaminhado pelo Sindicarne, o governo do Paraná esclarece que "nunca foi proibida a entrada de boi de abate no Estado". E explica: "Instrução normativa do Ministério da Agricultura permite que o Paraná, mesmo sendo livre de aftosa sem vacinação, traga animais com cargas lacradas de qualquer parte do Brasil para abastecer os seus abates e seus frigoríficos".
O governo observa que "o estado ser livre de febre aftosa não afeta negativamente o setor, muito pelo contrário. Há, inclusive, um grande esforço para habilitação de novos mercados a partir da suspensão definitiva da vacinação contra a febre aftosa, conquistada em maio de 2021".
Além disso, o governo do Estado se colocou à disposição do setor para "dialogar e implantar medidas que impulsionem a pecuária paranaense. "O Estado tem tudo para ser um grande produtor de carne bovina". A resposta do governo não faz menção ao pedido do setor de ser isento do pagamento do Funrep.
No documento, o governo lamenta o fechamento da unidade industrial de abate na cidade de Paiçandu, mas ressalta que fará o que for possível para reverter a situação. "Geração de emprego e renda é prioridade do governo, que não medirá esforços para garantir o bem-estar da população local".
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