Cruzeiro do Oeste é, provavelmente, muito mais conhecida pelos turistas como uma cidade de passagem entre Maringá e Umuarama do que, de fato, um destino. O discreto município paranaense, de pouco mais de 21 mil habitantes e com uma arrecadação de ICMS na casa dos R$ 7,6 milhões – apenas 0,02% da arrecadação estadual –, depende basicamente da agricultura (leite, cana-de-açúcar e carne) para sobreviver. O turismo é quase inexistente.
Ou era, até um dinossauro cruzar seu caminho. Com a recente descoberta por ali do primeiro animal 100% paranaense desta espécie, o município quer fortalecer sua vocação turística no melhor estilo “parque dos dinossauros”. Para isso, o Museu e Laboratório de Paleontologia do município passou por uma reforma. Foi reinaugurado no dia 19 de julho, com mais espaço e atrações.
Instalado em um antigo fórum da cidade, o museu tem agora 500 metros quadrados. Claro, a grande estrela é o Vespersaurus paranaenses. “Acreditamos que o turismo vai aumentar [na cidade]. Estamos com um consultor técnico fazendo medidas e estudos de custos para expor [no futuro] uma réplica do dinossauro [além dos fósseis originais]”, explica Neurides Martins, historiadora e diretora do museu.
Com a Capela da Imaculada Conceição, uma igreja de madeira construída nos anos 1950 e recentemente restaurada, e o Museu Dr. Carlos dos Anjos, dedicado a guardar a história do município, Cruzeiro do Oeste pode se firmar como um destino de visitas para interessados em patrimônio histórico, arqueológico e cultural. Mesmo como cidade pequena. “Nós temos condições de receber turistas. Peirópolis [cidade no interior de Minas Gerais] tem cerca de 800 pessoas e, lá, eles fizeram um museu. Aqui nós temos hotéis, restaurantes, lanchonetes, serviços.”
Tal estrutura já é usada por pesquisadores e alunos interessados em estudar os peixes do Rio Paraná e o sítio arqueológico da região. O anúncio do dinossauro, aliás, já impulsionou o potencial turístico da região. A diretora do museu afirma que escolas de ensinos básico e médio da região estão marcando visitas.
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E há muito mais a ver no museu de Cruzeiro do Oeste. Além do dinossauro, os cientistas da região têm uma coleção de fósseis de pterossauros, répteis voadores que habitaram a Terra há mais de 65 milhões de anos. Embora gozem de menos status, os pterossauros são mais raros no Brasil, explica Neurides Martins. “No país, você só tem em Cruzeiro do Oeste e na Chapada do Araripe (Ceará). Dinossauros, não. Você encontra no Rio Grande do Sul, em toda a região do interior de São Paulo, em parte de Minas Gerais e no Araripe”, exemplifica.
Um sítio em desenvolvimento
A história arqueológica de Cruzeiro do Oeste começou na década de 1970. Em 1977, foram registradas as primeiras pegadas de dinossauros na região. Porém, o município, muito jovem na época, não teve condições de continuar um trabalho de pesquisa e o estudo científico ficou décadas em stand-by, até ser retomado em 2011. “Foi quando reiniciou este trabalho com os fósseis. Cruzeiro do Oeste tem só 67 anos. Naquela época [fim do século passado] não tínhamos profissionais da área”, diz.
Também se duvidava da existência de fósseis na região por conta das características desérticas de seu passado.
Em 2015, o município montou seu laboratório paleontológico, que virou museu um pouco mais tarde. Neurides sempre esteve à frente do trabalho. “Em 2017 eu estava trabalhando na preparação de fósseis [quando se retira blocos de rochas para estudar em laboratórios]. Percebi que tinha fósseis de pterossauros e, junto, identifiquei material de dinossauros”, relembra a estudiosa.
Foi o começo da descoberta mais importante do município. A profissional alerta que mais pode estar por vir. “Temos expectativas de encontrar outros sítios na região Noroeste, não só este”, diz.
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