Pelos números, Curitiba tem condições de mudar da bandeira laranja para amarela, com menos restrições ao comércio. Porém o cenário futuro, com pessoas circulando em viagens no feriado de carnaval e a possibilidade da chegada das mutações mais transmissíveis do coronavírus ligam o sinal de alerta na capital.
“Estamos em um equilíbrio entre o número de casos de Covid-19 e os leitos disponíveis que permitiria a mudança para a bandeira laranja. Mas o contexto pode impactar nesse cenário, voltando a sobrecarregar rapidamente o sistema de saúde. Por isso, temos que seguir no sentido preventivo para não entrarmos em uma curva enlouquecedora como foi em Manaus”, explica o diretor do Centro de Epidemiologia da prefeitura de Curitiba, o médico Alcides de Oliveira.
O colapso no sistema de saúde na capital amazonense – com falta de leitos e oxigênio – ocorreu justamente pela liberação de medidas restritivas no momento em que a mutação mais transmissível surgiu. Em dezembro, metade das infecções por Covid-19 em Manaus já era com a mutação do vírus, número que alcançou quase a totalidade até aqui em janeiro, com 85,4% dos casos. Ou seja, rapidamente a nova cepa se tornou dominante em Manaus, situação que deve ser repetir em todo o Brasil conforme a variante for se espalhando.
Além da variante descoberta na capital do Amazonas, outras duas cepas mais transmissíveis botaram as autoridades sanitárias do mundo todo em alerta: a do Reino Unido, que também já se tornou a dominante em algumas regiões do país, e da África do Sul. Para impedir a chegada dessas novas variantes, o governo federal proibiu voos vindos do Reino Unido em dezembro e da África do Sul a partir da última quarta-feira (26).
Terça-feira (26), três pacientes no estado de São Paulo foram diagnosticados com a variante mais transmissível do vírus de Manaus. O que ligou definitivamente o alerta não só em Curitiba, mas em todo o Paraná, que já havia pulicado segunda-feira (25) norma orientativa das novas variantes a todos os hospitais do estado.
“É inevitável que essa nova cepa se espalhe pelo país. Então temos que tentar retardar isso o máximo possível para que o sistema de saúde não volte a ficar sobrecarregado”, enfatiza o diretor do Centro de Epidemiologia de Curitiba.
Semana passada, a Secretaria Municipal de Saúde encaminhou exames de nove pacientes que vieram de Manaus para Curitiba para serem sequenciados geneticamente no laboratório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. O objetivo é verificar se esses pacientes, que já testaram positivo para Covid-19, foram infectados com a nova variante, o que provaria que a versão mais transmissível do coronavírus já circula pela cidade.
Estabilidade
Curitiba está neste momento em estabilidade na pandemia, sem elevação ou queda sensível de casos. Entretanto, tanto o número de casos, quanto o de mortes seguem muito altos. As novas infecções caíram praticamente pela metade no pico da retomada da pandemia em novembro para janeiro, indo de aproximadamente mil infecções diárias para cerca de 500 por dia.
“Mesmo com essa estabilidade, não estamos em uma situação confortável. Não dá para garantir que em poucas semanas os casos voltem a subir rapidamente. É tudo muito incerto”, avalia Oliveira. “Por isso, é imprescindível todos continuarmos com as medidas se prevenção, usando máscara, mantendo o distanciamento social e higienizando as mãos”, reforça o diretor do Centro de Epidemiologia.
O chefe da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o professor de Bioquímica e Biologia Molecular Emanuel Maltempi, lembra ainda que o número de casos ativos, de pessoas que podem transmitir o coronavírus, segue muito alto também.
“A situação inspira cuidados. São aproximadamente 8 mil casos ativos, o que indica que ainda temos muita gente doente. A média de casos diários também é alta. Enquanto a média móvel não baixar de 100, estaremos longe de uma situação confortável”, aponta.
Quarta-feira, Curitiba registrou 455 novos casos e 11 mortes por Covid-19. Desde o início da pandemia, a cidade soma 126 mil pacientes infectados e 2,5 mil mortes.
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